Nonato Guedes
O deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) está na contagem regressiva para concluir seu período como presidente da Câmara Federal e desde já as análises feitas sobre a sua gestão são positivas, conforme avaliações de expoentes da própria esquerda, que destacam a firmeza com que ele agiu diante de ímpetos autoritários do governo do presidente Jair Bolsonaro. Maia é encarado como um cumpridor de compromissos e ao mesmo tempo um fiador da estabilidade democrática, operando, quando necessário, como contraponto direto ao Planalto e, em outras ocasiões, como colaborador da governabilidade, tal como se deu no empenho para acelerar a votação da reforma da Previdência, entre outras matérias controversas encaminhadas ao Congresso, fazendo dobradinha com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre.
Um ponto mencionado no perfil de Rodrigo é o da sua atuação de forma colegiada, o que lhe permitiu construir pontes sólidas junto a deputados de diferentes partidos ou ideologias. Como revelou o site “Congresso em Foco”, em reportagem sobre o estilo agregador de Rodrigo Maia, ele colocou pessoas que lhe são próximas na discussão, por exemplo, da reforma tributária, como o deputado paraibano Aguinaldo Ribeiro, do PP, relator do texto, e o deputado Baleia Rossi, do MDB-SP, autor da principal iniciativa sobre o tema na Casa. Os dois deputados são apontados como prováveis candidatos de Maia na eleição para o comando do Poder Legislativo em fevereiro de 2021. Um outro deputado que faz parte do grupo político de Maia, no Rio de Janeiro, Pedro Paulo, foi responsável pelo texto de socorro financeiro a Estados durante a pandemia do novo coronavírus, além de ser o autor de uma Proposta de Emenda à Constituição que facilita o corte de despesas da máquina pública.
O presidente Jair Bolsonaro tem um humor oscilante em relação à figura do deputado Rodrigo Maia, ora cobrando mais fidelidade dele aos interesses do Palácio do Planalto, ora incensando-o e tornando público seu agradecimento pela atuação decisiva do deputado pelo Estado do Rio na votação de matérias em caráter de urgência urgentíssima. Se fosse mais justo nas suas avaliações ou nos juízos de valor que costuma emitir, o presidente da República deveria ser grato a Rodrigo até o fim da vida por um único motivo: ele não colocou em pauta qualquer dos inúmeros pedidos de processo de impeachment contra o chefe da Nação. Bastava uma canetada do presidente da Câmara para o processo andar e para o governo desandar, tanto no ritmo das ações como na oferta de resultados à sociedade. Rodrigo procurou o caminho do equilíbrio para não tornar as coisas piores em meio à calamidade ocasionada pela pandemia do coronavírus. Em outras palavras: Maia tem se comportado à altura da gravidade do momento histórico.
Na matéria que assinou para o “Congresso em Foco”, o repórter Lauriberto Pompeu informou que é de responsabilidade do dirigente da Câmara escolher quem vai ficar com a relatoria de projetos de lei, presidir comissões e grupos de trabalho. Com a pandemia do coronavírus, o poder do chefe da Casa Legislativa foi ampliado, já que as comissões não funcionam e todas as matérias são analisadas diretamente no plenário. “É possível perceber um padrão nas escolhas de Rodrigo Maia para papéis de destaque). Na Câmara: geralmente são privilegiados os deputados que fizeram parte da base de apoio que deu votos para que Maia fosse escolhido em 2019 para o terceiro mandato à frente da Câmara Federal”, destaca Lauriberto, adiantando que não raro o congressista faz reuniões informais em sua residência oficial com esses deputados com quem tem afinidades.
Integram o grupo mais próximo de Rodrigo os deputados Baleia Rossi, Carlos Sampaio (PSDB-SP), Efraim Filho (DEM-PB), Elmar Nascimento (DEM-BA), Fernando Coelho Filho (DEM-PE), Tabata Amaral (PDT-SP), Felipe Rigoni (PSB-ES), Orlando Silva (PCdoB-SP), André Figueiredo (PDT-CE), Marcos Pereira (Republicanos-SP), Aguinaldo Ribeiro, Pedro Paulo (DEM-RJ), Enrico Misasi (PV-SP), Leo Moraes (Podemos-RO). Na lista estão incluídos não só partidos de centro-direita, mas também alguns de esquerda, como o PCdoB e PDT. As duas siglas apoiaram Maia na eleição interna da Câmara em 2019. Neste ano, por exemplo, o deputado Orlando Silva, do PCdoB-SP, foi designado para dois papéis importantes – a relatoria da MP que permite cortar jornadas e salários durante a pandemia e a coordenação de um grupo de trabalho para fechar um texto que regulamenta o combate às notícias falsas.
Ciro Gomes, ex-candidato a presidente da República e um dos principais nomes do PDT, explicou que o partido fez exigências para apoiá-lo à presidência da Câmara e que Rodrigo Maia tem cumprido rigorosamente os compromissos. Uma delas foi a de obrigar Jair Bolsonaro ao jogo democrático. “A história vai registrar que ele (Rodrigo Maia) foi o mais gravemente responsável para impedir que Bolsonaro levasse o Brasil a uma guerra contra a Venezuela”. Quando decidiu pelo apoio à reeleição de Maia em 2019, o então líder do PCdoB na Câmara, Daniel Almeida, disse que a decisão tinha a ver com a necessidade de retomada do prestígio do Poder Legislativo, com um presidente pluralista, devotado ao regimento. Não era uma opção ideológica, mas a opção que daria maior estabilidade à Câmara. Depoimentos assim apenas realçam o papel histórico de Maia e a influência que seguramente ele terá no processo de sua sucessão na Câmara dos Deputados.