Nonato Guedes
A campanha do Partido dos Trabalhadores à prefeitura de João Pessoa está sem rumo devido à influência da ação desagregadora exercida pelo ex-governador Ricardo Coutinho, um ex-petista renegado, que dispara mísseis de dentro do PSB para inviabilizar o projeto legítimo de candidatura própria representado pelo deputado estadual Anísio Maia. Esse projeto, vale a pena lembrar, germinou seguindo recomendação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que o PT tivesse o maior número possível de candidatos a prefeito nas eleições deste ano. A meta, em tese, era voltar a fortalecer as fileiras da agremiação, desgastada pela fuga da militância e de apoiadores, no bojo de escândalos como o do mensalão, petrolão, além da prisão do próprio Lula e do impeachment da presidente Dilma Rousseff.
A pré-candidatura de Anísio Maia, que, inclusive, foi efetivado na titularidade do mandato na Assembleia com a morte do deputado Genival Matias, do Avante, seguiu todos os trâmites da legalidade, com realização de convenção e opção por coligação com o PCdoB, que indicou para vice Percival Henriques. Além de submeter-se aos protocolos de estatuto, regimento interno e outras disposições normativas do petismo, Anísio obteve unanimidade de apoio para empalmar a candidatura. E assumiu compromisso de se fazer intérprete da bandeira de oposição ao governo do presidente Jair Bolsonaro, dando combate, também, à administração do prefeito Luciano Cartaxo (PV). O figurino democrático foi coroado com debates preliminares sobre plano de governo e outros aspectos da logística da campanha propriamente dita.
Agindo como o escorpião, Ricardo Coutinho, que hoje é um político decadente, depois que foi fisgado pela Operação Calvário com denúncias de desvio de recursos públicos da Saúde e da Educação, entrou no jogo para tumultuar a disputa e principalmente atrapalhar a vida do PT pessoense-paraibano. Para dar cabo dessa estratégia ardilosa, contou com a conivência desmesurada do ex-presidente Lula da Silva, com quem ainda trocou telefonema nos últimos dias acertando participação dele no seu palanque. Solidariedade entre ex-presidiários? É o que se comenta, ressalvado que Lula ficou preso por 580 dias enquanto Ricardo passou uma noite na cadeia, submeteu-se a uma audiência de custódia no Tribunal de Justiça do Estado e teve que usar tornozeleira eletrônica. Ao paparicar Ricardo, sabendo do prontuário que ele carrega nas costas, Lula mostrou todo o desprezo que tem pelo PT paraibano, pelas figuras que carregam pedras aqui dentro para que a estrela vermelha não se apague de vez.
O ex-presidente da República protagonizou um péssimo exemplo como chefe de partido, ao desrespeitar decisões absolutamente democráticas tomadas nas esferas de base do Partido dos Trabalhadores em João Pessoa, num processo que aqui era levado a sério mas que no entorno de Lula nunca foi considerado para valer, embora a deputada Gleisi Hoffmann, presidente nacional, houvesse dito que a pré-candidatura do deputado Anísio Maia não era blefe e que estava, sim, consolidada nas hostes da legenda. Não demorou muito para Gleisi ser desmascarada. Em fração de minutos, após a realização da convenção municipal de João Pessoa, ela caiu em campo acionando a Justiça para anular a homologação de Anísio e sinalizando apoio do PT à pré-candidatura de Ricardo Coutinho.
O imbróglio prossegue porque, pelo ritual estabelecido, o Tribunal Regional da Paraíba tem por competência inicial analisar a legalidade ou não do registro da chapa encabeçada pelo deputado Anísio Maia e homologada em convenção. Somente esgotado esse procedimento é que a Corte pode se debruçar na análise do pleito da direção nacional do PT por anulação da convenção pessoense na parte referente à chapa majoritária, já que a Sra. Hoffmann não questionou a homologação de candidaturas proporcionais (a vereadores) ocorrida na mesma convenção. Enquanto isso, na falta de uma bússola para adivinhar o que o TRE decidirá, Ricardo Coutinho saca do bolso do colete um nome do PSB para seu vice e, logo em seguida, recebe um sonoro “Não” dos ungidos. Lidera a chapa do “eu sozinho”, o que reforça a situação de isolamento político-partidário a que está exposto na conjuntura atual. O que o sustenta é apenas a ambição, a vaidade de ser, a todo custo, candidato a prefeito de João Pessoa, mais uma vez.
As atitudes tomadas pela dupla Ricardo Coutinho-Lula da Silva desmoralizam o processo político, desrespeitam as leis vigentes e agridem a consciência cívica do eleitorado de João Pessoa, corroborando a tese de que o ex-governador paraibano quer apenas “rosetar” nessa eleição, sem assumir qualquer compromisso de seriedade com a discussão dos problemas da Capital e de alternativas para esses problemas. Profundamente melancólico o espetáculo regido pelos dois políticos.