Nonato Guedes
Enquanto o esquema do prefeito Luciano Cartaxo (PV) bate cabeça para compor chapa e atrair adesões que fortaleçam o projeto da pré-candidata Edilma Freire à sucessão, o “staff” do pré-candidato Cícero Lucena (PP), nome mais expressivo da oposição no âmbito municipal, recorre a uma logística profissional para segurar sua candidatura e forrá-la com apoios expressivos que revertam em canalização de votos nas urnas, por ocasião das eleições de novembro. No terreno dos apoios, Lucena continua avançando em céu de brigadeiro, numa proporção invejável, em comparação com o pelotão de postulantes que está bem atrasado na costura de alianças e desperdiçou composições aparentemente indisponíveis a esta altura dos acontecimentos, faltando uma semana para a finalização das convenções.
No que tange a um fantasma agitado pelos adversários – o da suposta ameaça de inelegibilidade de Cícero, por pendências remanescentes na esfera do Tribunal de Contas da União, a assessoria jurídica do candidato do PP tem se mostrado diligente na elucidação de dúvidas ou na remoção de possíveis empecilhos que atrapalhem a caminhada de Cícero para tentar voltar ao Paço Municipal, que ocupou por duas vezes, entre o final dos anos 90 e o começo dos anos 2000. Ontem, os porta-vozes do candidato do PP avançaram na intercessão de recursos no âmbito do colegiado da Corte de Contas e punham-se no aguardo de certidão confirmando a sua elegibilidade e, destarte, pondo fim à controvérsia. A alegação do “staff” cicerista é que o contencioso alardeado não gera necessariamente impedimento legal de registro de candidatura e, por via de consequência, do direito de disputar. E nessa frente todas as energias estão sendo investidas pelos aliados e patrocinadores do projeto de candidatura.
O presidente do diretório estadual do PP, Enivaldo Ribeiro, falando de Campina Grande, mandou um recado curto e grosso: “Quem está espalhando que Cícero é inelegível como candidato a prefeito da Capital, pode ir tirando o cavalinho da chuva. Essa possibilidade não existe e restará demonstrada”. A confirmação da candidatura de Lucena virou questão de honra não somente para o PP como para o esquema do governador João Azevêdo, que, através do partido Cidadania, já oficializou apoio à candidatura do ex-tucano e ex-governador da Paraíba. O Cidadania, que está estreando nas eleições como partido do governante de plantão, deu capilaridade à pretensão de Cícero ao encampar sua postulação de retornar à prefeitura. Poderá, ou não, indicar candidato a vice, selando a aliança com chave de ouro. Mas, o mais importante para o governador João Azevêdo, é a materialização da vitória do ex-senador Lucena, que pode ter desdobramentos para 2022.
Em termos de densidade, o pré-candidato Cícero Lucena contabilizava, ontem, manifestações de solidariedade de sete partidos, sem que isto o impedisse de se abrir a outros diálogos. As conversações não versam apenas sobre o tempo que partidos adesistas possam disponibilizar para a massificação do candidato no Guia Eleitoral em emissoras de rádio e televisão, quando for aberta a temporada prevista em Lei para a propaganda seguida de apresentação de propostas e debate de demandas. Há o interesse, também, de discutir cenários prováveis de governabilidade – e, nesse caso, o espaço real de participação e representatividade das legendas coligadas na tomada de decisões e no projeto de governança propriamente dito. É um ritual a que o ex-senador se dedica com certa naturalidade, fiando-se na experiência adquirida em disputas memoráveis a que compareceu, quer nos bastidores, quer na linha de frente, no período recente da história política-administrativa do Estado. Contrariamente a outros postulantes que não adicionaram um partido sequer ao leque de composições, Lucena tem a vantagem de saber aglutinar. E isto é o que explica o respaldo que sua pré-candidatura vem adquirindo a despeito de provocações sobre óbices legais ou episódios do passado.
O cacife que vem sendo exibido pelo pré-candidato Cícero Lucena, com a desenvoltura que se conhece, é ilustrativo da análise que se faz em meios políticos de que o ex-prefeito constitui, por incrível que possa parecer, a novidade da campanha de 2020 em João Pessoa marcada pela atipicidade da pandemia do coronavírus que impõe restrições a aglomerações. A expectativa era de que o esquema do prefeito Luciano Cartaxo, que está se despedindo de oito anos de mando na prefeitura da Capital, chegasse ao pleito com musculatura impressionante e bloco inteiramente coeso, em condições de decidir a parada sem muito esforço. Ou que o ex-governador Ricardo Coutinho desembarcasse como “trator” na conjuntura eleitoral deste ano.
A dinâmica do processo político-partidário-eleitoral, pelo menos até aqui, vem surpreendendo a todos e desfazendo prognósticos firmados com ares de jurisprudência sobre fatores e personagens determinantes na campanha eleitoral à vista. É evidente que o favoritismo de Cícero está sujeito a oscilações – para mais ou para menos, como a própria candidatura ainda se mantém quase subjudice, conforme o consenso dominante entre seus adversários políticos. Mas não há como negar que o profissionalismo e a repaginação do perfil de Lucena estão contribuindo para reforçar-lhe o cacife. O mais é ilação meramente subjetiva, tanto mais excrucial porque assentada em achismos, não em dados mais fundamentados sobre a direção do vento nas eleições que irão se espichar no calendário do TSE.