Nonato Guedes, com agências
O presidente Jair Bolsonaro explicou, ontem, declaração que fez sobre suposto fim da Lava Jato no seu governo, dizendo que a operação “acabou” apenas no governo federal mas continua nos Estados e nos municípios. Durante “live”, o presidente afirmou: “Impressionante a hipocrisia de muita gente e de grande parte da imprensa. Para o meu governo não tem mais Lava Jato, não temos notícias de corrupção. Então, para nós, a Lava Jato não tem finalidade graças a Deus. Agora, para os demais órgãos do Brasil, Estados e municípios, vai continuar”, enfatizou ele.
O presidente também pontuou que novas operações no âmbito da Lava Jato são deflagradas quase diariamente e mencionou, sem citar nomes, que alguns governadores já receberam três visitas da Polícia Federal. “O pessoal fala que estou acabando com a Lava Jato…Quem fala isso daí ou é desinformado, ou está de má fé, ou está com dor de cotovelo. Um ano e dez meses sem corrupção em nosso governo”, repetiu. A fala original de Bolsonaro fora feita durante a cerimônia de lançamento do programa Voo Simples, no Palácio do Planalto, em Brasília. O presidente disse ter acabado com a Lava Jato porque, segundo ele, não existe mais corrupção no governo.
Apesar da fala do presidente, a prerrogativa de encerrar a Lava Jato não é do Poder Executivo, mas da Procuradoria Geral da República. A possibilidade de encerramento da força-tarefa de Curitiba em janeiro de 2021, como previsto pela PGR, cria incertezas sobre o futuro de uma série de investigações ainda em andamento e tem mobilizado procuradores da equipe a agir pela continuidade da operação, como noticiou a “Folha de S. Paulo”. Políticos e autoridades reagiram quase instantaneamente à declaração do presidente sobre o suposto fim da Operação Lava Jato. Nas redes sociais, o ex-ministro Sergio Moro disse que as tentativas de acabar com a força-tarefa representam a volta da corrupção e um triunfo da “velha política” e dos esquemas que destroem o Brasil e fragilizam a economia e a democracia.
Por outro lado, o presidente criticou, ontem, políticos que romperam com o seu governo e agora usam sua foto para se promover e ganhar votos para as eleições municipais. Citou apenas um caso, o do deputado federal Heitor Freire (PSL-CE), atualmente candidato à prefeitura de Fortaleza. “Pessoas que estavam comigo, depois racharam, viraram inimigas e agora indicam candidatos a prefeito com a minha fotografia do lado. É muita cara de pau desse deputado”, disse o presidente, apontando uma foto para a câmera. Também anunciou que não vai revelar o nome dos candidatos que apoiará a 15 dias das eleições. Bolsonaro adiantou que tem candidato preferido em São Paulo, Santos (SP), Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Fortaleza e Manaus, além de uma candidata ao Senado por Mato Grosso e outras duas à Câmara Municipal de São Paulo. Embora agora fale abertamente em apoiar candidatos a prefeito e vereador, o presidente havia dito, em mais de uma oportunidade, que não se envolveria nas eleições municipais.
Em 28 de agosto, por exemplo, Bolsonaro disse em uma rede social que tem “muito trabalho” e apoiar candidatos tomaria todo o seu tempo. Um pouco antes, em 22 de junho, revelou a apoiadores que não tem partido e que não se envolveria nas eleições municipais, segundo noticiado pelo jornal O Estado de S. Paulo. Ele voltou a usar seu trabalho como justificativa, acrescentando: “Tenho problema de desemprego, cresceu a violência”.