Nonato Guedes
Há uma expectativa nos meios políticos de que a segunda pesquisa do Ibope para a TV Cabo Branco sobre intenções de votos na corrida pela prefeitura de João Pessoa na eleição de 15 de novembro sinalize com maior precisão as oscilações verificadas no curso da disputa. Afinal, do primeiro levantamento para cá houve ajustes em partidos, candidaturas e coligações, como parte da estratégia de reacomodação para fortalecimento das forças políticas em jogo. A nova pesquisa, cujos números devem ser publicizados na próxima quinta-feira, 22, já deverão, por esse ponto de vista, captar a radiografia mutante e oferecer um quadro mais aproximado de projeções. Afinal de contas, falta menos de um mês para o primeiro turno do pleito.
Disputam a cadeira atualmente ocupada pelo prefeito Luciano Cartaxo (PV) quatorze candidatos, alguns dos quais lograram tonificar o dinamismo da campanha, com chances de ampliar o universo de simpatizantes ou mesmo de eleitores convictos. Na primeira rodada, Cícero Lucena, do PP, apoiado pelo governador João Azevêdo, largou com 18%, seguido pelo radialista Nilvan Ferreira (MDB), com 15%, pelo ex-governador Ricardo Coutinho (PSB), orçado em 12% e, ainda, Walber Virgolino, do Patriota, com 10%. Diante dos percentuais colhidos, com diferenças apertadas, o Ibope e a emissora contratante estimaram a ocorrência de empate técnico entre quatro postulantes – um caso absolutamente inédito no histórico de pesquisas eleitorais na Paraíba, quiçá no Brasil.
A ocorrência inusitada, segundo se explicou, teve origem, igualmente, no fato de, este ano, na metodologia de trabalho do próprio Ibope, a margem de erro inerente a levantamentos de intenção de votos ter passado de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, para quatro pontos. É um conceito polêmico, ainda hoje discutível nas rodas políticas, porque praticamente nivela figuras que estão situadas em percentuais extremos ou equidistantes. Assim é que Virgolino, com 10 pontos, empatou tecnicamente, na metodologia do Ibope, com Cícero, orçado em 18%. E também com Nilvan, com seus 15% e com Ricardo Coutinho, com seus 12%. O comentário dominante passou o de que, devido à eleição atípica, motivada pela pandemia do coronavírus, que impôs inúmeras restrições a partidos e candidatos, os métodos de aferição de tendências também tornaram-se atípicos, para se adaptar ao chamado “Novo Normal” que, na verdade, configura uma conjuntura excepcional ou emergencial.
Ainda que sujeita a regras circunstancialmente mutáveis, como a limitação imposta à pesquisa presencial, ao chamado corpo a corpo com um determinado universo de entrevistados, a pesquisa do Ibope-TV Cabo Branco tem a obrigação de ser minimamente coerente com a tendência média que se descortina junto ao grande contingente de eleitores. Em paralelo, tem o dever de captar e assinalar, para efeito de informação e registro histórico, as mais distintas variações observadas no intercurso entre o primeiro levantamento e este que está sendo levado a campo, porque somente assim será possível dirimir dúvidas e possibilitar a extração, pelos analistas e eleitores em geral, de uma média ponderada envolvendo o cenário político-eleitoral deste ano.
Para o eleitor, enquanto isso, é importante esmiuçar a curva de desempenho dos candidatos de sua preferência, identificando na complexa leitura subjetiva dos números eventuais sinais de migração e, mais subjetivamente ainda, fazendo a exegese das causas ou fatores determinantes dessas oscilações, sobretudo se forem vertiginosas. Os candidatos, por acaso, terão cometido algum erro crasso no Guia Eleitoral, capaz de afastar-lhe votos preciosos ao invés de segurá-los e, ainda por cima, atrair indecisos ou renitentes? Onde terão errado os que porventura vierem a experimentar, na segunda pesquisa, uma queda brusca nas preferências acumuladas na largada? Todo o volume de informações decorrente do painel da segunda amostragem servirá como bússola, principalmente, para quem estava na liderança, em posição aparentemente confortável, mas, de repente, despencou do topo, mergulhando num caminho sem volta, ou seja, sem perspectiva de recuperação de espaços.
Por fim, será importantíssimo aferir nesse segundo levantamento se alguma candidatura do chamado “segundo grupo” conseguiu empolgar eleitores e driblar concorrentes a ponto de avançar para um patamar melhor – ou, até mesmo, surpreendente. Estes são os casos de candidatos como o deputado federal Ruy Carneiro, do PSDB, e a ex-secretária de Educação da prefeitura de João Pessoa, Edilma Freire, do PV, apoiada pelo esquema do prefeito Luciano Cartaxo, há quase oito anos no cargo. Em relação a Edilma, embora não tenha grande atuação no Guia Eleitoral, pode estar capitalizando dividendos na campanha de rua e nas redes sociais ou se beneficiando de reforço que a estrutura municipal sempre oferece. Nos bastidores, há muita aposta em “fator surpresa” – à esquerda, à direita e ao centro.