Nonato Guedes, com agências
Enquanto os números do coronavírus seguem crescendo no país, o presidente Jair Bolsonaro voltou a atacar governadores de Estados e prefeitos municipais por conta das medidas de restrição adotadas para conter a disseminação da doença. Durante visita a obras na pista de pouso do aeroporto de Congonhas, em São Paulo, ontem, o presidente rebateu críticas de que seria “ditador” e criticou gestores municipais e estaduais. “Fica uma grande experiência, como alguns me acusam de ditador…Os projetos de ditadores nanicos que apareceram pelo Brasil afora, não só em áreas estaduais mas em algumas municipais também. Fica de ensinamento dessa pandemia”, afirmou Bolsonaro.
O presidente criticava o fechamento de estradas e as restrições de viagens interestaduais implementadas por alguns governos com o objetivo de tentar frear a pandemia do novo coronavírus. A maioria da comitiva do presidente, que incluía o deputado Celso Russomano (Republicanos), pré-candidato à prefeitura de São Paulo, estava sem máscaras de proteção. “Aquele pessoal que dizia no passado, que não era eu, ‘a economia recupera depois’, está na hora de botar a cabeça pra fora e dizer como é que se recupera rapidamente a economia. Sempre falei que era vida e economia. Fui muito criticado. Mas não posso pensar de forma imediata, tenho que pensar lá na frente”, disse ainda.
O ex-capitão ainda se embolou em parte do discurso. “Esperamos que volte a normalidade o país, não digo mais rápido, que não tem como ser rápido, mas não tão demorado também”. Um novo balanço sobre o coronavírus divulgado pelo Ministério da Saúde na noite de ontem mostra que o Brasil chegou à marca de 126.203 mortes causadas pela Covid-19. Nas últimas 24 horas, foram registrados 682 novos óbitos. Desde o início da pandemia, já foram registrados no país 4.123.000 contágios. Foram contabilizados 30.168 novos casos confirmados no sábado. Por outro lado, o presidente foi alvo de críticas e manifestações de revolta em redes sociais, de publicar mensagem, ontem, em comemoração ao Dia da Amazônia. “O Brasil é o país que mais preserva o meio ambiente”, garantiu Bolsonaro.
A floresta amazônica tem atualmente a sua maior incidência de queimadas das últimas duas décadas. A pandemia do novo coronavírus invade as aldeias e mata importantes lideranças indígenas, os garimpeiros colocam em risco os aldeados do povo mundurucu, invadindo suas terras, especialistas alertam para a desertificação da região, o que seria um perigo global, madeireiros já queimaram ilegalmente mais de mil árvores por hora no ano passado e o governo anuncia corte, na ordem de R$ 187 milhões, em investimentos para defender o bioma. Não obstante, o presidente foi às redes sociais para jactar-se do que não está fazendo, como destacou o site “Revista Forum”. Bolsonaro arrematou: “A Amazônia é nossa e nós vamos desenvolvê-la; afinal de contas, lá existem mais de 20 milhões de brasileiros que não podem ficar desamparados”. Internautas ironizaram a retórica do presidente, que já foi chamado de “ecocida”.