Nonato Guedes
O PSOL oficializou, ontem, chapa própria às eleições para prefeito de São Paulo, tendo na cabeça o professor e líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, Guilherme Boulos, de 38 anos, e como vice a deputada federal Luíza Erundina, de 85 anos, natural da cidade de Uiraúna, na Paraíba. Erundina já foi candidata a prefeita de São Paulo, eleita em 1988, quando concorreu pelo Partido dos Trabalhadores. Hoje no PSOL, tentará ajudar Boulos a romper a hegemonia petista na esquerda em São Paulo, pela primeira vez em mais de três décadas. São Paulo é a maior cidade do Brasil e, para reforçar com símbolos o compromisso com a periferia Boulos escolheu um campo de futebol no meio da comunidade carente do Morro da Lua, Campo Limpo, bairro onde mora, para a convenção de ontem.
A escolha de Erundina como vice é considerada como outro símbolo importante da campanha do PSOL. Como prefeita, ela fez uma gestão voltada para a periferia que deixou marcas visíveis até hoje, como a construção de hospitais e a criação de mutirões habitacionais. Boulos afirmou ao jornal “O Estado de S. Paulo” que aposta que as questões nacionais, amplificadas pela gestão polêmica do presidente Bolsonaro, estarão presentes no debate da eleição municipal. “Essa campanha vai ser uma campanha nacional. Não tem outro jeito,. É impossível fazer uma campanha em 2020 sem falar do Bolsonaro. Isso vai estar no debate”, acrescenta o candidato a prefeito.
Crítico feroz dos governos do PT, Boulos fez um movimento de aproximação com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva principalmente a partir do início do processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, quando mobilizou milhares de pessoas em protestos contra o afastamento de Dilma e contra a prisão de Lula. Em 2018, se filiou ao PSOL e concorreu à presidência da República. Conseguiu 617 mil votos, o pior desempenho do partido em eleições presidenciais. No final de julho, Boulos recebeu apoio de centenas de grandes nomes das artes e da intelectualidade brasileira como Chico Buarque de Holanda, Caetano Veloso, Marilena Chauí, André Singer, Criolo e Emicida, o que lhe deve valer votos também na classe médica.
Desde o mês passado, Guilherme Boulos tem andado pelos bairros da periferia e se reunido com líderes comunitários, apesar das restrições impostas pela pandemia do novo coronavírus. Além disso, vai apostar na mobilização online. Ele tem2,8 milhões de seguidores no Twitter, atrás apenas da deputada Joice Hasselmann, pré-candidata do PSL, com 3,2 milhões. Na quinta-feira, Boulos e Erundina foram multados em R$ 5 mil pelo Tribunal Regional Eleitoral por causa de um vídeo publicado nas redes, considerado propaganda antecipada. Guilherme é formado em filosofia pela USP e pós-graduado em psicologia clínica pela PUC, tendo sido professor da rede pública. Ingressou em 2002 no movimento de luta por moradia.
O candidato do PSOL a prefeito de São Paulo já anunciou que, se for eleito, pretende criar um gabinete itinerante no qual pretende despachar da periferia. “Sua cabeça pensa onde seu pé pisa”, afirma o candidato. Segundo ele, a campanha terá duas frentes. A primeira, nacional, tem como objetivo consolidar o papel cultivado desde a campanha presidencial de 2018 de oposição ao presidente Jair Bolsonaro. A segunda, local, tem como meta o eleitorado dos bairros de periferia, onde se concentra a população mais carente da cidade. Nos dois casos, Boulos vai disputar espaço com o PT, embora ele mesmo diga que o partido do ex-presidente Lula não é seu alvo na campanha. “Não acho que a questão seja esta (disputar espaço com o PT). Minha proposta é apresentar um projeto que derrote tanto o bolsonarismo quanto Bruno Covas/João Doria (prefeito e governador de São Paulo)”, disse ele.