Nonato Guedes
Renato Rovai é jornalista, mestre em Comunicação pela ECA/USP e doutor pela UFABC. Mantém o Blog do Rovai e é editor de Fórum, um site eletrônico que tem conquistado adeptos pela linha noticiosa independente, com espaço para a pluralidade de opiniões e informações acerca da conjuntura no país e no mundo. É dele o ensaio sobre a derrota histórica que a esquerda pode sofrer nas eleições municipais deste ano. A hipótese da derrota é analisada no bojo da desunião dos segmentos do chamado campo progressista, abrindo-se infinitas janelas de oportunidade para a ascensão do bolsonarismo como projeto de poder.
Reproduzo o artigo de Renato Rovai, pelo caráter pedagógico que tem nas discussões que já estão sendo travadas acerca da significação do pleito vindouro e pela reflexão que pode ensejar da parte dos que estão disponíveis para o debate, não para a camisa-de-força: “A análise de 9,5 entre 10 militantes de esquerda é a de que Bolsonaro é fascista. Alguns falam a palavra com a boca bem cheia para que não haja dúvidas. Ou seja, há consenso sobre o nome que se dá à doença democrática que o país vive. Mas na hora de discutir o tratamento, cada um recorre à sua poção mágica. O nível de consenso na construção de frentes progressistas para buscar derrotar candidatos vinculados ao bolsonarismo (ou seja, ao projeto fascista) é insignificante”.
“Mesmo em capitais onde houve avanços, como em Porto Alegre, o PSOL não apoiará Manoela D’Avila e terá candidatura própria. Mas por que essas eleições de 2020 precisariam ser discutidas numa chave mais séria do que “preciso fortalecer o meu partido?”. Porque seus resultados podem dar a Bolsonaro uma legitimidade e uma quantidade de aliados muito maior para fazer avançar seu projeto original, que é o de atropelar as instituições, fechando conselhos, tirando autoridade de reitores e intervindo em universidades, ampliando a militarização da educação, nomeando ministros do STF extremistas com apoio do Senado, processando jornalistas e perseguindo veículos. Se Bolsonaro sair mais forte após 15 de novembro, ele vai capturar o que resta do tal centro para o seu projeto autoritário”.
“Prefeitos que se elegeram com ele e deputados que elegeram prefeitos por conta do apoio dele, não lhe negarão apoio para a marcha contra os “inimigos” do seu projeto e já lhe erguerão nos braços rumo a 2026. Evidente que o campo progressista terá muita dificuldade na disputa contra o bolsonarismo mesmo em frentes amplas ou mais à esquerda. O vento no momento bate a favor del capo. Mas é possível fazer oposição de forma mais inteligente se as peças disponíveis no tabuleiro forem mexidas sem personalismos e a partir de um olhar mais coletivo. É possível derrotar o bolsonarismo se a esquerda conseguir levar uns 7 ou 8 candidatos com chances nas capitais para o segundo turno, o que permitiria negociar com partidos que ainda não subiram no colo do bolsonarismo e que têm interesse em enfraquecê-lo uma troca de apoios num segundo turno”.
Diz Renato Rovai ainda: “Se a esquerda tiverque decidir entre Bruno Covas e Celso Russomano num segundo turno ou entre Eduardo Paes e Marcelo Crivella, para que lados a decisão penderá na opinião do caro leitor? Pois é. A decisão pode ser pior se os partidos progressistas não tiverem nem contrapartida a pedir ao DEM e ao PSDB em Porto Alegre, Salvador, Recife, Belo Horizonte, etc. A eleição é local, mas a estratégia de disputa não pode ser local. Ela tem que ser vinculada aos melhores caminhos para no mínimo empatar com o bolsonarismo. Sim, o empate às vezes é uma vitória. Se o time adversário tem melhores condições não é inteligente jogar completamente no ataque. É preciso armar o jogo de maneira cuidadosa pensando em adiar a decisão para ver se algo novo não acontece”.
O editor de “Fórum” preconiza que se o campo progressista conseguir impedir uma vitória consagradora de Bolsonaro, a crise que pode se tornar avassaladora em 2021 pode vir a torná-lo um candidato fraco para 2022. “É este o jogo que precisa ser armado agora. É preciso sobreviver ao atual tsunami elegendo uma importante quantidade de prefeitos e vereadores que estarão ao lado do povo e da democracia para aproveitar as oportunidades que podem surgir. Não é hora de lançar candidatos pensando em coeficiente eleitoral ou em apresentá-los para numa futura disputa serem mais conhecidos. Isso é de uma imensa irresponsabilidade que pode nos levar a um futuro dramático. Não se faz oposição olhando apenas para o umbigo. É mais do que chegada a hora de nossas lideranças caírem na real ou podem ter de amargurar um 2021 ainda pior do que o 2020 do ponto de vista político”, arremata o jornalista.
É um ensaio oportuno para ser lido, comentado e debatido por quem tem juízo e os pés na realidade!