Nonato Guedes
A avassaladora hegemonia masculina na disputa eleitoral pela prefeitura de João Pessoa não assusta a candidata do PV, Edilma Freire, apoiada ostensivamente pelo prefeito Luciano Cartaxo. Nas intervenções que tem feito em entrevistas ou debates em meios de comunicação, ela assume o rótulo de candidata chapa-branca municipal, defende a gestão de oito anos empalmada pelo parente ilustre e seu principal cabo eleitoral, mas luta para se impor com personalidade e ideias próprias concebidas sobre o modo de administrar os desafios da Capital paraibana. Natural da cidade de Paulista, no Sertão, Edilma tem como portfólio pessoal a sua atuação à frente da secretaria de Educação do município, sem deixar de procurar exibir desenvoltura quanto ao domínio de outros temas, como o da Saúde Pública, da infraestrutura, do saneamento básico.
Com uma trajetória focada em escolas, creches e conselhos tutelares, residindo num bairro popular e populoso de João Pessoa, Edilma faz sua estreia na atividade política e parece considerar que isto é um desdobramento natural da atuação na vida pública. Aborda qualquer assunto, como a questão desafiadora do transporte coletivo, com naturalidade e conhecimento de causa, até por ter sido usuária desse sistema como moradora de João Pessoa. Tem uma visão futurista do destino que está reservado à Capital paraibana e, com a mesma intensidade com que defende a continuidade de políticas públicas que, a seu ver, estão dando resultado, promete otimizar essas políticas e aprimorá-las para que se tornem mais eficientes, em consonância com as demandas da população da maior cidade da Paraíba.
Ela se jacta de pilotar uma chapa 100% feminina, já que sua vice é a arquiteta Mariana Feliciano, filha da vice-governadora Lígia Feliciano (PDT) e do deputado federal Damião Feliciano, presidente estadual do partido. Passa ao largo das insinuações sobre a companheira de chapa não ter maior identificação com João Pessoa, muito menos com os problemas da cidade em suas diferentes vertentes, preferindo apostar em que, se eleita, dela terá valiosas e oportunas contribuições à expansão do planejamento urbanístico da Capital e ao cumprimento de metas de crescimento que constituem corolário de expectativas dos setores mais carentes. A professora Edilma aparenta ser muito confiante quanto ao seu potencial de “fazer” por João Pessoa – para ela, a condição de ter integrado a administração municipal é uma credencial para se sentir preparada a gerir os múltiplos desafios que uma Capital apresenta.
Até o momento não dá para aferir um virtual “timing” eleitoral da candidata do Partido Verde, pela circunstância de que não se divulgou nenhuma pesquisa de credibilidade que possa dimensionar intenções de voto ou aferir percentuais de preferência por nomes postos na mesa, num universo de pelo menos 14 postulantes, inclusive figuras carimbadas como o ex-governador e ex-prefeito Ricardo Coutinho (PSB) e o ex-prefeito e ex-governador Cícero Lucena (ex-PSDB, atual PP). O que se cogita nos bastidores políticos é que haverá um teste simultâneo, nas hostes oficiais, sobre a capacidade de transferência de votos do prefeito Luciano Cartaxo e sobre o nível de receptividade que a candidatura de Edilma possa desencadear junto ao eleitorado. Há apenas duas candidaturas femininas à prefeitura municipal – a dela e a da sindicalista Rama Dantas, que concorre pelo PSTU e apregoa bandeiras consideradas radicais ou sectárias.
No que diz respeito à candidata Edilma Freire, cabe recordar que ela foi escolhida ao preço de insatisfações políticas na base de apoio do prefeito Luciano Cartaxo, que, segundo os analistas, demonstrou inabilidade para conduzir pretensões dentro do seu bloco. Ex-secretários da administração como Diego Tavares (atualmente no exercício do mandato de senador), Socorro Gadelha e Daniela Bandeira foram estimulados a viabilizar-se como alternativa num leque de opções que se dizia estar em aberto nas hostes oficiais pessoenses. Quando foi batido o martelo pelo nome de Edilma, a sensação entre os demais postulantes foi de ocorrência de jogo de cartas marcadas, e isto trouxe como consequência o rompimento dos ex-secretários com a liderança do prefeito Luciano Cartaxo. Diego, por pertencer a uma família com tradição política, foi quem protagonizou a defecção mais ruidosa do esquema do prefeito, a ponto dele declarar com firmeza apoio à candidatura de Cícero Lucena, que em uma de suas gestões na Capital teve como vice-prefeito o médico Reginaldo Tavares, pai do suplente de senador. Luciano Cartaxo tem minimizado as defecções e insatisfações.
A extensão de eventual dano político-eleitoral à candidatura de Edilma, dentro de um esquema que teoricamente dispunha de várias possibilidades e alternativas mais seguras, para além do quadro de secretários da administração municipal, obviamente só pode ser conferida lá na frente. Se não há dúvidas quanto ao preparo da Sra. Edilma Freire na gestão pública, pilotando cargo mais importante como o de prefeita, qualquer projeção sobre sua performance eleitoral, mesmo a dados de hoje, é uma incógnita. Ou seja, pode acontecer tudo, inclusive nada, quanto ao seu potencial como candidata. A candidata precisará ser melhor assessorada, inclusive, em questões políticas, com as quais não demonstra maior afinidade ou empatia. Queiram ou não, apesar de tumultuada, a disputa deste ano na Capital, pelo controle da prefeitura, é jogo pesado – para profissionais, não para amadores.