Nonato Guedes
A deputada federal paraibana Luíza Erundina, candidata a vice-prefeita na chapa de Guilherme Boulos (PSOL) à prefeitura de São Paulo, disse em entrevista à revista Fórum que escolheu se unir ao líder do MTST na disputa eleitoral deste ano como forma de levar “esperança” às novas gerações. Hoje com 83 anos, Erundina, que é natural da cidade de Uiraúna, sertão paraibano, afirmou que “o encontro de gerações” pode assustar, mas que ambos estão alinhados em relação à luta popular. “Há 30 anos, governei essa cidade com muitos preconceitos, por ser mulher, nordestina, pobre, assistente social. O paulistano quatrocentão deve ter se assustado. Entendo que a chapa Boulos e Luíza Erundina assusta, mas para outros pode ser algo bom esse encontro de gerações”, analisou.
Erundina destacou que seu projeto político não se restringe à sua geração e que vê em Boulos alguém que pode levar “esse sonho” para frente. “Como já estou na fase final da minha trajetória política, ver um jovem com essas características, com essa generosidade, com esse compromisso de vida, me dá muita alegria. E a esperança para mim sempre foi um sentimento forte. A esperança é revolucionária, não nos permite paralisar, ter medo, não acreditar, se deprimir”, comentou. A deputada acrescentou: “Eu não pensei na mudança só no meu tempo de vida. Acredito que as novas gerações vão sonhar também com essa esperança, com essa certeza de que é possível muar, que a história não anda para trás”.
Ela disse que vê em Guilherme Boulos alguém que vale a pena colocar nas mãos esse sonho, que vai levar para frente muitos outros jovens como ele. Para a candidata a vice, a vivência que teve com a seca no Nordeste foi um dos pilares da sua trajetória na militância. “Uma das minhas características é nunca perder a esperança. Até mesmo pela origem, lá no Nordeste, na seca. Aquela forma como Graciliano Ramos descreve em Vidas Secas. É de fato ter sobrevivido àquilo tudo que marcou minha presença na história. O que eu queria era contribuir com a mudança da realidade, aquela que vivia como a maioria do meu povo no Nordeste e as injustiças que eu precocemente percebia. Eu passei por tudo que alguém pode passar na vida”, explicou.
Erundina acredita também que uma eventual vitória em São Paulo seria um forte instrumento contra o “retrocesso” do governo Bolsonaro. “Conquistar de novo a cidade de São Paulo vai ser um instrumento a mais contra o obscurantismo, contra o retrocesso, contra a violência”, finalizou. A deputada se elegeu prefeita de São Paulo em 1988, concorrendo pelo Partido dos Trabalhadores. Ela enfrentou profundas divergências com líderes petistas e acabou se desfiliando da agremiação e entrando no PSB. Já agora, no final da sua trajetória política, como acentuou na entrevista, é filiada ao PSOL e aceitou concorrer à vice na chapa titulada por Guilherme Boulos.