Nonato Guedes
Mesmo numa campanha eleitoral atípica como a que se ensaia para as eleições municipais de novembro, em virtude de restrições derivadas da pandemia do coronavírus, a importância ou não dos debates entre candidatos, sobretudo em meios de comunicação como a televisão e, agora, as redes sociais, continua a provocar polêmica, sobretudo entre os chamados marqueteiros, encarregados de “trabalhar” a imagem de postulantes por quem são contratados ou com quem têm afinidade. A crônica política brasileira registra casos de candidatos que não foram a debates, ganharam o estigma de “fujões” e perderam feio nas urnas. No contraponto, houve casos de postulantes que se ausentaram até em momentos aparentemente decisivos e, contrariando prognósticos, acabaram se elegendo. Certamente estavam no papel de “teflon”, aquele estágio em que nenhuma maldição “cola” num candidato se estiver escrito que ele é o favorito para triunfar.
A participação ou não em debates está longe, portanto, de ser uma questão consensual entre os profissionais de marketing e analistas da mídia em geral. O maior especialista brasileiro no assunto do marketing político, o baiano Duda Mendonça, já aconselhou candidatos para quem trabalhava a correrem riscos e partirem para o confronto com adversários. De outra forma, foi peremptório ao recomendar que clientes ilustres desistissem de debates quando alguma zona de sombra cercava a performance deles em etapas do processo eleitoral. Duda, que andou tendo o filme queimado após denúncias de recebimento de propinas do PT, que ele confessou, ainda é referenciado pelas observações sobre estratégias de marketing. E enfeixou situações de impacto ou repercussão num livro intitulado “Casos & Coisas”, bíblia de cabeceira, para o bem ou para o mal, de interessados na matéria e na atividade política.
Um detalhe interessante é que Duda Mendonça – a despeito de opiniões pessoais contraditórias sobre participação ou não em debates – chegou a sugerir a obrigatoriedade deles em todas as campanhas majoritárias, durante palestra que fez na Câmara Federal em Brasília. O publicitário baiano aventou que fossem promovidos dois debates no primeiro turno e dois no segundo, em horário nobre, com todas as emissoras de rádio e televisão transmitindo em cadeia. É claro que tal proposta se referia, especificamente, à campanha presidencial, que é a que desperta mais interesse por envolver os problemas nacionais. “Se isso fosse feito, o povo brasileiro teria muito mais informações acerca dos candidatos, o que certamente muito lhe ajudaria na hora da escolha”, argumentou Duda Mendonça a respeito.
Além do mais, para o marqueteiro baiano, o debate é o espaço de campanha onde o poder econômico influencia menos. “Ali é o momento onde todos os candidatos estão mais próximos da igualdade”, teorizou Duda Mendonça, sem deixar de notar que, não obstante, o que mais vai contar mesmo, no resultado final de uma eleição, é o jeito, o carisma, a sinceridade, o preparo e a capacidade de comunicação de cada um. Em outras palavras: a empatia que o candidato pode vir a criar com o eleitor de uma forma tão intensa que reverte em votos. Ou, pelo menos, rebaixa a rejeição ao postulante, se ela for bem expressiva. A propósito: no seu livro, Duda contou uma situação que achou engraçada, envolvendo um sujeito nordestino, do tipo extrovertido, bem falante, presente num dos grupos que estava assistindo a um debate de campanha para a prefeitura de São Paulo. Em determinado momento, o cidadão não se conteve e reagiu: “Oxente, num entendi nada do que esse hômi falou…”
Imediatamente, todo o grupo concordou com ele. “Acontece que aquela fala do meu candidato abordava um tema importante. Tanto que outros grupos de discussão acusaram a mesma coisa. E a verdade é que o candidato havia realmente se atrapalhado na resposta. Em cima do lance, a informação foi passada para mim, que a repassei para o meu candidato. Logo em seguida, ele achou uma oportunidade e voltou ao assunto dizendo: “Tem uma resposta que eu dei e não sei se fui muito claro.Gostaria de aproveitar esse tempo que me sobra para explicar novamente…” E, dessa vez, deu a explicação de forma clara e correta. A quilômetros dali, no grupo, o sujeito não acreditou no que ouvia e, não contendo a sua surpresa, disse: “Parece que ele ouviu o que eu falei, esse hômi tem parte com o cão”. Todo o grupo sorriu da “coincidência”. Mal sabia o meu amigo que, de uma forma muito esquisita, na verdade, o que ele falou, realmente, chegou aos ouvidos do meu candidato – e sem que o cão, posso garantir, tivesse qualquer participação nisso”, relata Duda Mendonça.
A verdade é que se o Guia Eleitoral parece chato, monótono, desinteressante, e costuma registrar elevado número de aparelhos (de rádio ou televisão) desligados, os debates ainda prendem a atenção, sobretudo quando se tornam acalorados, bastante acirrados, entre postulantes, fazendo parecer que o bicho “vai pegar” entre eles. É a adrenalina do eleitor, a emoção contagiante nos confrontos, que torna as campanhas mais atrativas, possibilitando certa representatividade que partidos e candidatos lutam para alcançar nas urnas, quando da hora da verdade.