Nonato Guedes
O Pastor Everaldo Dias Pereira, que foi preso após mandado expedido pelo Superior Tribunal de Justiça, acusado de corrupção e lavagem de dinheiro durante a pandemia do coronavírus no Rio de Janeiro, na gestão do seu correligionário Wilson Witzel, afastado do governo do Estado por 180 dias, é uma figura controversa nos meios políticos nacionais. Presidente do Partido Social Cristão desde 2015, ele está sendo substituído provisoriamente desde ontem pelo ex-senador paraibano Marcondes Gadelha, que é vice-presidente nacional da legenda. Nas eleições de 2014, Pastor Everaldo, natural do Rio, candidatou-se à Presidência da República, ficando em quinto lugar, com 0,75% dos votos.
Segundo o jornal “O Dia”, Everaldo era “o todo-poderoso do governo Witzel”, exercendo influência sobre as indicações para a Secretaria de Saúde, o Detran e a Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio (Cedae). O nome do Pastor circula nos bastidores da política fluminense há décadas. Ele foi subsecretário da Casa Civil do Rio entre 1999 e 2002, no governo de Anthony Garotinho. Em 2018, se candidatou ao Senado e, segundo dados do TSE, arrecadou R$ 650.187,57 para a campanha, dos quais R$ 345.101,86 vieram do diretório de Witzel. O Pastor obteve 360.688 votos e ficou em oitavo lugar, não sendo eleito. No detalhamento de bens à Justiça Eleitoral, ele declarou R$ 268.272,38, sendo a maior parte – R$ 120.000,00, em dinheiro em espécie.
Everaldo foi citado em delação premiada por suspeita de receber R$ 6 milhões para favorecer Aécio Neves (PSDB) em debates televisivos nas eleições de 2014. O Pastor declarou apoio ao candidato tucano no segundo turno e ajudou Aécio a chegar a essa fase para disputar com a então presidente Dilma Rousseff, que concorria à reeleição pelo PT. Segundo o delator Fernando Santos Reis, ex-diretor da Odebrecht Ambiental, a empresa orientou o religioso a fazer perguntas “inócuas” para Aécio a fim de valorizar o tempo do tucano. Ambos negaram as acusações. Anteriormente, no pleito de 2010, o PSC chegou a declarar apoio ao então presidenciável tucano José Serra, mas, posteriormente aderiu à campanha do PT, que repassou uma doação de R$ 4,7 milhões à sigla do Pastor. Everaldo negou que seu partido tenha vendido apoio à candidata petista.
Na gestão do ex-governador Anthony Garotinho, Everaldo operava em parceria com o ex-deputado Eduardo Cunha (MDB-RJ), preso pela Operação Lava Jato. O site “Congresso em Foco” informa que como candidato em 2014 o pastor da Assembleia de Deus causou controvérsias. Ele se declarou contra casamento homossexual, aborto e legalização das drogas. Afirmou que, se fosse eleito presidente, iria propor um projeto de lei ao Congresso para reverter a decisão do Supremo Tribunal Federal que reconheceu o casamento entre pessoas do mesmo gênero. Além da defesa da “tradicional família brasileira”, Everaldo também já defendeu a redução da maioridade penal, bandeira do PSC. O pastor batizou o presidente Jair Bolsonaro nas águas do Rio Jordão, em Israel, em maio de 2016, quando Bolsonaro era deputado federal. Ele foi filiado à sigla entre 2016 e 2017, antes de ingressar no PSL e se lançar à Presidência da República. O batismo ocorreu no mesmo período em que o Senado autorizava o afastamento da ex-presidente Dilma Rousseff para início do julgamento do processo de impeachment.
No vídeo, Everaldo e Bolsonaro aparecem em trajes brancos no rio em Israel. A Bíblia diz que esse rio é o mesmo onde Jesus foi batizado por João Batista. Após o mergulho de Bolsonaro, o pastor fez uma brincadeira. “Peso pesado”, disse ele, entre risos. Depois do batismo, Bolsonaro gravou um vídeo aos seus eleitores em alusão ao impeachment de Dilma, sua desafeta. “Novos ares de mudança têm que se implementar a partir de agora. Abandonar essa clássica política do toma-lá-dá-cá, negociar ministérios para conseguir apoio político. A população está enjoada disso”, protestou. A imprensa sulista revela que o Pastor Everaldo é personagem importante da operação “Tris inIdem”, deflagrada ontem, sexta-feira, 28. O PSC dirigido por Everaldo já abrigou Bolsonaro e três de seus filhos – o senador Flávio, o deputado federal Eduardo e o vereador Carlos Bolsonaro. O último a deixar a sigla foi Carlos, no início deste ano. Ele e o irmão Flávio foram eleitos para os atuais mandatos pelo Partido Social Cristão. Ambos trocaram a agremiação pelo Republicanos.