Nonato Guedes
A disputa pela prefeitura de João Pessoa nas eleições de 15 de novembro, que registra recorde de candidaturas (são pelo menos dezesseis anunciadas), esquentou nos últimos dias com a declaração de apoio do governador João Azevêdo e seu partido, o Cidadania, ao nome do ex-senador e ex-prefeito Cícero Lucena, pré-candidato pelo Partido Progressistas (PP). Houve reações virulentas, da parte, por exemplo, do deputado federal Ruy Carneiro, pré-candidato pelo PSDB, que foi chefe da Casa Civil na segunda administração de Cícero na Capital, a partir de 2001. Ruy acusou Cícero de “tomar o caminho da perdição” ao se aliar “aos líderes do maior escândalo de corrupção da Paraíba, aqueles que o denunciaram no passado”. Para Ruy, foi o grupo que agora apoia Cícero que no passado o denunciou na Operação Confraria, “levando-o a receber ordem de prisão e às páginas policiais”.
Já o prefeito Luciano Cartaxo (PV), que lançou o nome da ex-secretária de Educação Edilma Freire como sua pré-candidata, questionou a capacidade de transferência de votos do governador João Azevêdo para outros candidatos, lembrando que nas eleições de 2018 ele foi “receptor de votos”, numa alusão a apoios recebidos, entre os quais o do ex-governador Ricardo Coutinho (PSB). O governador justificou a aliança com base no trabalho para a recuperação da Capital paraibana, principalmente no período pós-pandemia do novo coronavírus, mediante uma gestão entrosada com o Executivo estadual. Azevêdo afirmou que João Pessoa paga um preço muito alto por falta de alinhamento de prefeitos com governadores, mencionando como exemplos o Parque Parahyba e a Estação Cabo Branco, esta em fase de abandono.
O ex-senador Cícero Lucena agradeceu ao governador João Azevêdo a confiança e o apoio à sua postulação, dizendo estar feliz com a manifestação. Lucena, que já governou João Pessoa por duas vezes, previu, na perspectiva de sua eleição, uma comunhão de propósitos e objetivos em favor da população entre ele e o chefe do Executivo estadual. Acrescentou que, se eleito, fará uma gestão moderna, competente e humanizada. “Se Deus permitir, faremos algo que vai servir de exemplo para a Paraíba”, comentou. João Azevêdo deixou claro que a aliança política-eleitoral celebrada com o Progressistas em João Pessoa “é uma aliança sem intriga, sem ódio, sem revanchismo, focada no trabalho”. E ao abordar a tecla da omissão da atual administração municipal em obras que seriam de sua atribuição, desabafou: “Chega de mesquinhez, de política pequena”.
O Cidadania ficou de indicar, num prazo de dez dias, o nome do candidato a vice-prefeito, oriundo de seus quadros, na chapa encabeçada por Cícero Lucena. A indicação é de responsabilidade do governador João Azevêdo, como enfatizou Ronaldo Guerra, presidente do diretório estadual do partido. Por sua vez, o vereador Bruno Farias, presidente do diretório municipal, que vinha postulando indicação como candidato próprio a prefeito, já recuou da ideia e passou a trabalhar para compor a chapa como candidato a vice de Cícero Lucena, revelando que em qualquer hipótese estará engajado à campanha dele, em clima de comunhão com companheiros de partido e com a liderança do governador João Azevêdo.
A aliança entre o partido do governador e o pré-candidato Cícero Lucena, do PP, levou o prefeito Luciano Cartaxo a admitir conversações com o Partido dos Trabalhadores e com o Partido Socialista Brasileiro, liderado pelo ex-governador Ricardo Coutinho. No PT foi lançada por unanimidade a candidatura própria do deputado estadual Anísio Maia, que tem tido o apoio da cúpula nacional e da direção municipal em João Pessoa. No PSB, até então estava colocada em pauta a pré-candidatura da ex-secretária Amanda Rodrigues, esposa do ex-governador Ricardo Coutinho.
Nos últimos dias, porém, ganhou destaque a hipótese de lançamento do próprio Ricardo Coutinho, que teria indiscutivelmente maior capilaridade para disputar, pela terceira vez, a prefeitura de João Pessoa. A hipótese foi reforçada depois que o ministro Og Fernandes, relator de recurso ordinário que pedia decretação da inelegibilidade de Ricardo, votou no sentido de que ele é elegível. O recurso foi impetrado no TSE pela coligação A Vontade do Povo, encabeçada pelo então candidato ao governo da Paraíba, Cássio Cunha Lima (PSDB). O julgamento foi suspenso dado pedido de vistas do ministro Luís Felipe Salomão. Og Fernandes admitiu a existência de conduta vedada na contratação de 2.016 servidores públicos nas eleições de 2014, mas entendeu que a punição cabível seria a cassação do diploma de Ricardo e de sua vice à época, Lígia Feliciano. Como os mandatos de ambos já terminaram, Fernandes se posicionou pela aplicação de multa anteriormente fixada pelo Tribunal Regional Eleitoral a Lígia, no valor de R$ 5 mil, enquanto opinou por aplicação de multa maior, estimada em R$ 30 mil, a Ricardo Coutinho.