Linaldo.Guedes
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Às vezes, a pessoa ouve o galo cantar e não sabe onde. É o que Frassales chama, com muita propriedade, de “prenhez auricular”. A verdade é que uma polêmica tem ecoado em emissoras de rádio de Cajazeiras nos últimos dias, atribuindo a Academia Cajazeirense de Artes e Letras (ACAL) a intenção de desvalorizar a importância do Padre Inácio de Sousa Rolim na construção histórica, social, educacional e cultural dessa cidade. Alguns chegaram até a dizer que a ACAL quer transferir o Dia da Cidade, comemorado no aniversário de nascimento do padre Rolim, para o dia 23 de novembro, data real da emancipação política do município.
Ora, como a ACAL iria propor tal sandice, se o Padre Inácio de Sousa Rolim é o patrono honorífico da Academia, detentor da Cadeira 1 da entidade muito bem ocupada pelo confrade Sebastião Moreira Duarte? E se além dele temos Mãe Aninha como patronesse da ACAL? Como não acredito em má fé de nossos colegas de imprensa, penso que é falta de tempo para se informar antes de divulgar tais absurdos sem nem mesmo ouvir as palavras do presidente da ACAL, Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales), como defende os manuais de jornalismo.
Se tivesse tempo, poderia assistir o debate acontecido no dia 22 de agosto deste ano, mediado pela imortal Mariana Moreira, entre os imortais historiadores Francisco Cartaxo, José Antônio e Chagas Amaro. O que os nossos imortais discutiram passa longe de desmerecer a importância do Padre Rolim, ou de mudar o Dia da Cidade para outra data, ou de proibir desfiles e homenagens ao nosso patrono honorífico. Na verdade, o que os historiadores debateram foi a existência de um erro histórico nas efemérides cajazeirenses, o de atribuir 22 de agosto como data de emancipação política do município, o que não é verdade.
Deixemos Frassales explicar melhor esse imbróglio: “Uma coisa é a merecida e justa homenagem à memória do padre Rolim, no dia 22 de agosto. Outra é o regozijo coletivo, ufanista, pela emancipação política e administrativa do município de Cajazeiras, formalizada em 1863, por força da lei provincial nº 92, de 23 de novembro. Naquela data nasceu o município de Cajazeiras, com sede na vila do mesmo nome, e território desmembrado de Sousa. Cuidou-se a partir daí de implantar os órgãos inerentes ao novo status, tomando-se a primeira sessão da câmara municipal, símbolo da emancipação político-administrativa, em 20 de junho de 1864, como a data de instalação do município. Em paralelo, vieram o juizado municipal, a delegacia de polícia e demais órgãos de afirmação da presença do Estado. A elevação à categoria de cidade, em 10 de julho de 1876, foi apenas mais uma etapa no sistema organizacional do Império. Vamos respeitar a história, sem menoscabo do maior dos filhos de Cajazeiras. Por todas as razões aqui apontadas, proponho que se altere a lei de 1948, assinada pelo prefeito Arsênio Rolim Araruna, resguardando-se, com todas as honras, as homenagens ao padre Inácio de Sousa Rolim, em 22 de agosto, e se determine, legalmente, o dia 23 de novembro, como a data comemorativa da emancipação política de Cajazeiras”.
Pronto! É isso! Que se comemore o Dia da Cidade, com todas as honras devidas e merecidas ao Padre Rolim no dia 22 de agosto e que no dia 23 de novembro se lembre que Cajazeiras se tornou emancipada politicamente nesta data. Simples assim! Sem celeuma e sem desrespeito à memória do Padre Rolim. A discussão só deve voltar à tona após o período eleitoral, para que ninguém se aproveite do tema nesta época de política. Mas quem tiver tempo e quiser saber a verdade, é só conferir o debate entre os três historiadores no canal da ACAL no youtube: https://www.youtube.com/watch?v=HXIiC1CYs8o&t=5510s
Linaldo Guedes é poeta, jornalista e editor. Com 11 livros publicados e textos em mais de trinta obras nos mais diversos gêneros, é membro-fundador da Academia Cajazeirense de Artes e Letras (Acal), mestre em Ciências da Religião e editor na Arribaçã Editora. Reside em Cajazeiras, Alto Sertão da Paraíba, e nasceu em 1968.