Nonato Guedes
A segunda pesquisa do Ibope contratada pela TV Cabo Branco sobre intenções de votos na corrida pela prefeitura de João Pessoa mostra um duelo dramático travado entre os candidatos Cícero Lucena (PP) e Nilvan Ferreira (MDB), que praticamente assumiram a polarização da disputa, deixando para trás o ex-governador Ricardo Coutinho (PSB). Além de ter perdido dois pontos em relação ao levantamento anterior, de cinco de outubro, Ricardo mantém-se como o candidato mais rejeitado do páreo, com 53% dos entrevistados respondendo que não votariam no representante do PSB. Depois dele, aparecem no quesito Cícero Lucena com 30%, Nilvan Ferreira e Ruy Carneiro, do PSDB, com 17%.
Com os votos brancos e nulos somando 20% e 7% sem responder ou dizendo não saber em quem votariam, a tendência é de consolidação do duelo entre Cícero, que já foi prefeito duas vezes, e Nilvan, absolutamente neófito em campanhas eleitorais e sem maior identificação com João Pessoa (ele ganhou visibilidade como radialista no Sistema Correio de Comunicação, vindo da cidade de Cajazeiras, no Sertão paraibano). Lucena, que é apoiado pelo esquema do governador João Azevêdo (Cidadania) conta com 21% das intenções de votos e Nilvan aparece com 15%. Como a margem de erro da pesquisa é de quatro pontos percentuais, para mais ou para menos, Lucena e Ferreira estão tecnicamente empatados. Cícero subiu de posição, adicionando mais três pontos percentuais. Já Nilvan estancou, mas demonstra que tem bala na agulha para avançar no tabuleiro.
A evolução do confronto entre Cícero e Nilvan vai depender das estratégias que os respectivos candidatos e apoiadores colocarem em prática de agora em diante. Tanto Lucena como Ferreira procuram evitar o caminho da radicalização ou da agressividade. No Guia Eleitoral, nas inserções, em entrevistas e em outras manifestações públicas, abordam preferencialmente propostas ou sugestões sobre o que pretendem fazer em caso de vitória e fogem, ao máximo, da política de terra arrasada contra os adversários. Isto não os exime de apontar falhas da administração municipal pilotada há oito anos por Luciano Cartaxo, do PV, cuja candidata, Edilma Freire, ganhou um respiro nesta segunda pesquisa, passando para 9%, empatada com Ruy Carneiro.
Ricardo Coutinho, que já teve 12%, está agora abancado em 10%, dividindo metro quadrado com Wallber Virgolino, do Patriota, que possui escasso tempo de propaganda eleitoral, optou por não fazer alianças mais consistentes e aposta todas as fichas na sua vinculação ao presidente Jair Bolsonaro, com quem aparece em inserções no Guia Eleitoral. Anísio Maia, do PT, que tem sido um gigante na luta contra a cúpula nacional do partido para sustentar sua candidatura, repelindo as manobras para apoio a Ricardo Coutinho, não consegue ir além de 1%, num indício de que a queda de braço travada com a direção petista levou-o a perder tempo e espaço. Raoni Mendes, do DEM, que tentava ser uma promessa auspiciosa na conjuntura local, estacionou em 1%, dois pontos abaixo de João Almeida, do Solidariedade, que não apresenta conteúdo de impacto junto ao grosso do eleitorado.
Vale chamar a atenção para o fato de que esta foi a primeira pesquisa promovida pelo Ibope-TV Cabo Branco após o início da propaganda eleitoral, no rádio e na televisão. O índice de confiabilidade é de 95% – e a propaganda eleitoral continua sendo encarada como passaporte valioso para a apresentação de candidatos e candidaturas, bem como para a definição do perfil ideológico e de gestor que os postulantes têm interesse em oferecer ao eleitorado dentro da tática de sedução e atração de votos. Para além de diferentes análises que estão em curso, paira uma constatação: a polarização Cícero X Nilvan quebra, de certa forma, a lógica que alguns analistas queriam imprimir ao processo na Capital paraibana, fiados no prognóstico de que a eleição gravitaria, principalmente, em torno do ex-governador Ricardo Coutinho, que deixou o Palácio da Redenção em dezembro de 2018.
O desgaste de Ricardo Coutinho e a sua incapacidade de ampliar o arco de alianças políticas capazes de dar-lhe sustentação numa campanha que registra 14 candidatos a prefeito estão se encarregando de minar seus espaços e abrir campo para outras alternativas que possam vir a ser testadas. O prefeito Luciano Cartaxo também está na iminência de aparecer como grande derrotado, embora sua candidata Edilma Freire ascenda em corpos de vantagem, insuficientes, por enquanto, para o patrocínio de uma reviravolta. Enquanto os variados postulantes se debatem na teia invisível para crescer, Cícero e Nilvan são desafiados a encarar o tira-teima que a dados de hoje coloca-os na liderança da disputa atípica do ano da pandemia do coronavírus.