Nonato Guedes
A ministra Damares Alves, da Mulher, Família e Direitos Humanos, volta e meia aparece na mídia com a cabeça a prêmio devido a atitudes e declarações polêmicas à frente da Pasta – ainda nesta semana, assessores dela foram apontados pelo Ministério Público como suspeitos por vazamento de informações sobre a menina de dez anos que realizou procedimento abortivo após ser abusada sexualmente pelo tio por quatro anos. A insinuação contra Damares não foi além e ela se mantém prestigiada no governo do presidente Jair Bolsonaro. É uma ministra obediente, dócil – faz um gênero que agrada ao ex-capitão. Um dado curioso em relação á ministra é que o deputado federal paraibano Julian Lemos (PSL) foi um dos patronos da indicação do nome de Damares, pastora evangélica, de posições nitidamente conservadoras. Lemos, atualmente, está desalinhado com o Planalto por divergências com filhos de Bolsonaro e com o próprio presidente, mas não deixa de votar a favor de matérias do governo, como fez, agora, no polêmico veto a reajustes salariais para servidores públicos.
No livro “Tormenta – O governo Bolsonaro: crises, intrigas e segredos”, a jornalista Thaís Oyama relata que ainda na transição para a posse de Bolsonaro o hoje deputado Julian Lemos, naquele tempo ligado ao grupo Direita Paraíba, sugeriu para a pasta o nome de Damares, a quem conhecera em 2015 em João Pessoa quando ela era assessora do então senador Magno Malta (ex-PR, que virou PL), não reeleito em 2018. A favor da candidata, Lemos argumentou junto a Bolsonaro que “Damares, além de boa, tem uma filha índia”. No início dos anos 2000, a pastora adotou informalmente uma menina da tribo kamayurá. Flávio Bolsonaro já havia endossado o nome de Damares, mas, depois da vitória do ex-capitão, a pastora ganhou outro apoio importante no clã presidencial: a primeira-dama, a também evangélica Michelle, que a conhecera quando ambas eram funcionárias do Congresso.
Julian Lemos, na campanha de 2018, tornou-se homem de confiança de Bolsonaro – assessor, conselheiro e segurança. Mais tarde, assumiu a coordenação da campanha no Nordeste, e foi aí, segundo Taís Oyama, que começaram os conflitos com o filho do ex-capitão, Carlos, vereador pelo Rio de Janeiro, que o acusou de “sempre aparecer atrás dele (Bolsonaro)” em fotos e imagens de TV. Na mesma época – informa Thaís – um dossiê surgido misteriosamente denunciava Lemos como protagonista de episódios de violência doméstica. Mais tarde, já com Bolsonaro eleito, chegaram aos ouvidos do presidente informações de que Lemos vinha pressionando ministros para nomear aliados seus no governo, o que ele negou. O fato concreto é que as relações entre o presidente e seu ex-colaborador de primeira hora esfriaram.
Fontes políticas em Brasília revelam que Damares ganhou definitivamente a confiança do “clã” Bolsonaro – e não raro é convidada para eventos familiares no Palácio Alvorada. Da lista dos primeiros nomes da equipe de primeiro escalão do presidente eleito em 2018, a pastora é um dos poucos a sobreviver, em alta. Como se sabe, já caíram ministros como Sergio Moro, Ricardo Vélez e Abraham Weintraub, Gustavo Bebbianno (falecido) e Henrique Mandetta, além de expoentes de órgãos como a direção geral da Polícia Federal. Damares, que é tida como “matreira” politicamente, deu-se bem porque reproduz fielmente falas do presidente, ainda que sejam politicamente incorretas e segue diretrizes que estão adaptadas à cartilha anti-esquerdista que é apregoada reiteradamente pelo presidente Jair Bolsonaro, em reuniões oficiais ou durante solenidades em eventos com públicos diversificados.
Em relação ao deputado Julian Lemos, ele ficou cada vez mais isolado em relação ao governo quando o presidente Bolsonaro se desfiliou dos quadros do PSL, estando até hoje sem partido, já que o Aliança pelo Brasil, que o ex-capitão idealizou, não evoluiu substancialmente. Lemos não chegou a assumir rompimento formal com o governo – e argumentou, mesmo, que foi um crítico ativo do Partido dos Trabalhadores e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e que continua professando ideias de direita. Não invoca influência nem cacife junto ao Planalto – sobretudo quanto à indicação de ocupantes de cargos públicos. Em termos locais, Julian Lemos tem sido cogitado como provável candidato a prefeito de João Pessoa pelo PSL e chegou a dar declarações admitindo a hipótese e identidade com a cidade. Na prática, a suposta candidatura ainda não avançou, mas oficialmente é esperada uma posição do parlamentar sobre a conjuntura eleitoral na Capital.