Nonato Guedes
Uma análise fria do cenário político-eleitoral de João Pessoa, de 1985 para cá, quando foram restauradas as eleições diretas para prefeitos de Capitais, mostra que o Partido dos Trabalhadores teve momentos altos em pelo menos duas oportunidades – em 1992 e em 2012. Em 92, a legenda surpreendeu aos analistas quando o deputado estadual Chico Lopes, candidato lançado, ousou avançar para o segundo turno, dando combate a Chico Franca, do PDT, que substituiu a então candidata Lúcia Braga. Lopes obteve 41,09% dos sufrágios contra 58,91% atribuídos a Franca, que teve o engajamento decisivo no seu palanque do ex-governador Wilson Braga e a manifestação de apoio de Lúcia. Conquanto Franca tenha sido vitorioso, o resultado exprimiu acumulação de força pelos segmentos de esquerda, representados, então, pelo mitológico PT. Empolgados, os petistas diziam que Lopes quase bateu na trave do gol.
Em 2012, o PT chegou ao ápice, com a eleição do então deputado estadual Luciano Cartaxo, que enfrentou no segundo turno o então senador Cícero Lucena, que havia sido prefeito da Capital por duas vezes. Cartaxo enfiou 68,13% dos votos válidos no bestunto, enquanto Lucena, do PSDB, alcançou 31,8%. Este ano, Cartaxo conclui o seu segundo mandato na prefeitura pessoense e Cícero é candidato pela terceira vez, desta feita pelo PP (Partido Progressistas). A desvantagem para o PT resultou do fato de que Cartaxo, uma vez aboletado no cargo, desfiliou-se do partido em meio à repercussão negativa do escândalo do mensalão, assinando ficha no PSD (que foi comandado pelo falecido deputado Rômulo Gouveia) e, depois, no PV, onde ainda se mantém instalado. Os chamados petistas roxos ou ortodoxos nunca perdoaram Cartaxo, embora remanescentes da legenda tenham sido aproveitados em secretarias municipais.
A vitória de Cartaxo em 2012 pelo PT, na verdade, foi facilitada pela aliança que ele fez com Luciano Agra, que assumiu a titularidade com a renúncia de Ricardo Coutinho para disputar o governo do Estado em 2010. Agra se movimentou dentro do PSB para conseguir apoio ao que seria sua candidatura à reeleição a prefeito, mas foi vetado ostensivamente por Ricardo Coutinho, que já controlava a sigla socialista no Estado. Em represália, Luciano Agra e o jornalista Nonato Bandeira aliaram-se contra a candidata imposta por Ricardo no PSB, Estelizabel Bezerra, e declararam solidariedade a Luciano Cartaxo. Nonato Bandeira, atual secretário de Comunicação de João Azevêdo, foi vice de Luciano Cartaxo na primeira gestão. A candidata Estelizabel Bezerra não sentiu nem cheiro de segundo turno por perto. Sua votação desalentadora pôs em xeque a capacidade de transferência de votos de Ricardo, que todos julgavam soberana, imbatível.
O histórico do PT na Paraíba dá conta que o partido teve o atrevimento de lançar candidato próprio ao governo do Estado já em 1982, apenas dois anos após a fundação nacional da legenda no Colégio Sion em São Paulo. O candidato petista a governador foi o advogado Derly Pereira, que ficou imprensado entre as candidaturas de Antônio Mariz (PMDB) e Wilson Braga (PDS), saindo este vitorioso com larga diferença sobre Mariz. Mesmo com ínfima votação a governador, Derly contribuiu para que o partido idealizado por Lula da Silva fincasse sua bandeira no território paraibano e a partir daí investisse na participação consecutiva em eleições – ora a mandatos parlamentares, ora a cargos executivos. Só nunca conseguiu chegar ao governo do Estado com candidato “puro sangue”, como se diz ainda hoje em política.
Na prefeitura da Capital, não fossem o remorso político de Cartaxo diante do escândalo nacional do mensalão e a sua manobra para sobreviver politicamente, o Partido dos Trabalhadores talvez tivesse tido chances de construir uma hegemonia que lhe possibilitasse alternar o exercício do poder com outros partidos e candidatos. Desde sua entrada na política pessoense, a partir do lançamento de Wanderley Caixe a prefeito em 85, tendo como vice Anísio Maia, apenas em 2008 o PT não indicou candidaturas próprias em João Pessoa. Em 88, concorreu com o professor Carlos Alberto Bezerra, em 92 com Chico Lopes, em 96 e 2000 com Luiz Couto e em 2004 com Avenzoar Arruda. Em 2008, os petistas fizeram acordo para apoiar Ricardo Coutinho, que postulava, então, sua reeleição, assegurada nas urnas. Em 2012 ganharam com Luciano Cartaxo e em 2016 lançaram, sem chances, o professor Charliton Machado. A disputa de 2016 consagrou a reeleição de Cartaxo, já no PSD, derrotando Cida Ramos, indicada do bolso do colete de Ricardo Coutinho.
Há um quadro de suspense sobre o cenário de 2020 para prefeito da Capital no que tange à posição do PT, envolto em luta fratricida depois que o ex-governador Ricardo Coutinho, pré-candidato pelo PSB, manobrou para tomar para si o tempo de televisão dos petistas. Em stand by está o deputado Anísio Maia, que foi homologado em convenção candidato próprio do PT à sucessão de Luciano Cartaxo. Ricardo, que saiu do PT dizendo cobras e lagartos da legenda, não vive sem ela. É o seu instrumento preferido de manipulação na política-partidária. A diferença é que sua investida, agora, pode custar muito caro ao próprio PT, cuja imagem volta a ficar desmoralizada perante setores da opinião pública paraibana. O apoio a Ricardo em 2020, dizem alguns analistas, pode custar o pescoço do PT no cenário estadual, onde poderia ressurgir das cinzas como a Fênix. Fenômeno curioso, o PT é um partido desgastado, mas ainda cobiçado – para alianças.