Nonato Guedes
No jogo pela sua sucessão à prefeitura de João Pessoa, Luciano Cartaxo demonstra vocação para seguir seu próprio estilo, avesso a grandes alvoroços e a propostas de formação de frentes políticas-ideológicas. Presidente estadual do Partido Verde, legenda onde se abancou depois de ser eleito pelo PT em 2012 e passear pelo PSD quando este foi dirigido no Estado pelo falecido deputado Rômulo Gouveia, Cartaxo passa a impressão de estar acomodado diante de uma disputa que pode vir a tomar ares de radicalização, inclusive com ataques frontais às duas gestões que tem empalmado e que se concluirão a 31 de dezembro. Aliados mais próximos garantem que a impressão de acomodação é apenas isso – impressão, assegurando que, nos bastidores, Luciano e seu grupo compõem ativas estratégias capazes de alavancar a pré-candidatura da ex-secretária Edilma Freire, a ungida por ele para ser representante do “projeto de continuidade”.
Há quem mencione que Cartaxo foi mais ousado no passado recente – quando em 2006, estando no PT, aceitou ser vice de José Maranhão, candidato do PMDB ao governo do Estado, contra Cássio Cunha Lima, do PSDB, o eleito. Maranhão e Luciano foram chamados pela Justiça Eleitoral em 2009 para completar o mandato que Cássio vinha cumprindo e que fora interrompido com a cassação deferida pelo TSE, acatando denúncias de conduta vedada e suposta infração administrativa. Mas logo em 2010, quando Maranhão preparou-se novamente para disputar a reeleição, Cartaxo não foi o companheiro de chapa e, sim, Rodrigo Soares, que ascendera à presidência estadual do Partido dos Trabalhadores. JM foi derrotado por Ricardo Coutinho, líder emergente que se projetara no comando da prefeitura da Capital.
Ousadia maior de Luciano foi mesmo na eleição a prefeito de João Pessoa em 2012, quando se aliou a Luciano Agra, ex-ricardista de carteirinha, e a Nonato Bandeira, outro expoente dos “girassóis”, para triunfar perante condestáveis da política como o ex-senador Cícero Lucena e o próprio Maranhão e contra a candidata sacramentada pelo então governador Ricardo Coutinho, a jornalista Estelizabel Bezerra, que não teve chances, sequer, de passar para o segundo turno. Os movimentos políticos de Cartaxo em 2012 significaram um divisor de águas no quadro político local, cujos desdobramentos se cristalizaram na sequência. Foram importantes para Cartaxo não se tornar refém de esquemas quaisquer e procurar o seu próprio “quadrado”, ocupando um papel de liderança que o credenciasse a também ter espaço. A colheita favoreceu-lhe em 2016, quando tentou a reeleição, e já aí incorporou aliança eventual com Cássio Cunha Lima, que então era senador. Bateu Cida Ramos, candidata de Ricardo, em primeiro turno, inapelavelmente.
No intercurso da trajetória houve a eleição estadual de 2018. Luciano era, por todos os títulos, candidato de oposição ao esquema de Ricardo Coutinho no embate pelo governo do Estado, mas quando a undécima hora se aproximava ele optou por permanecer no comando da prefeitura da Capital, atirando à liça o irmão gêmeo Lucélio, numa composição com o prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues, ligado a Cássio, que lançou a própria mulher, doutora Micheline Rodrigues, para vice. A parada, como se sabe, foi decidida em favor de João Azevêdo, no primeiro turno, numa época em que Ricardo Coutinho ainda era senhor de baraço e cutelo, líder que dava as cartas e parecia incólume, até aparecerem os sinais de uma certa Operação Calvário, que tem sido um verdadeiro pesadelo, para a própria Paraíba.
Pode-se inferir, de tudo isso, que sem grande alvoroço nem grandes badalações, Luciano Cartaxo tem “escapado” por entre revezes pontuais que o atingiram, como em 2006 junto com Maranhão, e em 2014 e 2018 com seu irmão Lucélio disputando o Senado e o governo do Estado sem chances de êxito. Há, é óbvio, teorizações sobre projetos políticos futuros ou mesmo pretensões arraigadas de Luciano para até lá. Mas todas as atenções estão voltadas para o desempenho do prefeito na corrida eleitoral deste ano à sua própria sucessão em João Pessoa. Edilma não é uma candidata de impacto (será sua estreia no ambiente político) e foi dito pelo próprio alcaide que à frente da Pasta da Educação no município ela empreendeu uma “revolução invisível”, o que vai demandar esforço redobrado para massificar sua imagem no páreo e, por via de consequência, fazer repercutir esse tal trabalho oculto que tanto sensibiliza o gestor da antiga Felipéia de Nossa Senhora das Neves. Em termos partidários, além do PV, a candidata tem reforço do Pros e PRB, a que outras legendas podem se somar. E conta com o engajamento de membros da Câmara Municipal e aspirantes a uma vaga naquela Casa.
Distante das polarizações ideológicas que costumam gerar Fla x Flus em redes sociais, o prefeito Luciano Cartaxo atém-se ao pragmatismo. Ele sinaliza aposta em favorecimento colateral advindo da confusão que permeia o quadro para as eleições de novembro na Capital a dados de hoje, com um dos prováveis favoritos, Cícero Lucena, tendo contas pendentes que carecem de apreciação, e outro presumido favorito, o ex-governador Ricardo Coutinho, enroscado nos grilhões da Calvário, uma operação que parece não ter fim. Luciano deve imaginar que sua candidata terá chances por ser sobrevivente de um vendaval que, para piorar, convive com a epidemia do coronavírus. O tempo dirá se Cartaxo tem a razão ao seu lado quando investe no “imponderável”, categoria em que os analistas situam a candidatura da professora Edilma na atualidade.