Nonato Guedes
O vereador Léo Bezerra, indicado pelo Cidadania (partido do governador João Azevêdo) é o quarto candidato a vice-prefeito em chapas encabeçadas por Cícero Lucena (PP) à prefeitura de João Pessoa. Cícero ganhou duas eleições – em 1996 e 2000, perdeu em 2012 para Luciano Cartaxo e, seis anos depois, volta a concorrer ao Paço Municipal, com chances, pelo menos de acordo com as primeiras pesquisas informais sobre intenções de votos de parcelas do eleitorado pessoense. Em termos partidários, ele foi eleito pelo PMDB, migrou para o PSDB e reaparece este ano filiado ao Partido Progressistas, comandado pelo “clã” Ribeiro que tem expoentes como a senadora Daniella, o deputado federal Aguinaldo e o vice-prefeito de Campina Grande, Enivaldo.
Em 1996, quando deu combate à ex-deputada Lúcia Braga, saindo vitorioso, Cícero teve como vice o médico Reginaldo Tavares, escolhido em meio a entendimentos que selaram a coligação do PMDB com o então PFL (hoje DEM). O filho de Reginaldo, Diego, que foi secretário da gestão Luciano Cartaxo, tinha expectativa de vir a ser indicado dentro do PV como candidato a prefeito este ano, mas, ao ser preterido pela candidata Edilma Freire, rompeu com o esquema de Cartaxo e aderiu à pré-candidatura de Lucena. Em 2000, na disputa pela reeleição, Cícero formou chapa puro-sangue, tendo como vice o engenheiro Haroldo Lucena, que era presidente do diretório regional do PMDB e se definia como “peemedebista autêntico” ou “pré-histórico”, neste último caso endossando definição atribuída ao senador e ex-governador José Maranhão.
Em 2012, Cícero resolveu testar-se novamente na corrida pela prefeitura e conseguiu, pelo menos, uma proeza: avançar para o segundo turno, enfrentando Luciano Cartaxo, que concorreu pelo PT e atraiu dissidentes do esquema de Ricardo Coutinho como o então prefeito Luciano Agra e o jornalista Nonato Bandeira, este contemplado com a vice. (Posteriormente, Bandeira desvinculou-se do grupo de Cartaxo, reaproximou-se do esquema de Ricardo Coutinho mas manteve-se fiel a João Azevêdo, estando, hoje, na Secretaria de Comunicação Institucional, além de operar como ativo articulador político do esquema do governador). O vice de Cícero em 2012 foi o médico Ítalo Kumamoto, renomado cardiologista e fundador do Hospital Memorial São Francisco em João Pessoa, que era filiado ao PSC, presidido ainda hoje pelo ex-senador Marcondes Gadelha.
Para conseguir sustentar o doutor Ítalo Kumamoto na chapa, Cícero teve que partir para uma queda-de-braço com o PSC, que, através da sua cúpula, declarou apoio à candidatura de Luciano Cartaxo. A postulação de Ítalo foi assegurada e ele acompanhou Cícero na maratona de comícios, visitas, debates e “corpo a corpo” com o eleitorado. O resultado final, entretanto, favoreceu Cartaxo, mercê do rolo compressor que este havia arrebanhado para respaldar sua candidatura. Em relação a Haroldo Lucena, houve uma peculiaridade em pleno exercício do mandato: ele e Cícero se distanciaram politicamente porque o prefeito decidiu migrar do PMDB para o PSDB, seguindo o grupo Cunha Lima, que abrira dissidência contra o governador José Maranhão. Nesse quiproquó, Haroldo revelou-se fiel à orientação de Maranhão e acusou os Cunha Lima de precipitar a divisão ao não reconhecer o comando natural do chefe do Executivo, além de hostilizá-lo seguidas vezes.
Haroldo foi lançado candidato a prefeito de João Pessoa em 1985, quando da restauração das eleições diretas nas Capitais. O patrono do lançamento foi o ex-deputado, ex-senador e ex-governador Antônio Mariz, mas Haroldo acabou cedendo a vaga para Carneiro Arnaud, vitorioso no confronto com o ex-deputado Marcus Odilon Ribeiro Coutinho. Em 1988, o então governador Tarcísio Burity convidou e incentivou Haroldo a ser o candidato do PMDB, mas depois recuou e, já em fase de rompimento com o partido e com o seu líder maior, o senador Humberto Lucena, manifestou apoio à candidatura do empresário e deputado João da Mata, que concorreu pelo PDC. Haroldo foi até o fim, mesmo consciente de que teria poucas chances, diante da candidatura do ex-governador Wilson Braga, que disparou nas urnas. Houve omissões dentro do próprio PMDB, o que tornou extremamente adversa a campanha para o partido do senador Humberto. Mas, mesmo com todas as dificuldades, e com a oposição do governo pilotado por Burity, o PMDB logrou eleger cinco representantes à Câmara de Vereadores. “Acho que foi um êxito muito bom”, analisou Haroldo, na época.
Numa entrevista que concedeu a este repórter para a série “Memória Política”, do jornal “A União”, o doutor Haroldo Lucena admitiu que não estava sendo fácil compartilhar a administração em João Pessoa com Cícero Lucena, por causa das divergências políticas. “Para mim, é uma situação delicada; estou pisando em ovos, mas espero sair ileso da contenda porque não misturo administração com política”, desabafou Haroldo Lucena, que, embora procurasse seguir as pegadas conciliadoras do irmão ilustre, Humberto, não abria mão de rompantes de exaltação, fazendo jus ao próprio “estilo autêntico” de que se jactava.