Nonato Guedes
Há praticamente um mês, em entrevista concedida a uma emissora de rádio de João Pessoa, a deputada Gleisi Hoffmann, presidente nacional do Partido dos Trabalhadores, jurou que o deputado estadual Anísio Maia era candidato “pra valer” a prefeito de João Pessoa pela legenda e admitiu a possibilidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, principal cabo eleitoral do petismo, vir cumprir atividades de campanha do ungido na capital paraibana. Gleisi deixou claro, também, que apesar do “carinho e gratidão” pelo ex-governador Ricardo Coutinho (PSB), uma aliança com ele não era cogitada porque havia muita indefinição, muita incerteza, da parte do socialista, quanto aos rumos que pretendia tomar. Na avaliação de Gleisi, o PT não poderia perder tempo, e somente num segundo turno, se Anísio lá chegasse, a conversa com o PSB poderia ser retomada.
Praticamente um mês depois dessas assertivas, a Sra. Gleisi Hoffmann, atendendo a pressões insistentes feitas de última hora pelo ex-governador Ricardo Coutinho e, certamente instruída pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tornou a própria palavra um risco n’agua e comandou manobra espetacular de intervenção no diretório municipal pessoense, anulando no TRE e no TSE o trecho da convenção referente à disputa majoritária e mantendo apenas o teor das deliberações sobre candidaturas proporcionais, ou seja, a vereador. Originalmente a aliança firmada pelo PT de João Pessoa na majoritária para o pleito de 15 de novembro foi, por alegada afinidade ideológica, com o PCdoB, que indicou o nome de Percival Henriques e homologou, por via de consequência, o apoio à pré-candidatura de Anísio Maia.
Talvez pressentindo o cheiro de golpe engendrado pela direção nacional petista sob as bênçãos da Sra. Gleisi Hoffmann, Anísio e a diligente presidente do diretório municipal em João Pessoa, Giucélia Figueiredo, protocolaram junto ao Tribunal Regional Eleitoral, em tempo recorde, o registro da chapa, que entrou na fase de apreciação, com abertura de prazo para contestação ou correção de falha ou irregularidade grave. Até onde se apurou, junto a fontes abalizadas, o processo que permeou a cristalização da pré-candidatura de Anísio Maia constituiu um ato jurídico perfeito, obedecendo rigorosamente aos critérios fixados nos estatutos e nas diversas resoluções internas do PT, inclusive quanto a disposições atinentes à tática eleitoral (um capítulo à parte no glossário petista). Para coroar a legitimidade do processo burocrático, a indicação da pré-candidatura foi aprovada por unanimidade e a homologação em convenção teve votação expressiva. Tudo registrado em ata, dentro dos “conformes”, como se diz no jargão popular.
Ora, se foram atendidas todas as exigências, prescritas, cumulativamente, pela regra maior que é a legislação eleitoral timbrada pelo sinete do TSE, e houve quase uma aclamação em torno do nome de Anísio nas hostes petistas, que razão teria o PT para colocar-se de forma marginal perante a Lei e rasgar, mediante ato de força, uma deliberação tomada democraticamente? Todos os fatos convergem para sinalizar que a questão não é jurídica – ou seja, o processo de registro da pré-candidatura do deputado Anísio Maia não constitui, nem de longe, uma querela ou demanda jurídica que por acaso servisse de pretexto para substituição ou retirada pura e simples. Logo, a motivação por trás do quiproquó é essencialmente política, maquinada como parte de orquestração destinada a favorecer os interesses do Sr. Ricardo Coutinho, que faz “chantagem emocional” para deixar o isolamento em que se encontra no cenário político local, devido ao prontuário ultimamente acumulado e incorporado à sua biografia.
Não é o caso de incensar Ricardo Coutinho a ponto de considerá-lo “expert” no manejo do maquiavelismo, que, em política, ainda atrai muitos incautos ou desinformados. Ricardo ajudou a chutar o pau da barraca dentro do PT paraibano porque conhece de perto a vulnerabilidade das direções petistas locais e também porque sabe o quanto a frouxidão ética impera dentro da sua antiga legenda que lhe deu régua e compasso no começo da trajetória. O ex-presidente Lula, de resto, nunca deu importância ao PT paraibano, de quem faz gato e sapato na hora que acha conveniente. Em outra época, Lula foi o grande avalista da indicação de Cozete Barbosa para vice de Cássio Cunha Lima, do PSDB, a prefeito de Campina Grande. Quando Cássio era governador e ele presidente, recebia o tucano em palácio, em Brasília, chamando-o de “Cassinho”. Ultimamente, tomou-se de amores por Ricardo Coutinho, que lhe fez o favor de visitá-la na sala da Polícia Federal em Curitiba.
Enquanto a querela se desenrola na esfera judicial e o deputado Anísio chegou a ensaiar passos de resistência mesmo sabendo que ela tem limites dentro do Partido dos Trabalhadores, restou para a opinião pública da Paraíba a impressão negativa sobre a imagem já desgastada do Partido dos Trabalhadores e do seu capitão do mato, o “pajé” Lula da Silva, que não faz o menor esforço para ser levado a sério em termos de coerência partidária, de sinceridade política e de compromisso programático. Lula, o PT e Ricardo Coutinho são o retrato da decadência de uma elite política que valeu-se do engodo e da mentira para ocupar espaços no cenário político brasileiro. São personagens que caminham para a galeria dos “execráveis” nos subterrâneos da política tupiniquim.