Nonato Guedes
O prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PV), que está concluindo o segundo mandato, está sendo desafiado por fatos novos do processo político-eleitoral a articular, com urgência, um esquema efetivamente capaz de vencer a parada à sua sucessão, no embate remarcado para 15 de novembro. A aliança entre o Cidadania do governador João Azevêdo e o PP do grupo Ribeiro em torno da candidatura de Cícero Lucena à prefeitura da Capital deu à disputa ares de competitividade que até então não eram notados, apesar do recorde de pré-candidatos em diferentes partidos que compõem o arco reinante no Estado. O pacto Azevêdo-Lucena não era descartado, mas não constava, necessariamente, da lógica do processo eleitoral em gestação. Celebrado de força fulminante, pôs em xeque não apenas o grupo político de Cartaxo como o PT e o bloco que segue o ex-governador Ricardo Coutinho (PSB).
É na direção de Ricardo, que não o tratou bem enquanto governador, e do PT, que nunca o perdoou por ter sido eleito pela primeira vez pela sigla, trocando-a pelo PSD, que se movimentam Cartaxo e seu grupo, guiados por puro pragmatismo político-eleitoral, já que não há afinidade de ideias ou de propostas sobre como gerir a Capital paraibana. Do PT interessam a Cartaxo o barulho da militância, se esta for motivada a dar as caras no processo, a possível injeção de recursos do fundo partidário e um aval qualquer do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em Ricardo, Luciano corteja a suposta liderança residual que o mentor dos “girassóis” ainda detém, aparentemente, junto a parcelas da opinião pública e, de quebra, a gana de revanche que Coutinho teria de aplicar no sucessor João Azevêdo já no primeiro prélio pós-2018. Pelo script de Cartaxo, tais forças convergiriam para o leito da pré-candidatura da ex-secretária de Educação, Edilma Freire, do PV.
Alega-se entre partidários de Cartaxo que a formação de uma “frente ampla” contra o governo do Estado constitui o fio condutor para reuni-lo ao PT e a Ricardo. Afinal, em 2014, Luciano e Coutinho estiveram juntos no projeto para tentar eleger Lucélio, irmão gêmeo do prefeito, à vaga de senador que acabou sendo abocanhada pelo emedebista José Maranhão, e para derrotar Cássio Cunha Lima ao governo do Estado. É certo que em 2018 o pêndulo foi invertido, com Cássio e Luciano somando forças para tentar eleger Lucélio governador, o que não aconteceu. Também não aconteceu de Cunha Lima reeleger-se ao Senado, sendo tragado na corrida pela parceira de aliança Daniella Ribeiro, do PP, onde Cícero ingressou para ser candidato este ano a prefeito da Capital. Ou seja, já houve tantas idas e vindas que uma a mais, ou a menos, não chocaria parcelas do eleitorado. Políticos pensam assim.
Além da questão da sobrevivência no cenário político paraibano, o prefeito Luciano Cartaxo vale-se de uma estratégia para voltar ao berço do agrupamento de esquerda, de onde foi ejetado quando deixou o PT optando pelo PSD e, na sequência, pelo PV. Ricardo e o PT ainda são tidos como expoentes da esquerda, pouco importam o mensalão nacional e a Calvário tupiniquim. Forças de direita ou centro-direita seriam Azevêdo, que está alojado no Cidadania, e Cícero, que já foi tucano e circula com desenvoltura pelo PP, partido vinculado, na Câmara Federal, ao “Centrão”. O leitor pode perguntar se o enredo teoricamente perseguido por Cartaxo já foi combinado com o eleitor – e a resposta é não. Mas, depois que Cícero se juntou a João, que estava com Ricardo quando este denunciou a Operação Confraria, a leitura corrente nos meios políticos é a de que tudo é permitido no jogo das composições, exceto a coerência.
Seja como for, cabe perguntar o que o atual prefeito de João Pessoa tem a oferecer a petistas e ricardistas se estes apoiarem a professora Edilma à prefeitura nas eleições de novembro. Seguramente apenas a perspectiva de rolo compressor para derrotar o esquema João Azevêdo-Cícero Lucena, ou, simplificando, a aliança Cidadania-PP, com desdobramentos para 2022. Esse quinhão é suficiente para agregar o ex-governador Ricardo e o PT à trajetória destinada a dar sobrevida ao “clã” Cartaxo? Há quem duvide, diante de dois fatores que saltam à vista: ambições latentes em jogo e restrições a uma candidatura de Edilma como representante de forças de esquerda na Capital da Paraíba, já que ela nunca foi militante política e está chegando agora no jogo como aparentada do clã que controla a prefeitura. Por último, mas não menos importante – muito pelo contrário – duvida-se entre líderes de esquerda que Edilma seja o nome adequado para empalmar um projeto de poder tão arriscado, com variáveis de desdobramento. Nesse caso, haveria que examinar outro nome catalisador, não necessariamente do PV.
Não falta quem suponha que Cartaxo joga com a possível inelegibilidade de Ricardo Coutinho à eleição de 2020 por causa dos efeitos da Operação Calvário e, em outra frente, com a pouca densidade que a pré-candidatura do deputado Anísio Maia parece ensejar, dentro e fora das hostes do Partido dos Trabalhadores, o que talvez sensibilizasse o pragmático ex-presidente Lula. Nisso tudo, o que resta claro é que Cartaxo talvez tenha demorado demais para cogitar táticas de sobrevida política. Mas, como política é dinâmica, pode ser que Ricardo, Anísio e Cartaxo se acertem em torno do nome de…Edilma. Ainda que seja uma coreografia arriscada, que pode redundar em abraço de afogados no prélio eleitoral. É a visão do cenário, a dados de hoje.