Nonato Guedes, com agências
Embora seja o partido que lidera em prefeituras nas cem cidades mais populosas do país, com 28, o PSDB registra menos candidatos em 2020 e deverá enfrentar uma queda em número de eleitos, o que é atribuído à perda de fatias do eleitorado em 2018, quando houve a ascensão do bolsonarismo. O eleitorado mais ligado à direita foi arrastado para o PSL e agora pulverizado em diversas legendas, enfraquecendo os tucanos, inclusive, em verbas. Um exemplo concreto do enfraquecimento da legenda tucana se dá na Paraíba, mais precisamente na cidade de Campina Grande, considerado berço do “ninho” dada a influência do “clã” Cunha Lima, representado pelo ex-senador Cássio e pelo seu filho, o deputado federal Pedro Cunha Lima, presidente estadual.
Em Campina, o PSDB perdeu protagonismo nas eleições municipais deste ano, tendo cedido a cabeça de chapa ao PSD, comandado pelo prefeito Romero Rodrigues, que tem pretensão de concorrer ao governo do Estado em 2022 e é aliado declarado e amigo pessoal do presidente Jair Bolsonaro. O PSD lançou o ex-deputado estadual Bruno Cunha Lima como candidato à sucessão de Romero, depois de uma prévia interna em que o deputado estadual Tovar Correia Lima, do PSDB, saiu derrotado. O vice de Bruno é Lucas Ribeiro, do PP, filho da senadora Daniella Ribeiro, que também tem pretensões de disputar o Palácio da Redenção em 2022. Bruno dá combate, como principais rivais, a Ana Cláudia, do Pros, mulher do senador Veneziano Vital do Rêgo (PSB), que conta com o apoio do Cidadania do governador João Azevêdo, e a Inácio Falcão, do PCdoB, que chegou a surpreender em algumas pesquisas de intenção de voto feitas no começo da disputa.
Cássio e Pedro estão engajados à campanha de Bruno Cunha Lima, mas partidários do próprio ex-senador e ex-governador consideram-no pouco motivado desde que enfrentou derrota na tentativa de se reeleger ao Congresso em 2018. Há dúvidas, inclusive, quanto ao projeto político futuro de Cássio, que rejeitou pressões para se candidatar pela quarta vez este ano à prefeitura campinense (ele foi eleito três vezes, numa delas sucedendo ao pai Ronaldo Cunha Lima, graças a concessão da legislação). Integrantes da coligação formada em torno de Bruno garantem que o clima é de unidade entre Cássio e Romero na disputa em andamento e adiantam que o próprio Tovar, derrotado na prévia para escolha de candidatura, está integrado. Em João Pessoa, o PSDB lançou candidato próprio – o deputado federal Ruy Carneiro, que concorre, entre outros, com seu ex-chefe na prefeitura, Cícero Lucena, agora filiado ao PP. O deputado Pedro Cunha Lima é otimista quanto ao desempenho da legenda nas urnas no Estado este ano, mas o partido perdeu força em Guarabira, com a morte do prefeito Zenóbio Toscano, em Patos, Santa Luzia e outras cidades de diferentes regiões.
Conforme levantamento do UOL, o PSDB teve, nas eleições municipais deste ano, no país, uma redução de 25% no número de candidatos a prefeito: de 1.719 em 2016 para 1.296 neste ano. O partido tem postulantes em menos da metade das capitais – 12 ao todo – e tem 84% concorrentes na cabeça de chapa nos 200 maiores municípios do país. Além disso, não conseguiu lançar nomes em cidades que eram dominadas pela sigla há anos no Norte e Nordeste. O UOL pediu ao diretório nacional do partido uma entrevista com algum líder para comentar o cenário, mas recebeu apenas uma nota com números e que destaca que o partido tem candidatos em locais cujas populações somam ao todo 75 milhões de habitantes, o equivalente a 36% da população brasileira. O prefeito de Manaus e um dos nomes históricos do PSDB, Arthur Virgílio Neto, definiu que o PSDB está virando “um partido incolor, inodoro, sem características que o destaquem dos demais”. Virgílio diz que o PSDB enfrenta um processo claro de redução de influência no cenário nacional por conta da falta de uma posição clara no jogo político.
– O PSDB recebeu um aviso na última eleição, muito grave. Não é normal um partido que tem um número radicalmente diminuído, um partido sobre o qual você não lê. Eu vejo as notícias na internet e dificilmente você vê alguém do PSDB no noticiário nem fazendo besteira. Vejo um partido como os outros – afirma. Para o cientista Bruno Silva, da Universidade Estadual Paulista, a “vexatória” campanha de Geraldo Alckmin a presidente da República em 2018 deve ter contribuído para uma recomposição de forças internas no PSDB e para a decisão do partido em caminhar “um pouco mais para a direita”. Diz que o fato é que muitos já haviam desacreditado de Geraldo Alckmin ao longo da campanha, acarretando uma espécie de debandada informal, com o apoio de determinados setores migrando para Bolsonaro.