Nonato Guedes
Neófita em política e priorizando um discurso tecnicista que afasta apoios políticos, a candidata do Partido Verde à prefeitura de João Pessoa, Edilma Freire, lançada pelo prefeito Luciano Cartaxo, enfrenta sérias dificuldades para avançar na fragmentada corrida eleitoral que registra mais de uma dezena de postulantes. Ela começou pontuando, na pesquisa do Ibope-TV Cabo Branco, com 5%, muito aquém da expectativa criada sobre as chances de transferência de votos de Cartaxo, que pilota administração há quase oito anos na Capital, estando na conclusão do segundo mandato consecutivo. A estreia do Guia Eleitoral no rádio e na TV não deu visibilidade maior à candidatura de Edilma, que, pelo contrário, fica “imprensada” na miríade de candidaturas para todos os gostos.
No geral, a gestão de Cartaxo é bem avaliada junto a parcelas do eleitorado pessoense, mas ele não tem logrado a proezade repassar capilaridade eleitoral àsua candidata. Analistas políticos consideram que houve erros de estratégia da parte do alcaide desde o início do processo concernente à sua sucessão, quando ele estimulou candidaturas no núcleo de secretários da administração e, no desfecho, operou com inabilidade política, praticamente impondo o nome da ex-titular da Educação. O enredo desencadeou reações e suspeitas de jogo de cartas marcadas, levando ex-secretários a aderirem à candidatura de Cícero Lucena, do PP, apoiada pelo governador João Azevêdo (Cidadania).
Cartaxo perdeu tempo num processo em que tinha tudo para demonstrar agilidade de decisões e visão estratégica. Optou por solução doméstica, já que a professora Edilma é do “clã” aparentado do atual prefeito da Capital e, com isto, criou mais uma fonte de desgaste que obriga o esquema a correr contra o relógio para recuperar votos dispersos por outras forças políticas que inflacionam o cenário de 2020 em João Pessoa. A manobra de desvalorizar peso eleitoral de ex-secretários que haviam sido incentivados a viabilizar-se foi incoerente com o que o próprio prefeito pregava, ou seja, a ideia de que nomes como Socorro Gadelha, Diego Tavares e Daniela Bandeira eram expressões legítimas de um projeto de gestão “que deu certo”. Confrontado com deserções, Luciano ensaiou movimentos para prestigiar vereadores, conferindo-lhes importância maior do que possuem e, assim, reeditando fórmula de valorização excessiva de “líderes de bairros”, testada em eleições passadas na Capital, e que revelou-se rotundo fiasco, como se deu, por exemplo, na campanha de Hermano Almeida.
Toda a estratégia para fechar com chave de ouro os dois mandatos na prefeitura de João Pessoa, levando para casa o troféu da eleição do sucessor ou sucessora, desandou em semicírculos na órbita do esquema liderado por Luciano, que também não calculou bem a sua própria condição de vitrine maior no território dos ataques políticos. Abstraindo uma ou outra exceção, a maioria esmagadora de postulantes à prefeitura de João Pessoa foca estratégia, principalmente, no combate à administração municipal. Há referências críticas ao governo do presidente Bolsonaro, como elas existem, também, em relação ao governo de João Azevêdo (nesse ponto, o candidato tucano Ruy Carneiro chega a ser mais veemente do que o próprio Ricardo Coutinho, do PSB, rompido com o sucessor desde que ele se investiu no Palácio da Redenção). Mas, em regra, os candidatos cantam a sua aldeia, como menciona o poeta.
O fogo cruzado contra a administração municipal é, assim, a tônica dominante, empalmada tanto por Ricardo, que já foi prefeito duas vezes e que tem afirmado que a Capital está completamente desfigurada por culpa de gestões recentes, quanto por Nilvan Ferreira (MDB), que tem se constituído até agora em surpresa no páreo, Cícero Lucena, que também administrou a cidade por duas vezes, Anísio Maia, do PT, Raoni Mendes, do DEM, entre outros. São várias cabeças disparando mísseis contra o Paço Municipal, exibindo imagens de falhas administrativas e buscando situar-se como contrapontos a “tudo isso que está aí”. A conclusão óbvia é de que a eleição é plebiscitária e que o principal plebiscitado é o prefeito Luciano Cartaxo, por ter se omitido em intervenções essenciais para impulsionar o desenvolvimento de João Pessoa e, em alguns casos, priorizado ações de pouca monta, se comparadas às dimensões alcançadas no bojo do próprio patamar de expansão urbanística da Capital de todos os paraibanos. A conjuntura pedia, da parte do esquema de Luciano, um candidato (a) com preparo não apenas para o debate dos problemas e a proposição de metas inovadoras, mas também com vigor para o confronto a céu aberto com os adversários declarados da administração pessoense.
Faltando um mês e dois dias para a realização do primeiro turno das eleições a prefeito este ano, três candidatos aproximam-se nos percentuais de intenções de voto e, por causa disso, situam-se no topo da liderança do páreo: Cícero Lucena, Nilvan Ferreira e Ricardo Coutinho. Do segundo grupo há possibilidade de ascensão de Wallber Virgolino (Patriota), Ruy Carneiro, do PSDB e, mais remotamente, Edilma Freire, do PV, dentro do zigue-zague que costuma movimentar prélios eleitorais acirrados como o que se verifica este ano em João Pessoa. Edilma, apesar do comovente currículo como educadora, parece “deslocada” em meio ao cipoal de candidaturas e não está conseguindo reagir nem dentro da média vegetativa que analistas fixaram para sua performance. Corre o risco de estancar (dentro da margem de erro, que agora subiu para 4 pontos percentuais), sem a mínima chance de sonhar em passar para o segundo turno. No “staff” de Cartaxo, há muita reza, na torcida e na espera por um milagre.