Nonato Guedes, com agências
Quando estava preso na Polícia Federal em Curitiba, onde permaneceu 580 dias, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) encomendou ao partido a organização de caravanas pelo país, prometendo que iria percorrer as mais diversas regiões. De lá para cá, se acomodou no cumprimento desse roteiro e, hoje, quem percorre o Brasil é o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), independente de participar de campanhas eleitorais para prefeitos em 2020 (ele já anunciou esta semana que não irá a palanque em nenhuma cidade).
O colunista Josias de Souza, em artigo no UOL, afirma que o presidente Bolsonaro dedica-se a rebatizar programas sociais vinculados ao petismo e a entregar obras, a maioria herdada das gestões do PT, priorizando regiões que os rivais consideravam cativas: Norte e Nordeste. Leva a tiracolo aliados do Centrão, parlamentares e políticos que trocavam o apoio aos governos de Lula da Silva e Dilma Rousseff por cargos, verbas oficiais e propinas. Operando no modo reeleição em 2022, sua prioridade obsessiva, o governo programou para Bolsonaro um boom de inaugurações já neste segundo semestre. O assunto foi destaque, também, em matéria publicada pela “Folha de S. Paulo”.
Computando-se apenas as obras da pasta da Infraestrutura, o capitão levará o rosto a pelo menos mais 33 localidades, segundo informa a coluna “Painel”, da “Folha”. Lula fala em “percorrer o país” desde o impeachment de Dilma Rousseff, mas logo teria notado que minguaram as multidões dispostas a prestigiá-lo em caravanas de ônibus. Seus parcos deslocamentos ocorreram em jatinhos custeados por amigos ou pelo déficit público que oxigena o fundo partidário. As viagens escassearam mais ainda com Lula em liberdade mas confrontado com medidas restritivas de aglomerações e imposição de isolamento social decorrentes da pandemia do novo coronavírus. Ele próprio, aliás, faz parte do grupo de risco – pessoas a quem as autoridades sanitárias recomendam isolamento domiciliar para prevenir-se do possível contágio de Covid-19.
Lula tem atuado em redes sociais, participa de ”lives”, concede entrevistas a órgãos de comunicação do Brasil e do exterior, em que o mote principal é o combate ao governo do presidente Jair Bolsonaro, com a observação de que, além do negacionismo da pandemia do novo coronavírus e da falta de coordenação com governadores estaduais e prefeitos municipais, o seu governo não tem se revelado à altura da responsabilidade de comandar as ações indispensáveis. Dias atrás, Lula declarou que o PT pode abrir mão da cabeça de chapa em nome da formação de uma frente de oposição a Bolsonaro. A proposta não tem tido credibilidade, porém, junto a partidos e segmentos de esquerda, onde prevalece o consenso de que o único candidato que Lula admite apoiar em 2022 é Lula. No momento, seus advogados guerreiam no Supremo Tribunal Federal para lavar-lhe a ficha suja.
Mais da metade das obras que constam da agenda de Bolsonaro são rodoviárias. Todas fazem parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), criado pelo governo do PT em 2007. Destas, apenas uma foi conduzida pelo atual ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas – a construção da ponte sobre o rio Parnaíba, na BR-235/PI, entre as cidades de Santa Filomena, no Piauí, e Alto Parnaíba, no Maranhão. A via sacra de inaugurações de obras alheias foi encomendada pelo Palácio do Planalto para aproveitar a onda de popularidade do presidente Jair Bolsonaro, ocasionada pelo pagamento de R$ 600 do auxílio emergencial. Na última quinta-feira, o ministro Rogério Marinho esteve no Maranhão, onde “inaugurou” obra que já havia sido entregue pelo governador Flávio Dino, do PCdoB. Dino criticou: “Não há obras iniciadas por ele (Bolsonaro). Nenhum programa novo. Ele só está visitando obras alheias e mudando nome de programas já existentes”.