Nonato Guedes
Pelo menos 72 deputados federais e um senador devem se candidatar ao cargo de prefeito nas eleições municipais deste ano no país, conforme levantamento do site “Congresso em Foco”. Na Paraíba, um dos postulantes é o deputado federal Ruy Carneiro (PSDB), que concorre à prefeitura de João Pessoa com apoio do PSD. Em Campina Grande, segundo colégio eleitoral do Estado, o senador Veneziano Vital do Rêgo (PSB) dá aval à candidatura da mulher, a ex-secretária Ana Cláudia, do Podemos, à sucessão municipal. Na Rainha da Borborema um deputado estadual, Inácio Falcão, do PCdoB, é candidato e um ex-deputado estadual, Bruno Cunha Lima, do PSD, tem apoio do prefeito Romero Rodrigues para postular a sua sucessão.
O senador Jean Paul Prates, do PT Rio Grande do Norte, deve disputar a prefeitura de Natal. O número de parlamentares candidatos nas eleições de 2020 deve ficar próximo ao de anos anteriores. O Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) aponta que no último pleito municipal, em 2016, foram 83 congressistas candidatos, dos quais 81 eram deputados e dois senadores. Muitos parlamentares que se colocaram como pré-candidatos não viabilizam a candidatura – caso, em João Pessoa, do deputado federal Julian Lemos, do PSL, que já declarou apoio. Segundo o cientista político e diretor da Dominium Consultoria, Leandro Gabiati, trata-se de uma tentativa de se cacifar que, depois, envolve negociações e compensações com forças políticas regionais. “Tem a ver com o jogo político de barganha”, explica Gabiati.
A prefeitura mais disputada do Brasil, a da cidade de São Paulo, é cobiçada por três deputados federais candidatos: Joice Hasselmann (PSL), Orlando Silva (PCdoB) e Celso Russomano (Republicanos). Também bastante concorrida, a prefeitura do Rio de Janeiro atrai três integrantes da Câmara: Benedita da Silva (PT), Clarissa Garotinho (Pros) e Hugo Leal (PSD). Entre as 24 legendas com representação no Congresso as que terão maiores desfalques diretos serão o PSB (com dez deputados pré-candidatos), o PT (com oito deputados e um senador pré-candidatos) e o Republicanos (sete deputados postulantes). O Novo e a Rede são as duas únicas agremiações que não devem lançar congressistas ao pleito municipal. Em que pese a concentração em capitais, outros municípios de porte médio a grande também são cortejados pelos congressistas, tais como Juiz de Fora, em Minas Gerais e Londrina, no Paraná.
O pleito municipal foi adiado de outubro para novembro deste ano em razão da pandemia do novo coronavírus. As convenções partidárias, iniciadas em setembro, foram substituídas por reuniões presenciais menores com transmissões ao vivo. O Tribunal Superior Eleitoral estipulou que os partidos têm até 16 de setembro para definir os candidatos e coligações, daí porque o número de postulantes pode sofrer alterações até lá. O primeiro turno ocorrerá em 15 de novembro e o segundo turno, onde houver, em 29 de novembro. Apesar das incertezas que rondam o modo de fazer campanha em meio a uma pandemia, as eleições devem esvaziar os trabalhos legislativos já neste mês. A propaganda eleitoral começa no próximo dia 26.
O cientista político Leandro Gabiati avaliou em depoimento ao “Congresso em Foco” que o resultado das eleições municipais vai ser muito importante para a sobrevivência política dos deputados na eleição de 2022. Em relação ao Senado, o fato de apenas um senador pretender disputar prefeitura não significa que os senadores ficarão completamente alijados da disputa. Um exemplo é o presidente da Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP), que atua como cabo eleitoral do irmão José Samuel Alcolumbre, o Josiel, candidato à prefeitura de Macapá. Se Josiel for eleito, espera-se que ele ajude a pavimentar o caminho para que Davi concorra ao governo do Estado em 2022. A coligação de Josiel reúne mais de dez partidos, entre eles PSDB, PP e PDT. O cientista político esclarece que algumas pautas no Congresso tendem a perder força a partir de agora, como a reforma administrativa e a tributária. “Temas sem apelo popular somente deverão ser retomados depois de novembro”, adverte ele.