A disputa pelo comando das maiores cidades do Brasil terá uma profusão de candidaturas e um desenho partidário diferente do ocorrido há quatro anos, nas eleições municipais de 2016. Grande derrotado naquele ano, o PT é o campeão de candidaturas nos grandes centros urbanos que podem ter segundo turno – 79, mas, em 43% deles está isolado, sem o apoio de outras siglas. Nas restantes, em que encabeça uma aliança, a coligação em geral é formada por partidos médios ou pequenos de esquerda, sem presença robusta do centro que transitou em sua órbita durante as gestões de Lula da Silva e Dilma Rousseff.
Uma reportagem da “Folha de S. Paulo” revela que o MDB, por exemplo, que foi vice de Dilma Rousseff, só apoia o Partido dos Trabalhadores em Contagem (Minas Gerais). O PP, que hoje lidera o apoio do Centrão ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), em outras três. Aliado a isso, partidos identificados ao bolsonarismo avançam para o topo do ranking de número de candidatos, embora eles também reúnam concorrentes com um grau maior ainda de isolamento, o que é um indicativo de candidaturas frágeis. Um mapeamento da “Folha” abrange 95 municípios que, por terem mais de 200 mil eleitores, podem ter segundo turno caso nenhum dos candidatos consiga a maioria dos votos válidos. A lista inclui 25 capitais e outras 70 cidades, ao todo, 40% da população brasileira mora nesses locais.
Há quatro anos, a polarização nacional entre o PT do ex-presidente Lula da Silva e o PSDB do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ainda se refletia nos grandes centros urbanos. Isso levava esses dois partidos a serem os campeões no número de candidaturas competitivas nessas cidades – quase 60 cada um, ressalvado o PSOL, que lançou mais candidatos ainda, porém, como forma de marcar posição, não conseguindo eleger ninguém. Abertas as urnas em 2016, o PT saiu como o principal derrotado, reflexo direto da corrosão do capital político do partido e do impeachment de Dilma Rousseff, ocorrido poucos meses antes. Fernando Haddad, principal aposta da sigla, não conseguiu se reeleger em São Paulo. O partido perdeu ainda mais da metade das prefeituras que havia ganho em 2012. Já o PSDB comemorava a vitória na capital paulista, com João Doria, e a ampliação do número de prefeituras conquistadas.
Agora, a meta declarada do PT é tentar se reerguer por meio do lançamento de candidaturas competitivas nas principais cidades do país. Na maior dela, porém, Jilmar Tatto está isolado, sua candidatura não tem apoio formal de nenhum partido e ele ficou com apenas 2% das intenções de voto em pesquisa Datafolha, deixando pelo menos por ora o papel de protagonista da esquerda na disputa para Guilherme Boulos, do PSOL, que teve 8%. Entre as apostas da sigla está novamente a deputada Benedita da Silva, no Rio de Janeiro, Marília Arraes, no Recife, e Denice Santiago, em Salvador. “O PT se preparou bem para essas eleições. É o que tem mais candidatos com cabeça de chapa nas cidades com segundo turno, é o primeiro lugar. Isso mostra muito bem a força do PT, com migração das pequenas cidades para os grandes centros urbanos e cidades polo em cada Estado”, afirma o deputado federal José Guimarães (CE), responsável pelo grupo de coordenação eleitoral do partido.
Nas grandes cidades, o PT tem o apoio do PSB em cinco, com destaque para Salvador. Em 8, do PDT, em 9, da Rede, e em 20, do PCdoB. Siglas vinculadas ao bolsonarismo, como o PSL, partido pelo qual o presidente da República atual se elegeu, e o PRTB do vice-presidente Hamilton Mourão também aparecem agora no topo da lista de candidatos a governar as maiores cidades, situação bem diferente de 2016, quando tiveram menos de10 candidatos cada um nos grandes centros urbanos. Assim como o PT, porém, esses dois partidos têm alto índice de candidatos que vão para a disputa de forma isolada – 74% no caso das 46 candidaturas do PRTB e 48% no caso das 50 candidaturas do PSL. Três capitais – Curitiba, Goiânia e Porto Velho, além de Santos (SP) e Contagem (MG) têm o maior número de candidatos a prefeito inscritos, 16 em cada uma delas.