Nonato Guedes
O deputado estadual Walber Virgolino (Patriota) foi destaque em matéria do UOL Notícias sobre “xerifes” que dominam a disputa por prefeituras em capitais do Nordeste. Eles são identificados como aliados ou opositores do capitão-presidente da República Jair Bolsonaro, que anunciou há poucos dias a decisão de não se envolver diretamente na campanha eleitoral deste ano para não desagradar eventuais aliados ou simpatizantes. O texto assinado pelo repórter Carlos Madeiro ressalta: “Em João Pessoa, o deputado estadual Walber Virgolino (Patriota) também é delegado e se apresenta como “única candidatura de direita” na capital paraibana. Ele se diz o único com apoio do presidente Jair Bolsonaro”.
Os candidatos a prefeito de João Pessoa Raoni Mendes, do Democratas, e Nilvan Ferreira, do MDB, escolheram militares como candidatos a vice, o primeiro recorrendo a um oficial do Exército, o segundo a um integrante da Polícia Militar. O vice de Nilvan é o major do Exército Eduardo Milanez, enquanto o vice de Raoni Mendes é o tenente-coronel da Polícia Militar Ricardo da Costa Ramalho. UOL revela que a eleição para prefeituras nas capitais nordestinas foi tomada por policiais e profissionais ligados à área de segurança pública. Pelo menos oito das nove cidades terão candidatos apelidados de “xerifes”, algo inédito na região. Apenas São Luís, no Maranhão, foge à regra. Algumas das cidades terão até mais de um concorrente.
Em Aracaju, Sergipe, há o maior número desses profissionais e todos são delegados – três devem ser confirmados como cabeça de chapa e uma será candidata a vice. São pré-candidatos na capital sergipana os delegados Paulo Márcio (DC), Danielle Garcia (Cidadania) e Georlize Teles (DEM). Já a delegada Katarina Feitoza será a vice na chapa do prefeito e candidato à reeleição Edvaldo Nogueira (PDT). Em Fortaleza os militares são representados pelo Capitão Wagner (PROS), atual deputado federal e que vai tentar novamente disputar a prefeitura. Em 2016, ele chegou ao segundo turno mas perdeu para Roberto Cláudio, do PDT, que foi reeleito. Wagner foi líder militar e apoiou os movimentos grevistas no Estado, quando ganhou popularidade. É apontado como um dos favoritos na disputa deste ano, com apoio da ala bolsonarista.
Em Salvador, o PT aposta suas fichas na Major Denice, apoiada pelo governador Rui Costa, do PT. Ela terá pela frente um duelo com o vice-prefeito Bruno Reis (DEM), apoiado pelo outro líder popular no Estado, o prefeito ACM Neto (DEM). Anti-Bolsonaro, Denice se destacou na liderança da patrulha Maria da Penha e em ações contra a violência à mulher e contra o racismo. Em Teresina, o capitão PM e deputado federal Fábio Abreu (PL) vai disputar a prefeitura e também não se alinha com os ideais bolsonaristas. Ele foi secretário de Segurança do Piauí entre outubro de 2019 e junho deste ano no governo de Wellington Dias (PT). Ainda na capital piauiense, o Patriota confirmou a candidatura do Major Diego Melo, presidente da Associação dos Oficiais Militares do Estado.
Já em Natal o coronel Hélio Oliveira (PRTB) será uma das poucas vozes assumidamente bolsonaristas na disputa. Em 2019, ele se empenhou em conseguir assinaturas para a criação do partido Aliança pelo Brasil no Rio Grande do Norte. Além dele, o PSL também oficializou o delegado Sérgio Leocádio como candidato – também com aproximação com o presidente. No Recife, a delegada Patrícia Domingos, do Podemos, tem repetido em seus discursos que Recife virou “a capital dos escândalos” e que, por se tratar de “caso de polícia”, a delegada é a indicada para resolver o problema. Ela foi titular da extinta Delegacia de Crimes contra a Administração e Serviços Públicos e refuta ligações com o presidente Bolsonaro ou com qualquer político que lhe sirva de “padrinho”.
Em Maceió, o candidato com fama de xerife não é um policial mas, sim, o ex-procurador-geral de Justiça Alfredo Gaspar de Mendonça, do MDB. Ele se tornou famoso como secretário de Segurança Pública no primeiro mandato do governador Renan Filho, do MDB, quando foi um dos responsáveis pela queda nos números de homicídios no Estado. Segundo a cientista política e professora da Universidade Federal de Alagoas Luciana Santana, a ocupação em massa de “xerifes” tentando o poder nas capitais do Nordeste é algo nunca visto na disputa majoritária. “Os militares ou pessoas ligadas ao tema da segurança pública já participam das eleições mas com uma predominância mais forte a disputar cargos no Legislativo. Agora estamos notando o aumento de nomes na disputa por cargos no Executivo”, afirma. Ela diz que apesar do número alto não vê como uma tendência nas capitais. Acha que a razão é o assunto segurança como pivô nas eleições dessas cidades. “A conjuntura política e social no país pode influenciar e incentivar esse perfil de candidaturas, especialmente porque a segurança pública é um tema que vem ganhando destaque nos últimos anos devido ao aumento da violência em diferentes estados e regiões do país”, conclui.