Nonato Guedes
Desafiando prognósticos de analistas políticos e mesmo enfrentando denúncias de desvio de recursos públicos na Saúde na administração estadual, o ex-governador Ricardo Coutinho oficializou, ontem, em convenção do PSB, sua pré-candidatura a prefeito de João Pessoa, admitindo ter sido a decisão mais difícil que já tomou. Mas justificou que resolveu entrar no páreo por acreditar na política, defendendo o raciocínio de que “as coisas estão erradas e só a política pode resolver”. Desde que deixou o governo em dezembro de 2018, Ricardo foi envolvido em processos no âmbito da Operação Calvário, que apura a atuação de uma organização criminosa especializada em desviar recursos da Saúde e Educação, em conluio com organizações sociais que administravam hospitais e escolas e que foram descredenciadas na gestão João Azevêdo.
Ricardo não indicou candidato a vice e, conforme aliados do seu grupo restrito, optou por registrar a candidatura como tática de sobrevivência política. Ele tentou, nos bastidores, construir uma frente, atraindo o próprio prefeito Luciano Cartaxo, do PV, e o Partido dos Trabalhadores, mas não logrou êxito. Nas palavras que dirigiu a poucas pessoas presentes ao ato simbólico, disse que foram em vão todos os esforços que empreendeu para construir uma política de alianças, tendo percebido que teria que fazer o gesto de se candidatar “por essa cidade a quem tenho profundo respeito”. Avisou, ainda, que não se intimida com as ameaças de bombardeio. Até chegar ao seu nome, Ricardo ensaiou lançar a candidatura de sua atual esposa, a ex-secretária de Finanças do Estado Amanda Rodrigues e, nas últimas horas, ao constatar seu isolamento político, cogitou lançar mão de outros nomes do PSB como o da deputada estadual Estelizabel Bezerra e o da presidente do diretório municipal, Cassandra Figueiredo.
– Ninguém mais serviu a essa cidade como esse companheiro aqui – afirmou Ricardo, que foi prefeito de João Pessoa por duas vezes (foi eleito em 2004 e reeleito em 2008, tendo se desincompatibilizado em 2010 para concorrer ao governo do Estado, quando foi vitorioso). Ricardo lançou-se candidato em 2004 pelo PSB depois de romper com o Partido dos Trabalhadores, pelo qual foi vereador e deputado estadual. Ele chegou a ser ameaçado de expulsão pelo diretório regional petista por alegada infidelidade partidária. Nos últimos dias, tentou interferir no PT para atraí-lo para uma aliança com o PSB, o que implicaria na retirada da candidatura do deputado Anísio Maia. Surpreendeu a muitos oficializando o próprio nome e abrindo baterias contra os integrantes do que chamou de “aliança do ódio”.
Ricardo prometeu que no decorrer da campanha irá nominar “os hipócritas, para desespero deles” e insistiu em argumentar sua inocência diante das acusações contra ele (o ex-governador chegou a ser apontado pelo Ministério Público como chefe de uma Orcrim – organização criminosa, passou um dia preso e submeteu-se a audiência de custódia, estando denunciado em depoimentos e delações premiadas no âmbito da Operação Calvário). Segundo Coutinho, os seus adversários que pretendem vasculhar sua vida “não encontrarão um xampu que eu tenha adquirido ilicitamente”. Ao mesmo tempo, disse que se sentiu estimulado a concorrer ao constatar a variedade de candidaturas. “Olhei aquele paredão de candidatos. Gente pronta para fazer negócios e só negócios, aquela reunião de velhos casacudos dizendo que estão unidos por João Pessoa. E concluí que não é possível que aquele esqueleto que nós derrotamos em 2004, aquele povo que urinou na sede da prefeitura na nossa chegada, vá ressuscitar porque as elites se uniram. Eu não podia dormir com esse sentimento”. Ricardo não poupou críticas nem mesmo à candidata Edilma Freire, do PV, apoiada pelo prefeito Luciano Cartaxo, que cortejou para uma aliança. Chamou a candidata de “insossa”.