Nonato Guedes
De 24 partidos que contam, atualmente, com representação na Câmara dos Deputados, 12 são aliados fiéis do presidente Jair Bolsonaro. Os deputados dessas legendas votaram de acordo com a orientação do líder do governo em 90% das votações nominais da Casa. Com isso, o presidente tem na Câmara 318 parlamentares filiados a partidos muito próximos de seu governo. Nesse grupo estão o PSL, Patriota, DEM, PSC, Novo, PSDB, MDB, PP, Republicanos, PL, PSD e PTB. Os dados são derivados do chamado “índice de governismo” dos parlamentares, a mais nova funcionalidade da ferramenta “Radar do Congresso”, plataforma de dados do site “Congresso em Foco”.
O levantamento leva em conta 347 votações nominais realizadas entre fevereiro de 2019 e fevereiro de 2020 na Câmara. Já no Senado foram avaliadas 230 votações nominais realizadas entre fevereiro de 2019 e setembro de 2020. Além desses aliados fiéis, Bolsonaro conta ainda com outros seis partidos que possuem taxa de alinhamento ao governo superior a 50%. Ou seja, votam mais com o governo que com a oposição. Esse grupo é composto por 52 deputados que integram os seguintes partidos: Podemos, Solidariedade, Cidadania, Pros, Avante e PV. Por fim, há um conjunto de seis partidos cujas votações em plenário expressam oposição ao governo: PDT, PSB, Rede, PCdoB, PT e PSOL formam 131 deputados.
A radiografia recém-divulgada mostra que o governo do presidente Jair Bolsonaro, apesar das turbulências que costuma ocasionar na política, consegue situar-se em céu de brigadeiro no Congresso Nacional. É evidente que para manter a fidelidade ou o “índice de governismo” no Parlamento, o mandatário precisa fazer concessões – geralmente de interesse fisiológico dos políticos. Nesse sentido, é de se mencionar o exemplo do chamado “Centrão”, um agrupamento que se espalha por diferentes partidos, geralmente à direita e ao centro, e que dá suporte à governabilidade pretendida por Bolsonaro, principalmente em votações de matérias consideradas polêmicas, como a da reforma da Previdência, que pode custar impopularidade aos próprios políticos. O Planalto administra com habilidade os apetites do “Centrão” e os votos de parlamentares que preferem “carreira solo”, sem se vincular necessariamente a um agrupamento, mas estando disponíveis, seguramente, para votar com o governo.
Chama a atenção a facilidade com que Bolsonaro se move no terreno da sobrevivência política pelo fato de que ele não insiste em vestir o figurino político tradicional – em alguns casos, até o repele, passando a impressão de ser sempre um “outsider” na atividade. Acresce a isto o fato de que o presidente da República mantém-se desligado de filiação a qualquer partido político, desde que abandonou as hostes do PSL, pelo qual se elegeu ao Palácio do Planalto em 2018. A saída de Bolsonaro do PSL foi traumática, no bojo de lavagem de roupa suja com dirigentes da legenda e de versões sobre lançamento de candidaturas laranjas que teriam sido financiadas com recursos do Fundo Partidário. Na sequência, o presidente cogitou formar o próprio partido – o Aliança pelo Brasil, que, no entanto, se revelou um fiasco até agora, não logrando, sequer, marcar presença nas eleições municipais deste ano.
Bolsonaristas afiançam que o presidente não se preocupa com o fiasco da experiência de formação do Aliança pelo Brasil porque o seu interesse concreto não é focado propriamente nas eleições municipais de 2020 e, sim, nas eleições gerais de 2022, quando pretende se candidatar à reeleição ao Palácio do Planalto. Seja como for, a estratégia de costuras para 2022, queiram ou não, passa pelas costuras políticas que foram feitas este ano, principalmente em Capitais e cidades médias importantes do território nacional. O presidente apenas não quer passar recibo da sua inapetência como “tarefeiro”, ou seja, como organizador de partidos políticos. A sua trajetória saltitante pelas legendas mostra um perfil de pouca ligação estreita com siglas.
Há outros dados interessantes na radiografia que agora vem a público sobre o mapa dos partidos políticos no Brasil e o tal índice de governismo porventura latente nas suas fileiras. Constata-se, por exemplo, que embora tenha sido renegado pelo capitão, o PSL, que lhe deu régua e compasso para o registro da candidatura presidencial, é quem possui a maior taxa de alinhamento a Bolsonaro. Ou seja, a cúpula do partido, presidida por Luciano Bivar(PE) rompeu com ele mas a base parlamentar vota com o governo, até por afinidade ideológica. O PSOL é o partido menos alinhado ao governo, por razões óbvias: além de situar-se no campo da esquerda radical, divide espaços com o Partido dos Trabalhadores pela conquista da hegemonia nas eleições deste ano, rumo às eleições presidenciais de 2022. O que se deduz é que, quando o calendário for virado e 2022 se aproximar, o Planalto estará mais atento na articulação política e, consequentemente, na garantia da base de apoio no Congresso Nacional e fora dele. Será a hora da onça beber água.