Nonato Guedes
Em declarações, ontem, ao programa “Intrometidos”, ancorado pelos jornalistas Helder Moura e Marcelo José, o ex-senador Cássio Cunha Lima (PSDB) avaliou como “tardio” o reconhecimento, pelo ministro Og Fernandes, do TSE, de atos configurados como abusos de poder praticados pelo então governador Ricardo Coutinho (PSB) na campanha à reeleição em 2014. E confessou, de público, seu arrependimento por ter feito aliança política com Ricardo na campanha de 2010, quando este se elegeu ao governo do Estado pela primeira vez e Cássio foi eleito senador. “Fui enganado como milhares de paraibanos, que não conheciam profundamente o ‘presidiário’ Ricardo Coutinho nem tinham noção do cinismo com que ele se portava à frente do poder público”, desabafou Cunha Lima.
Ao pronunciar seu voto, na sessão de ontem do Tribunal Superior Eleitoral, que analisava recurso ordinário contra Ricardo por uso eleitoreiro do programa “Empreender” na campanha de 2014, o relator Og Fernandes votou pela pena de inelegibilidade de Ricardo por oito anos a contar do período da eleição. O ministro considerou que houve prática de abuso de poder e conduta vedada naquela campanha, mas o julgamento ficou inconcluso devido ao pedido de vistas do ministro Luís Felipe Salomão. A “Aije do Empreender” foi movida pela coligação “A Vontade do Povo”, encabeçada por Cássio Cunha Lima. Ricardo não sofreu punição maior no âmbito do Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba, que lhe aplicou apenas multa. Para Cássio, que mesmo com o rolo compressor venceu o primeiro turno da eleição de 2014, a postura do TRE da Paraíba no caso ainda hoje provoca indignação.
Ele lembrou que quando foi cassado em 2009, à frente do seu segundo mandato no governo do Estado, o julgamento pelo Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba aconteceu com rapidez impressionante, sendo concluído em quarenta minutos. E Cássio reitera que não havia argumentação sólida que o incriminasse a ponto de ser decretada a cassação do seu mandato. Diferentemente disso, conforme ele, há provas robustas que incriminam o ex-governador Ricardo Coutinho em relação ao abuso de poder, mas a morosidade do Judiciário foi tamanha que possibilitou ao socialista concluir integralmente o segundo mandato. A verdade se tornou mais nítida, de acordo com Cássio, com o desenrolar das investigações da Operação Calvário, sobre desvio de recursos da Saúde e da Educação, concluído o segundo mandato de Ricardo Coutinho.
O ex-senador afirma que o julgamento tardio das denúncias contra abuso de poder de Ricardo Coutinho na campanha pela reeleição em 2014 possibilitou ao socialista avançar impunemente com práticas deletérias à frente do governo da Paraíba, o que está sendo revelado nos desdobramentos das investigações do Ministério Público em torno da Operação Calvário, envolvendo, além do ex-governador, inúmeros ex-auxiliares seus que ocuparam cargos de projeção e posições de mando na estrutura de poder então vigente. Cássio Cunha Lima foi taxativo ao dizer que não exime o próprio atual governador João Azevêdo de participação no que chamou de “esquema criminoso” ou de “máfia”, liderada pelo ex-governador Ricardo Coutinho.
Para Cunha Lima, o alegado rompimento político entre o governador João Azevêdo e o ex-governador Ricardo Coutinho não existe na prática. “É um rompimento fajuto”, assinalou, observando que um exemplo da suposta cumplicidade entre João Azevêdo e Ricardo Coutinho foi a manutenção de praticamente cem por cento dos secretários remanescentes da gestão anterior na nova administração instalada na Paraíba a partir de janeiro de 2019. Cássio Cunha Lima chegou a pontuar que “quem mudou secretários no governo de João Azevêdo foi o Gaeco”, numa referência ao Grupo Especial que atua como força-tarefa do Ministério Público em investigações de irregularidades administrativas. O ex-senador do PSDB salienta que, embora votos como o do ministro Og Fernandes não reparem direitos que foram usurpados ao próprio povo, eles servem para desmascarar “fake news” que vinham sendo espalhados sobre episódios ocorridos na história política-administrativa do Estado. “De minha parte, estou cada vez mais com a consciência absolutamente tranquila, apesar, naturalmente, da indignação com tudo isto que está vindo à tona”, concluiu o ex-senador Cássio Cunha Lima.