Nonato Guedes
O presidente Jair Bolsonaro não tem apreço por partidos políticos, cuja única serventia, para ele, é a de lhe proporcionarem respaldo para sobreviver no cenário nacional, uma espécie de RG obrigatório para continuar no jogo do poder. Tanto é assim que desde novembro de 2019, quando saiu do PSL, o mandatário continua sem partido e já avisou a aliados que vai esperar a definição do sucessor de Rodrigo Maia (DEM-RJ) no comando da Câmara para deflagrar articulações sobre ingressar numa legenda. De acordo com o site “Congresso em Foco”, o período vai servir, também, para uma avaliação por Bolsonaro da reorganização das forças partidárias após as eleições municipais e a definição do comando na Câmara.
Bolsonaro deixou o PSL, pelo qual concorreu à presidência da República derrotando Fernando Haddad, do PT, em 2018, após um processo de disputa interna, uma verdadeira queda-de-braço, com o presidente da sigla, Luciano Bivar, cujas origens são de Pernambuco. Como pano de fundo da luta pelo controle da legenda, pipocaram denúncias sobre lançamento de candidaturas-laranjas. Na prática, Bolsonaro nunca se interessou em criar laços partidários no PSL, que foi para ele o que o PRN significou para Fernando Collor de Mello em 1989 – uma espécie de legenda de aluguel. Após sair do PSL, o presidente cogitou ter um partido à sua imagem e semelhança e investiu na formação do Aliança pelo Brasil, que não decolou, sequer, a tempo de marcar presença nas eleições municipais deste ano em Capitais importantes.
Do ponto de vista legal o presidente não precisa ter um partido para chamar de seu, podendo ficar descolado até meados de 2021 se estiver disposto, mesmo, a concorrer a um segundo mandato, que é o que mais lhe importa na conjuntura presente. Não obstante os atritos com o PSL, Bolsonaro se reaproximou do partido nos últimos dois meses e sinalizou que não descarta um retorno. Outras opções avaliadas são o PTB, já citado por ele durante live, o Patriota, e até manter as articulações para fundar o Aliança pelo Brasil, que se encontram na estaca zero. Sabe-se que na última quarta-feira o presidente reuniu deputados do PSL que se mantêm aliados seus e teria discutido a revisão das sanções impostas a eles pelo partido. Luciano Bivar, há duas semanas, revelou que a suspensão de pelo menos 17 deputados pode ser reexaminada, mas evitou comentar um possível retorno do filiado mais ilustre ao partido.
Um dos participantes da reunião vazou para o “Congresso em Foco” que o futuro partidário do capitão não vai ser definido antes de fevereiro de 2021, quando o próximo presidente da Câmara dos Deputados estiver escolhido. Luciano Bivar, tentando dar clareza às versões sobre o assunto, explicou que o que há é que um grupo de deputados da ala bolsonarista o está procurando, pedindo que haja um revisionamento na punição, que se extingue em janeiro. Na prática, ocorreria a antecipação do reexame, facilitando-se a vida dos filiados sub judice, que precisam tocar a vida e elaborar projetos alternativos de sobrevivência. No “pacote”, entretanto, não estaria incluída a assimilação do retorno de Bolsonaro, de forma triunfal, como se não tivesse acontecido nada, embora o presidente tenha feito referências desairosas tanto ao PSL quanto a Luciano Bivar e outros dirigentes da agremiação.
É claro que Jair Bolsonaro tornou-se um líder político cortejado, a despeito da forma errática com que conduz o seu governo e do estilo beligerante com que trata gregos e troianos. Bolsonaro chama a atenção ou desperta interesse devido à popularidade que detém, e que voltou a subir em meio a medidas assistencialistas que ele tem adotado em plena pandemia do novo coronavírus, entre as quais o chamado auxílio emergencial, encarado como um presente dos céus por segmentos da sociedade que perderam empregos e renda ou a perspectiva de inserção no mercado de trabalho por causa do fechamento de oportunidades motivado pela paralisação imposta ao comércio e a outros setores, como efeito colateral das medidas de prevenção ao coronavírus.
O incremento da popularidade de Bolsonaro foi notado, inclusive, no Nordeste, que parecia estar se consolidando como reduto hegemônico do Partido dos Trabalhadores, conforme avaliações traçadas em cima dos números atribuídos ao candidato Fernando Haddad, alter-ego do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de 2018. O índice de popularidade do presidente, preservado apesar da postura negacionista que ele adotou em relação à pandemia do coronav[írus, alertou as forças políticas em geral, preocupando seriamente os expoentes da esquerda ou da oposição partidária ao seu governo e acendendo uma luz entre supostos aliados até então desalinhados, em vias de migrarem para outros eixos do cenário nacional.
Bolsonaro presta um desserviço à democracia quando desvaloriza partidos – como, de resto, desqualifica jornalistas, políticos adversários e lulopetistas. Mas vários partidos não parecem preocupados com o que consideram um mero jogo ou passatempo do capitão-presidente, desde que tenham a chance de tirarem dividendos, ou seja, de se beneficiarem das “bondades” que o governo tem o condão de oferecer. O PTB e o Patriotas são exemplos de partidos ávidos por uma ficha de filiação de Bolsonaro rumo à estação Planalto 2022. Mas o PSL está tendo uma recaída saudosista do poder. Pelo visto, só o PT e outras siglas de esquerda não querem ver Bolsonaro nem pintado nas suas hostes. Quanto ao eleitorado, não dá a mínima para o que considera “lenga-lenga” de políticos.