Nonato Guedes
Nos meios políticos paraibanos constitui uma incógnita o projeto político que o prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PV), pode vir a empalmar uma vez cessado o mandato de oito anos no Paço Municipal. O próprio estilo ‘fechado’ de Cartaxo alimenta dúvidas e incertezas – até mesmo a dúvida sobre se ele tem pretensão de continuar na lida depois de uma jornada de oito anos na administração da Capital da Paraíba. Seu histórico engloba, ainda, a trajetória como vereador na Câmara pessoense, mandato de deputado estadual e por pouco mais de um ano o posto de vice-governador do Estado, a que foi alçado por decisão judicial que favoreceu, originalmente, José Maranhão, titular da chapa derrotada nas urnas por Cássio Cunha Lima em 2006 e investida em mandato-tampão terminativo no apagar das luzes do julgamento de matéria polêmica que remontava às eleições daquele ano.
O prefeito de João Pessoa que se despede do Paço Municipal em 31 de dezembro deste ano não é propriamente referenciado como líder ou expoente de um agrupamento político influente na conjuntura vigente nos últimos anos na Paraíba. Apesar de ser presidente estadual de um partido, o Partido Verde, não demonstrou interesse ou empenho maior para fortalecer um bloco alternativo como força política na cena estadual, em contraposição a esquemas tradicionais que têm se revezado nas esferas de projeção. Cartaxo também não passa a imagem de figura agregadora, carismática, inobstante ter colecionado vitórias indiscutíveis na trajetória que até aqui empreendeu. Luciano é um político mais de “clã” familiar do que de grupo político diversificado. Em 2014, lançou o irmão gêmeo Lucélio como candidato ao Senado, em 2018 novamente crismou-o como candidato ao governo e agora, para a sucessão à prefeitura, lançou mão da concunhada, Edilma Freire e não logrou avançar em termos de composições mais densas que projetassem condições de vitória.
Na eleição majoritária de 2018 o enredo sinalizava a unção natural de Luciano como representante do grupo de oposição ao esquema de Ricardo Coutinho na corrida pelo Palácio da Redenção. Mas ele surpreendeu a todos com o “Fico” no comando da prefeitura pessoense, julgando tratar-se de solução mais estratégica para reforçar a chapa que seria encabeçada pelo irmão gêmeo, de incipiente tradição política. Lucélio, em que pese as limitações de desenvoltura no papel de candidato, aparentemente honrou a firma nas condições de temperatura e pressão que permearam o processo. Mas não teve embocadura para viabilizar a passagem para o segundo turno, onde poderia ser instrumento de união de forças díspares. O confronto ficou restrito mesmo ao primeiro turno, com a vitória de João Azevêdo, então filiado ao PSB e então chancelado pelo governador Ricardo Coutinho.
O cenário eleitoral de 2018 acabou expondo fragilidades de Luciano Cartaxo como estrategista político emergente no quadro das forças políticas emergentes na Paraíba. A chapa de cuja costura ele participou foi eminentemente doméstica – com o irmão do prefeito da Capital na cabeça e a esposa do prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues, doutora Micheline, no papel de vice, motivando adesão natural do senador Cássio Cunha Lima, do PSDB. O caráter familiar da chapa e a demora na sua formatação e anúncio desmobilizaram segmentos que poderiam convergir para o seu leito e fortalecer os esquemas de Luciano e de Romero. Em meio à perda de espaços e ao embolamento provocado pelo lançamento do senador José Maranhão pelo MDB abriu-se o flanco para que Azevêdo navegasse em céu de brigadeiro e liquidasse a fatura “de primeira”.
Na disputa pela prefeitura da Capital este ano, o grande adversário de Luciano já não é mais Ricardo Coutinho, com quem ensaiou conversas para entendimento e convergência de interesses, mas, sim, o governador João Azevêdo, que rompeu com Coutinho. Azevêdo fez-se fiador da candidatura já lançada do ex-senador Cícero Lucena (PP) à sucessão municipal, pilotando um novo partido, o Cidadania, e influenciando lideranças desgarradas a formarem um novo bloco de poder, com desdobramentos inevitáveis para o pleito de 2022 quando a corrida pelo governo do Estado voltará ao noticiário e ao calendário da Justiça Eleitoral. Luciano, mais uma vez, demonstra vacilo na construção de estratégia infalível, desta feita para manter a prefeitura sob controle. Administrou pessimamente postulações que ele mesmo havia estimulado dentro do seu grupo, mais precisamente no próprio secretariado, e assistiu ao desmoronamento de um castelo de cartas que não parecia caber nos seus cálculos políticos-eleitorais. Pego no contrapé, minimiza as defecções.
Mas faltando menos de uma semana para o encerramento das convenções partidárias, o prefeito Luciano Cartaxo tem sido incapaz de gerar fatos de impacto que confiram à sua candidata “in pectoris” Edilma Freire a densidade de que ela carece para enfrentar uma batalha que nunca enfrentou, malgrado sua passagem pela vida pública, em postos administrativos. Não há prenúncio de favoritismo da alegada candidatura de Edilma, o que pressupõe a urgência de esforço incansável do gestor pessoense para materializar um fenômeno complicado – transferência de votos. Essa atmosfera de indefinição agrava os prognósticos quanto ao projeto político futuro de Cartaxo e joga uma zona de sombra no desfecho da parada eleitoral à prefeitura de João Pessoa este ano, embora algumas premissas já estejam firmadas, aguardando confirmação ou não. Estaria Cartaxo pecando pela ausência de senso de oportunidade? É o que se cogita em áreas normalmente bem-informadas da Capital.