Nonato Guedes
Expoentes consagrados da política nacional tentam uma vaga na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro após derrotas nas eleições passadas. Eles falam em “recomeço” e até admitem que se trata de uma “escala” antes de tentar um retorno a Brasília. Experientes, com eleitores fiéis ou cativos, os veteranos atuam como “puxadores de votos” para suas legendas, como informa uma reportagem do UOL. Entre os principais nomes desse cenário na capital fluminense destacam-se o ex-senador Lindbergh Farias (PT), que, inclusive, é natural de João Pessoa, o ex-prefeito do Rio, Cesar Maia (DEM) e o ex-deputado federal Chico Alencar, do PSOL.
O fenômeno se reproduz em outras Capitais do país, ocorrendo indistintamente em partidos de esquerda, de direita ou centro. Aqui mesmo, na Paraíba, já houve episódios dessa natureza. O mais emblemático envolveu o líder político Wilson Braga, que faleceu este ano. Em 1982, ele foi eleito governador derrotando Antônio Mariz. Afastou-se para concorrer ao Senado em 1986, mas não teve sorte e perdeu a vaga para um “azarão” da política, o empresário Raimundo Lira. Indócil por estar sem mandato, Braga lançou-se candidato a prefeito de João Pessoa em 1988, saindo vitorioso do confronto com vários postulantes. Mas logo em 1990 decidiu novamente candidatar-se ao governo – perdeu a parada, em segundo turno, para Ronaldo Cunha Lima. Em 92, na falta de maiores opções dentro do calendário, candidatou-se a vereador em João Pessoa. Foi o mais votado e puxou uma bancada expressiva. Chegou a presidir a Câmara Municipal mas não esquentou cadeira e logo renunciou ao mandato para tentar, novamente, Senado e Câmara Federal. O seu último mandato foi o de deputado estadual, coincidentemente o primeiro da sua trajetória deflagrada em 1954.
No Rio, Chico Alencar já tentou sem êxito ser prefeito do Rio e em 2018 tentou uma vaga ao Senado, sendo derrotado por Flávio Bolsonaro e Arolde de Oliveira (morto nesta semana), que se elegeram embalados pelo fenômeno do bolsonarismo. Ele conta: “Um amigo perguntou se eu seria candidato a vereador depois de ter sido deputado federal. Disse-me que era muita humilhação. Alguns dias depois, outro fez a mesma pergunta e disse que era muita humildade da minha parte. Não acho que seja uma coisa nem outra. É uma missão política em um momento de retrocesso na nossa história”. No PSOL, conforme a reportagem do UOL, trabalha-se com a estimativa de que Chico Alencar possa carrear algo em torno de 100 mil votos. Ele nega que pretenda se candidatar a outro cargo ao longo do mandato. “Enfrento a eleição a vereador como novo desafio, como uma reaproximação da política institucional. Ninguém é mais próximo do eleitor do que o vereador”, jura.
O paraibano e petista Lindbergh Farias concorre à Câmara do Rio “sub judice” após a Justiça ter vetado sua candidatura por supostas irregularidades em anos anteriores. Em meio ao barulho que sua postulação provoca, o polêmico ex-dirigente nacional da UNE e ex-líder dos cara-pintadas (jovens que foram às ruas pedir o impeachment de Fernando Collor de Mello em 1992), mantém firme a opinião de que PT e PSOL deveriam retirar suas candidaturas no Rio e em São Paulo para compor uma frente única de esquerda ainda no primeiro turno. A fala dele ao portal Brasil 247 gerou crise interna no partido, já que Lindbergh defende que Renata Souza (PSOL) desista da eleição no Rio, apostando na migração automática de votos para Benedita da Silva (PT), enquanto Jilmar Tatto (PT) poderia retirar a sua candidatura em São Paulo e declarar apoio à chapa de Guilherme Boulos, do PSOL. Lindbergh não faz “charminho” quanto às suas reais intenções ao disputar cargo de vereador e admite que a eleição pode, sim, ser uma breve escala antes de tentar voos maiores.
Em São Paulo, uma veterana da política que, coincidentemente, também é natural da Paraíba, dispõe-se a permutar o mandato de deputada federal, que atualmente exerce, pela vice-prefeitura da capital paulista. Luíza Erundina, assistente social, com origens em Uiraúna, no Sertão paraibano, é candidata a vice pelo PSOL na chapa encabeçada por Guilherme Boulos. Um detalhe a ser mencionado é o de que Luíza Erundina foi a primeira mulher eleita prefeita de São Paulo, em 1988, concorrendo pela legenda do Partido dos Trabalhadores, com quem, mais tarde, rompeu, ingressando no PSB e, daí, no PSOL. Naquela campanha histórica, Erundina foi estigmatizada triplamente por alguns setores – pela sua condição de mulher, nordestina e petista. E ganhou na raça, cravando um feito extraordinário na vida pública brasileira.
Hoje, há focos de preconceito contra Erundina por outra razão – pelo fato de ser idosa. Mas essa questão tem peso relativo. Afinal de contas, ela já se impôs ao respeito, não só pelas proezas políticas que desencadeou em sua carreira, mas pela lucidez que mantém sobre a pauta política nacional e, em paralelo, os desafios municipalistas. E pela humildade que demonstrou ao aceitar ser vice de Guilherme Boulos, a quem considera expressão da renovação dos quadros políticos nacionais no campo da esquerda. Tanto assim que apesar do engajamento de Lula na campanha de Jilmar Tatto, do PT, Lula faz o contraponto, reforçando a chapa de Guilherme Boulos, o que torna emocionante a campanha eleitoral em São Paulo.