Nonato Guedes
Morreu, sem choro nem vela, o G11, um grupo parlamentar que deu algum trabalho ao governo João Azevêdo, infligindo-lhe derrotas em algumas matérias essenciais, mas que nunca logrou conquistar o principal objetivo por trás da sua formação: abrir canal privilegiado de interlocução com o Palácio da Redenção em torno de pleitos de interesse de deputados. O anúncio do fim do agrupamento que começou como G9 partiu do deputado Tião Gomes, Avante. Entre os próprios integrantes do bloco admite-se que, na prática, o G11 já vinha perdendo força e se anulou de vez com a morte recente do deputado Genival Matias, também do Avante, que tinha habilidade tanto para negociar como para fazer oposição quando necessário. G9 e G11 eram remanescentes da Era Ricardo Coutinho, que no poder maltratava e destratava os políticos.
Dadas as condições de temperatura e pressão que regem o cenário político paraibano há quem considere que o fim do G11 é apenas um detalhe porque o grande fato novo é a desenvoltura com que o governador João Azevêdo avança no comando de uma estratégia política focada na ocupação de espaços, rompido o cordão umbilical que aparentemente o ligava ao ex-governador Ricardo Coutinho. Calcula-se que a maioria pró-governo de João Azevêdo na Assembleia Legislativa ronde os 26 sufrágios, numa contabilidade de 36 votantes. É uma vantagem e tanto, para um governador tratado como absolutamente neófito na política. Azevêdo tem sido rápido no gatilho. Começou a construir um partido, o Cidadania; jogou a grande cartada na Capital ao declarar apoio á candidatura de Cícero Lucena, ex-tucano, e agora se livra de uma ameaça recorrente: o fantasma da oposição no Legislativo Estadual, pelo menos da parte de deputados que não eram necessariamente governistas nem necessariamente oposicionistas.
Para fechar o firo, dizem aliados do governador, sem esconder uma certa postura triunfalista, falta apenas balancear o mapa das eleições de novembro nos 223 municípios do Estado com vitórias importantes em redutos estratégicos. As eleições serão para prefeitos e vereadores, mas constituirão a ponta de lança para acumulação e arrumação de forças com vistas ao fatídico 2022, quando João Azevêdo, sem ter mais o fungado de Ricardo Coutinho no cangote, se testará na reeleição de braços dados com novas companhias, teoricamente mais palatáveis ao olfato do chefe do Executivo. Assessores mais íntimos do governador têm chamado a atenção de jornalistas – ora para o “projeto de João”, ora para o “fenômeno João”, quer na administração, quer na política.
A desenvoltura do governador, faça-se justiça, tem tido um empurrãozinho de fatores aleatórios ou incidentais, como, por exemplo, a desmobilização política causada pela pandemia do novo coronavírus, que gerou uma certa acomodação em meio a conselhos de autoridades sanitárias para que fossem respeitados o isolamento social e a não-aglomeração. Um outro fator foi a desgraça em que se meteu o condomínio político liderado pelo ex-governador Ricardo Coutinho, do qual Azevêdo fez parte. O condomínio, cada vez mais restrito, tem tido aborrecimentos frequentes com a Justiça, diante de vestígios de denúncias que escapam das bordas da Operação Calvário. Há instabilidade latente, flagrante, no antigo jardim dos girassóis paraibanos, e o humor do próprio ex-governador Coutinho varia de acordo com as notícias que escoam no café da manhã, todos os dias.
Azevêdo, com assessoramento de figuras experimentadas no jogo político, vai avançando à medida que descobre nichos de penetração ou de infiltração, receptivos, portanto, a uma investida para efeito de alinhamento à sua liderança. Como o cenário está muito tumultuado, de tal forma que, às vezes, parece ser de vaca desconhecer bezerro, o dono da caneta oficial do Estado vai se movendo na cooptação gradual de quadros ávidos por composição ou mesmo por comando. E tem tido resultados, em algumas ocasiões sem precisar fazer muito esforço. Tem tido sorte, fazendo crer que segue indicações recomendadas por Napoleão a candidatos a líderes. Mas não apenas isso. O governador tem demonstrado habilidade no uso da caneta e na tática de aliciamento de quadros órfãos ou desgarrados de qualquer outro comando. Há partidos esfacelados, como o PSDB, outros imobilizados no crescimento como o PV e o DEM e mais outros que não têm atrativo nenhum ou perspectiva alguma de poder a oferecer. Azevêdo vale-se da sagacidade não apenas para marcar presença – mas, sobretudo, para conquistar e ocupar espaços.
O resultado da colheita deverá ser conferido mesmo, para valer, em 2022, quando disputas mais importantes estarão em jogo, e estará em jogo a própria sobrevivência de João Azevêdo no rol de lideranças políticas emergentes da Paraíba. No que diz respeito ao G11, vale destacar que nutria-se da carência de atenção por parte do poder público e logrou se impor, teoricamente, pela possibilidade que tinha de desequilibrar votações, em proveito ou para desconforto do governo. Esgotado esse ciclo, ainda que objetivos maiores não tenham sido obtidos, o bloco perdeu finalidade. E tende, mesmo, a ser engolido pelo governo, com os instrumentos de sedução que este oferece, como encantador de serpentes.