Nonato Guedes, com agências
Depois de um período de 24 anos o PSDB terá a primeira eleição municipal na capital paulista sem a influência direta de duas principais lideranças ainda em atividade no Estado: o senador José Serra e o ex-governador Geraldo Alckmin. Alguns dos motivos são perda de influência política, avanço de investigações contra ambos e resultados adversos nas urnas. O candidato confirmado do PSDB à prefeitura é o atual ocupante, Bruno Covas. Mas a campanha dele não contará com Alckmin nem com Serra, que dividiram o protagonismo nas últimas seis candidaturas do PSDB na maior cidade do país.
Um levantamento feito por UOL Notícias mostra que em 1996, 2004 e 2012, José Serra foi candidato a prefeito. Ele venceu apenas na segunda tentativa. Já Alckmin disputou a prefeitura de São Paulo em 2002 e 2008. Não chegou ao segundo turno nenhuma vez. Em 2016, o ex-governador não foi candidato mas foi o principal articulador e incentivador da campanha de uma figura que surgia na política: o empresário João Doria, que abandonou a prefeitura em 2018 para se tornar governador paulista. A relação entre os dois ficou estremecida nesse trajeto, culminando com o “voto de solidariedade” de Doria a Alckmin, que disputou a Presidência da República em 2018.
Candidato com o maior tempo de televisão, o ex-governador foi engolido pela onda da campanha de Jair Bolsonaro (sem partido) e não chegou a 5% dos votos válidos. No Estado de São Paulo, que governou por quatro mandatos entre 2001 e 2018, ficou em quarto lugar, com pouco menos de 10% do eleitorado, resultado que fez com que perdesse capital político. “Teve um resultado amargo em 2018, inclusive em São Paulo”, diz o cientista política Henrique Curi, autor de “Ninho dos Tucanos”, que estuda a história recente do PSDB em eleições. “Após a eleição de 2018, ele se afastou do partido. Mas, ainda assim, dentro do PSDB, sua figura é vista como histórica”.
A perda de capital político vem agora acompanhada por investigações e processos, tanto contra Alckmin quanto contra Serra. Em julho passado, o senador foi denunciado pela Operação Lava Jato, apesar de ser investigado desde 2017 com base em delações da Odebrecht. Nesses últimos três anos, Serra ficou menos em evidência no cotidiano político por enfrentar problemas de saúde. Acusações vindas da empreiteira Odebrecht também atingiram Alckmin, que foi denunciado pela Lava Jato dias depois de Serra, em julho. “Penso que, especialmente no caso do Alckmin e do Serra, quando a Lava Jato chegou, ela já estava chutando cachorro morto”, diz o cientista político Lucas Câmara. Para ele, “foi na estratégia política que Alckmin e Serra perderam o pé do partido”.
Alckmin até iria participar da campanha de Covas, coordenando o programa de governo, porém, preferiu se afastar para trabalhar em sua defesa após a denúncia. “Na verdade, ele não estava próximo da campanha”, diz o ex-deputado federal e um dos fundadores do PSDB, Ricardo Tripoli, que atua na campanha de Covas. “Normalmente, o programa de governo é algo que você vai coletando, vai juntando, vendo a proposta do candidato. E depois você apresenta. No caso específico do Geraldo, nós achamos que seria até uma homenagem para ele. Ele que resolveu (sair) não foi o Bruno Covas que pediu”. Para Tripoli, as questões jurídicas envolvendo Serra e Alckmin não devem respingar na campanha de Covas. “O candidato a prefeito é o Bruno. Não é o Geraldo nem o Serra”. Já para o cientista político Carlos Melo, Serra ainda vive com glórias de tempos políticos passados. “José Serra mantém o status de senador de uma eleição anterior. Ele se elege senador em 2014. Se a eleição fosse hoje, seria muito pouco provável que ele se elegesse. O Senado passou por uma grande mudança”, define.