Nonato Guedes
O prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PV), depara-se com acúmulo de problemas neste último ano do segundo mandato e em plena campanha eleitoral que vai decidir a sua sucessão. O contencioso administrativo é desgastante, sobretudo nestes tempos de pandemia do novo coronavírus e, em paralelo, o gestor tem que se desdobrar para emplacar a candidata que lançou dentro do seu grupo político, a ex-secretária de Educação, Edilma Freire, neófita na militância política. Apesar do trabalho desenvolvido por Edilma na Pasta, que o prefeito qualificou como “revolução silenciosa”, e da contagem das ações gerais da administração em quase oito anos, Cartaxo não vê sua preferida decolar em pesquisas informais de intenção de voto que circulam em grupos de WhatsApp.
Ou seja: o fenômeno da transferência de votos do prefeito para a candidata ungida está ameaçado de não se concretizar. Ainda por cima, há o bombardeio incessante de postulantes adversários, explorando flancos deixados pela gestão de Cartaxo. Embora especialistas políticos tentem fazer crer que a eleição para prefeito está sendo nacionalizada, com julgamento do governo do presidente Jair Bolsonaro, o que se constata, pelo menos em João Pessoa, é que a gestão de dois mandatos do prefeito Luciano Cartaxo é que está sendo plebiscitada, com fogo cruzado cruciante tendo como pano de fundo lacunas ou omissões imperdoáveis do poder público em questões decisivas para a população pessoense.
Um exemplo de vulnerabilidade da gestão de Luciano foi a interdição do Complexo Hospitalar “Trauminha”, de Mangabeira, que é ponto de referência e tem sido ponto de suporte neste período de sobrecarga de leitos ocasionada pela proliferação da epidemia de Covid 19, situação agravada por ser João Pessoa a Capital do Estado, que atrai pacientes das mais diferentes regiões, além de concentrar atenção de urgência a doentes de municípios que compõem a região metropolitana como Bayeux, Santa Rita e Cabedelo. Por mais que a prefeitura considere um ato de força a interdição do “Trauminha” pelo Conselho Regional de Medicina, a verdade insopitável é que o referido hospital vinha se constituindo em grave ameaça à Saúde Pública. O Raio X revelado por filmagens em poder do CRM e distribuídas na mídia é devastador, espelhando uma situação de abandono da unidade hospitalar e a necessidade de reformas urgentes para neutralizar o descaso que ali se verifica.
Passada a irritação inicial do prefeito, do secretário de Saúde Adalberto Fulgêncio e de outros assessores da administração com o impacto de denúncias e imagens comprobatórias do descaso no “Trauminha”, restou comprovado o reconhecimento da urgência de reformas que demandarão tempo e recursos orçamentários. Registre-se que, nesse caso, houve certa leniência da administração municipal, que tinha conhecimento da dimensão alcançada pelos problemas de funcionamento do “Trauminha”, mediante alertas periódicos do Conselho Regional de Medicina, e preferiu empurrar a solução com a barriga. Diante da gravidade da radiografia, não soa inoportuna nem violenta a ação do Conselho Regional de Medicina, que, pelo contrário, agiu de forma profilática, cuidando de zelar pela segurança da saúde de pacientes que buscavam atendimento no complexo hospitalar de Mangabeira.
Se estivesse boa a interlocução entre a prefeitura de João Pessoa e o governo do Estado, talvez a gestão do governador João Azevêdo pudesse cooperar com solução emergencial para fazer face ao hiato criado com a inviabilidade de funcionamento do “Trauminha”. Mas, se essa cooperação foi efetiva no início das ações de enfrentamento à pandemia do novo coronavírus, tornou-se uma miragem ao se aproximar o calendário eleitoral em que os esquemas do governador e do prefeito vão se enfrentar, embora não necessariamente monopolizando o confronto, já que outros atores de fôlego político aparentemente maior estão se insinuando no páreo que será travado em quinze de novembro, tal como foi remarcada a eleição pelo TSE, contingenciada pela proibição de aglomerações em plena vigência da epidemia de Covid-19.
O prefeito Luciano Cartaxo tem outros desafios pela frente, como o da barreira do Cabo Branco, que em quase oito anos de mandato não logrou intervenção definitiva que produzisse solução adequada. E, seguindo a lei de Murphy, segundo a qual o que tem que dar errado é inescapável, até a coloração vermelha momentânea de uma faixa de praia no Cabo Branco, causada por formações sedimentares distorcidas foi foco de irritação do prefeito para com suposta exploração da mídia. Cartaxo vem somatizando problemas desde que houve uma debandada no seu grupo político após a imposição do nome da pré-candidata Edilma Freire para disputar a sua cadeira no Centro Administrativo.
A dados de hoje, em termos políticos, o prefeito de João Pessoa ensaia passos desesperados, numa coreografia politicamente suicida, para se aliar a quem puder reforçá-lo na empreitada para eleger Edilma Freire e, desta forma, assegurar o que parece ser o seu dogma maior e inenarrável: “a continuidade de um modelo administrativo que deu certo e que não pode, de forma alguma, sofrer interrupção”. Igualzinho ao que o ex-governador Ricardo Coutinho apregoou ao decretar que a história da Paraíba se contaria a partir de dois ciclos – o Antes e o Depois da administração de Ricardo, que deu no que deu (vide Operação Calvário). Ninguém duvida que é alucinante o ritmo do prefeito Luciano Cartaxo no avançar das horas para o ocaso da sua administração. Mas irritação, bravatas e desafios ao vento não ajudam em nada. Paciência, caldo de galinha e equilíbrio talvez sejam ingredientes indicados para uma receita a ser obedecida pelo alcaide na difícil travessia que ainda tem que palmilhar.