Nonato Guedes
Anuncia-se para hoje à noite uma transmissão, em rede social, com a participação do ex-governador Ricardo Coutinho, da sua atual esposa, a ex-secretária Amanda Rodrigues e do deputado federal Gervásio Maia. Através de postagem em suas redes sociais, Ricardo Coutinho prometeu: “Conversaremos sobre João Pessoa, desafios e possíveis soluções para a nossa Capital”. O que a opinião pública espera, sobretudo da parte de Ricardo, é o anúncio de explicações convincentes sobre denúncias que recaem sobre ele quanto à participação em quadrilha acusada de desviar recursos da Saúde e Educação quando de sua passagem pela administração da Paraíba.
Há expectativa, também, sobre definição mais clara do projeto de poder do PSB, partido que Coutinho controla no Estado, principalmente no que diz respeito ao seu papel nas eleições municipais deste ano, com foco preferencial em João Pessoa. Até aqui, Amanda Rodrigues, que nunca disputou mandatos políticos e foi secretária da Fazenda do Estado na Era Ricardo, tem sido mencionada como presumível pré-candidata dos “girassóis” à sucessão do prefeito Luciano Cartaxo. Incentivada por Ricardo, ela tem mesmo participado de “lives” em que responde sobre questões relacionadas com os desafios prementes da população pessoense. Mas Gervásio também foi citado como possível pré-candidato pelo presidente nacional do partido, Carlos Siqueira. E Ricardo, mesmo não assumindo publicamente a condição de pré-candidato, é igualmente referenciado.
Informações de bastidores dão conta de que o PSB enfrenta um processo de esfacelamento de quadros no Estado e de desmobilização da sua militância na Capital, principal reduto da trajetória política do expoente maior da agremiação, o ex-governador Ricardo Coutinho, que se elegeu prefeito em 2004 e foi reeleito em 2008, renunciando para concorrer em 2010 ao governo do Estado, quando foi vitorioso. Sem o engajamento da militância, será extremamente difícil para o Partido Socialista retomar espaços de influência em disputas eleitorais como a deste ano. Desde que deixou o poder estadual, Ricardo alimentou indiretamente a perspectiva de vir a concorrer novamente à prefeitura pessoense, mas tem sido inapelavelmente bombardeado por fatos desgastantes. Só recentemente se livrou do uso obrigatório de tornozeleira eletrônica, que além do desconforto físico fere eticamente a sua imagem como líder íntegro, que construiu com a ajuda de aliados.
Como implicado na Operação Calvário, entretanto, Ricardo coleciona dissabores, sendo aqui e acolá surpreendido por um bloqueio de bens, por alguma sanção relativa a seu patrimônio ou pelo dever de oferecer esclarecimentos à Justiça sobre fatos delituosos em que é mencionado no bojo de depoimentos ou de delações premiadas. O ex-governador não se preocupou até o momento em produzir libelo demolidor de acusações ou insinuações que lhe são atribuídas, apegando-se a ilações sobre suposta orquestração política destinada a tentar destruí-lo ou sobre suposta fragilidade de provas documentais que o incriminem. Enfim, desenvolve a “teoria conspiratória” que tem sido comum a líderes políticos, a partir do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, com quem tem afinidades. No que tange ao projeto de poder do PSB e à candidatura a prefeito de João Pessoa precisa ser mais explícito, mais direto, mais transparente, até como forma de demonstrar respeito pela opinião pública.
Houve um tempo, já na fase de tratativas envolvendo as eleições municipais deste ano à prefeitura de João Pessoa, que o próprio Partido dos Trabalhadores em João Pessoa admitiu apoio a uma suposta candidatura de Ricardo ao Centro Administrativo Municipal, como parte de estratégia de fortalecimento da denominada “frente democrática”, aglutinando legendas de esquerda. Não durou muito a especulação, logo retirada de pauta para se adequar à orientação maior do “pajé” Lula da Silva para o lançamento de candidaturas próprias do petismo no maior número de localidades brasileiras, principalmente nas Capitais. Em João Pessoa, o diretório municipal petista apressou-se em optar pela candidatura do deputado Anísiio Maia, que aguarda reforços para poder decolar com mais respaldo ou lastro num cenário imprevisível para analistas políticos e atípico por causa da pandemia do novo coronavírus.
Não há justificativa plausível para a falta de transparência e de explicações por parte dos líderes do PSB paraibano em torno de um conjunto de fatos que abalam profundamente a imagem da agremiação a que foi filiado o falecido governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Sem ensaiar um “mea culpa”, que implica num pedido de desculpas à sociedade paraibana, Ricardo Coutinho e os girassóis paraibanos não irão muito longe nem se credenciam a reconquistar a confiança e o prestígio que detiveram em quadra que vai ficando remota na conjuntura institucional do nosso Estado. A hora da verdade é agora!