Nonato Guedes
Um levantamento preliminar realizado pelo site “Congresso em Foco” revela que as eleições municipais de 2020 terão o menor número de parlamentares candidatos desde 1992. Este ano, 69 parlamentares – 67 deputados federais e dois senadores – irão se candidatara a algum cargo nas eleições municipais de novembro. Uma das candidatas é a deputada federal Luíza Erundina, natural da Paraíba, mas representante de São Paulo, que integra a chapa de Guilherme Boulos (PSOL) à prefeitura da Capital paulista na condição de vice. O deputado federal paraibano Ruy Carneiro (PSDB) concorre à prefeitura de João Pessoa. Dados do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) mostram que a média histórica era de 94 nomes. A deputada federal Edna Henrique, é candidata a vice-prefeita na cidade de Monteiro, no cariri paraibano.
Os registros das candidaturas se encerraram no último fim de semana e, inicialmente, era esperado um número maior de candidatos, porém, houve redução porque muitos parlamentares retiraram suas candidaturas em prol de apoio a outros postulantes. Segundo o Diap, o pleito de 1996 havia registrado o maior número de candidatos: 121, dos quais 117 eram deputados federais e quatro senadores. O menor número já registrado tinha sido nas últimas eleições municipais, de 2016, com total de 83 congressistas postulantes, sendo 81 deputados e dois senadores. Segundo a cientista política Giuliana Franco, as convenções partidárias funcionam como um termômetro para que o parlamentar identifique o apoio dentro do próprio partido e da base eleitoral.
– Existe a tendência de os parlamentares, de uma maneira geral, nas convenções partidárias, colocarem seus nomes para fazerem esse teste dos correligionários – avaliou ela. Neuriberg Dias do Rêgo, especialista do Diap, explica que os deputados e senadores tendem a usar este momento de disputas municipais para construir suas bases para a reeleição. “Muitos parlamentares estão trabalhando com essa perspectiva de ter candidato ou apoiar a reeleição de algum prefeito do que ele próprio disputar”, disse. Os dois especialistas concordam que o pleito deste ano será bastante disputado, especialmente para o cargo de vereador, dado que a reforma política de 2017 impediu as coligações para cargos proporcionais. “Vai haver uma maior competitividade agora. Em função disso, os vereadores que vão buscar a reeleição vão num cenário muito dividido, com muitos candidatos”, frisou.
As eleições municipais também servirão para testar nas urnas a força do bolsonarismo. Neuriberg afirma que, como a popularidade do presidente Jair Bolsonaro está alta, o número de candidatos próximos a ele tende a ser elevado, muitos dos quais virão das bases militar e evangélica. Por sua vez, a esquerda estará pulverizada e coligações históricas não serão verificadas este ano. Um exemplo é o PCdoB, que lançou candidatura própria na capital paulista, rompendo tradição. Espera-se também que a disputa ideológica nacional esteja refletida nas eleições municipais. Nesse contexto, o PT e o PSL devem antagonizar. A analista política Giuliana Franco pontua que o PT ainda é o maior partido de esquerda a fazer o contraponto ao bolsonarismo, enquanto o PSL, antigo partido do presidente, continua tendo forte vinculação. “Como o presidente não tem legenda ficou sem partido, o PSL ainda está associado ao nome dele”, pontuou Giuliana.