Nonato Guedes
Volta e meia o empresário Ney Suassuna está senador pela Paraíba. Parece que é a sua sina, seja como titular legítimo do mandato, seja como suplente alçado à titularidade, como agora, quando se prepara para assumir na vaga do senador Veneziano Vital do Rêgo (PSB), que vai se dedicar a campanhas eleitorais, entre as quais a da esposa, Ana Cláudia, que concorre à prefeitura de Campina Grande. Ney volta repaginado acompanhando a dinâmica política. Já foi aliado de Fernando Henrique Cardoso, de Luiz Inácio Lula da Silva, agora define-se como aliado e eleitor do presidente Jair Bolsonaro. Já foi do PMDB e de outras legendas, agora está aboletado no Republicanos.
Uma coisa que não muda na personalidade de Ney Suassuna é a missão a que se destina: trabalhar pela Paraíba. Este é um ponto inquestionável da sua trajetória desde que entrou na política com o aval do senador Antônio Mariz, daí compondo-se com lideranças, com algumas das quais rompeu (como com José Maranhão), seguindo o enredo ou o desideratum natural da atividade política brasileira. Quando Ney afirma, como sentenciou desta feita, que suas posturas, ao reassumir mandato de senador, serão sempre “em defesa da Paraíba”, o paraibano confia na assertiva porque é testemunha do que pautou a sua biografia nas ocasiões em que ascendeu ao mandato.
Ney Suassuna sempre foi tratado na Paraíba, pela mídia impressa – numa época em que havia mídia impressa forte e ativa – como um “trator”, pela desenvoltura e habilidade com que abria portas em ministérios e órgãos do governo federal em Brasília para carrear obras e recursos para o Estado que representa no Congresso. É claro que a atuação de Ney nem sempre foi consensual. Por muito tempo ele foi estigmatizado por setores da opinião pública como “senador da Barra”, referência à Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, onde edificou residência e escritório de negócios. A comparação, conquanto jocosa, era injusta, de certa forma, com a dedicação do senador Ney Suassuna às causas de interesse da Paraíba.
O problema é que Ney dividia-se, no exercício do mandato parlamentar, entre a defesa de pleitos da Paraíba e do Estado do Rio. Chegou mesmo a ser festejado por políticos fluminenses como “o quarto senador do Rio”, pelo empenho que devotou a demandas e reivindicações de interesse da população daquele Estado cujo governador afastado enfrenta processo de impeachment na Assembleia Legislativa. Em favor de Ney, é possível argumentar que os pleitos que ele procurava carrear para o Rio não eram concorrentes com as demandas da Paraíba – desse ponto de vista, Suassuna conciliava a agenda sem prejudicar ninguém. Nesse ponto, ele foi mais autêntico e mais justo do que um filho natural da Paraíba, que fez carreira política no Rio e que parecia ter prazer em privilegiar aquele Estado e sacrificar seu berço legítimo – o ex-cara-pintada Lindbergh Farias, do PT.
Na famosa briga pela divisão dos royalties do petróleo, extraídos da camada do pré-sal que havia sido recém-descoberta em Estados produtores, Lindbergh Farias foi o “anti-paraibano por excelência”, devido à postura veemente com que se colocou contra o rateio de recursos para Estados não-produtores como a Paraíba. De forma intransigente, postulou que o Estado do Rio contava com os recursos do pré-sal como “a salvação” para o colapso econômico-financeiro que enfrentava – e que, como se descobriu depois, decorria de desvios de recursos por parte de governadores que acabaram sendo condenados pela Justiça por envolvimento em escândalos de notória repercussão. Lindbergh travou duros embates com o senador paraibano Vital do Rêgo (Vitalzinho), hoje ministro do TCU, que pleiteava a destinação de uma nesga do dinheiro do pré-sal para regiões espoliadas como o Nordeste.
Mesmo quando derrapou para o folclore político nacional ao protagonizar cena atípica em Brasília, em que empilhou latas d’agua vazias (que despencaram estrepitosamente), Ney Suassuna estava defendendo os interesses mais urgentes da população paraibana e da população nordestina em geral. Era a sua forma de protestar contra a desassistência e insensibilidade do governo federal para com o recorrente panorama de estiagem, seguido pelo corolário de mazelas, tais como a fome e sede que acometiam famílias inteiras, fustigadas por outras consequências nefastas como o desemprego e a migração, fatores que sempre estiveram na origem da problemática pensada por nordestinos ilustres como o paraibano Celso Furtado, cujo centenário se celebra este ano.
Como vai ser a atuação do senador Ney Suassuna nessa nova passagem pelo Congresso Nacional? Um prognóstico difícil de arriscar. Cada conjuntura é uma conjuntura, e a de agora é particularmente atípica e restritiva, com as medidas tomadas por causa da pandemia do novo coronavírus, que atinge indistintamente parcelas do território nacional mas que penaliza, sobretudo, regiões carentes como o Nordeste. Pelo tom das suas declarações, evidencia-se, porém, um aspecto: o compromisso inarredável com a defesa do Estado. Esse é seu mantra, faça chuva ou faça sol, seja qual for o governo de plantão, ou a conjuntura reinante no país. Ney mantém-se fiel ao “Partido da Paraíba”, como definiu certa vez.