Uma reportagem da “Folha de S. Paulo”, assinada por Ranier Bragon, revela que apesar de ainda haver um longo percurso de dois anos e de, para muitos, as eleições municipais não terem reflexo nas eleições gerais, alguns dos principais nomes cotados para a disputa presidencial de 2022 se movimentam para testar forças e projetos no pleito de 15 de novembro próximo. O presidente Jair Bolsonaro, hoje sem partido, adota uma postura errática, ora indicando apoio a alguns aliados, ora reforçando promessas de que passará ao largo das eleições de prefeitos e vereadores, pelo menos no primeiro turno.
Alguns dos principais adversários do presidente, porém, traçaram metas mais definidas, de acordo com dezenas de políticos ouvidos pela “Folha” nos últimos dias. O PT, principal partido de oposição, tenta de reerguer do tombo de quatro anos atrás, quando foi o que mais perdeu votos e influência, na esteira do impeachment de Dilma Rousseff e afirma ter dobrado o número de candidatos a prefeito, com foco nas capitais e grandes cidades. Apesar disso, assiste à tentativa de descolamento de parte da esquerda. O PSB formou com o PDT de Ciro Gomes (CE) uma aliança para chapas conjuntas em várias cidades, incluindo Rio de Janeiro, esta também com participação da Rede Sustentabilidade de Marina Silva. Em ação paralela ainda na esquerda, o governador do Maranhão, Flávio Dino, luta para conseguir nas urnas elevar seu capital político e o de seu partido, o pequeno PCdoB, tendo como prioridade a eleição de Manuela D’Avila em Porto Alegre e Rubens Pereira Júnior, em São Luís. Em 2018, Manuela foi vice presidencial da chapa do PT encabeçada por Fernando Haddad.
Até agora, o principal oponente de Bolsonaro na centro-direita, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), tem como meta manter ou ampliar a hegemonia dos tucanos em seu reduto eleitoral, São Paulo, onde comanda um terço das prefeituras, e no país, tendo em 2016 conquistado administrações que somavam 24% da população brasileira. Cotados para a corrida presidencial de 2022, o ex-juiz da Lava Jato e ex-ministro da Justiça Sergio Moro, bem como o apresentador da TV Globo Luciano Huck mantêm-se publicamente à distância das eleições de novembro, embora venham participando e se manifestando regularmente sobre questões políticas. Por causa do novo coronavírus, as eleições municipais deste ano, para escolha de prefeitos e vereadores, foram adiadas para os dias 15 (primeiro turno) e 29 de novembro (segundo). As presidenciais ocorrerão em outubro de 2022.
“O PT vai disputar as eleições nos principais centros políticos do país. Esse dado é totalmente diferente do que ocorreu em 2016”, afirma o deputado federal José Guimarães (CE), responsável pelo grupo de organização das eleições no partido. “O dado significativo é que eles não conseguiram matar o PT. O PT pode, sim, ter um resultado eleitoral que surpreenda o país”. Entre as apostas da sigla está novamente a deputada Benedita da Silva, no Rio de Janeiro, Marília Arraes, no Recife, e Denice Santiago, em Salvador. A candidatura de Jilmar Tatto, em São Paulo, sofre resistência de parte dos apoiadores, que têm manifestado adesões à chapa de Guilherme Boulos e Luíza Erundina, do PSOL.
Apostando em relação mais evidente entre 2020 e 2022, PSB e PDT estão formando dobradinhas para as disputas de São Paulo (Márcio França, do PSB), Rio (Bandeira de Mello, do PSB), ou Martha Rocha, do PDT, Recife (João Campos, do PSB), Porto Alegre (Juliana Brizola, do PDT) e Fortaleza (candidato do PDT, escolhido pelo grupo de Ciro). A aliança, se der resultado, é embrião para a tentativa de uma candidatura em 2022 que rompa com a hegemonia do PT na esquerda. “As forças que estão se aproximando podem estar juntas e espero até que estejam, em 2022.Vai-se criando um polo diferente do PT, à esquerda”, diz Carlos Siqueira, presidente nacional do PSB. Sergio Moro declarou que está concentrado na vida acadêmica e na recolocação profissional, por isso não pensa em participar ou endossar candidaturas neste ano. Aliados dizem que o ex-ministro tomará sua decisão, como previsto, no ano que vem.