Nonato Guedes
O ex-deputado federal Luiz Couto (PT) foi finalmente exonerado, no final de semana, da secretaria de Agricultura Familiar do Estado pelo governador João Azevêdo (Cidadania) pela sua postura aética de anunciar apoio à candidatura do ex-governador Ricardo Coutinho (PSB) a prefeito de João Pessoa, colidindo com a posição de JA de apoio à candidatura do ex-senador Cícero Lucena (PP) à sucessão municipal. Couto era um ricardista ‘infiltrado” na administração de Azevêdo, que tentou se equilibrar na corda-bamba e servir a dois senhores. Dava a impressão de que despachava com o ex-governador, não com o atual. Tinha a opção de não participar da atual gestão, mas a vaidade e a necessidade falaram mais alto. Ele ficou sem mandato quando foi na onda de Ricardo e candidatou-se ao Senado em 2018, desperdiçando uma provável reeleição segura à Câmara Federal. A performance até surpreendeu na majoritária, graças ao empenho de Ricardo para anabolizar sua postulação. Mas Couto não teve cacife para sair do páreo com a taça.
Em todo caso, Luiz Couto, que militou no PT em tempos remotos ao lado de Ricardo Coutinho e foi por ele destratado pessoalmente durante plenárias antológicas regadas a discussões acaloradas e empurrões que temperaram discussões sobre candidaturas e alianças, foi uma espécie de instrumento de RC para ajudar a barrar a reeleição do tucano Cássio Cunha Lima, o que foi concretizado. Mas os troféus de 2018 caíram nas mãos de Veneziano Vital do Rêgo (ainda filiado ao PSB) e de Daniella Ribeiro (PP). Couto foi incensado por ter tido mais votos que Cássio, que enfrentava o seu pior momento, em meio a “tsunami político” que varreu o Brasil e que pôs na cadeira do Planalto o capitão reformado Jair Bolsonaro. A obsessão de Ricardo, que ele mesmo confessou a jornalistas, era a de derrotar Cássio, com quem se aliou em 2010 para derrotar José Maranhão. Uma estratégia típica do líder dos girassóis, acostumado a usar terceiros e descartá-los com a mesma sem cerimônia. Personalista, Coutinho corteja o poder, em primeiro lugar, para si; em segundo lugar, também, e, havendo espaço, distribui migalhas com agregados que se deixam envolver por sua lábia de “rebelde sem causa”.
Diz-se que há outros ricardistas ‘infiltrados’na administração de João Azevêdo. Há casos conhecidos de aliados do atual governador que não o seguiram nas decisões sobre a eleição municipal deste ano, sobretudo em João Pessoa, mas aparentemente o fizeram agindo com lealdade e transparência mínima, expondo razões pessoais e partidárias como alegadas justificativas para assim deliberarem. A vice-governadora Lígia Feliciano (PDT), por exemplo, tem uma filha, a arquiteta Mariana, como candidata a vice na chapa de Edilma Freire (PV) que é apoiada pelo prefeito Luciano Cartaxo, cujo horóscopo não combina com o decanato de Azevêdo. Um irmão de Mariana, Gustavo Feliciano, é secretário de Turismo e Desenvolvimento Econômico do governo do Estado. O pai de ambos, Damião, é deputado federal e presidente do diretório regional do PDT no Estado. João Azevêdo ficou surpreso com o rumo do “clã” Feliciano, mas preferiu não comprar briga.
Um outro caso é o do secretário de Agropecuária Efraim Morais, ex-senador, ex-deputado federal e ex-deputado estadual, presidente do diretório regional do Democratas (DEM) na Paraíba. Ele lançou a candidatura própria do ex-vereador Raoni Mendes a prefeito de João Pessoa, invocando orientação da cúpula nacional do Democratas para fortalecimento dos quadros partidários e estratégia focada no exercício do protagonismo político em centros eleitorais influentes como a capital do Estado. No círculo palaciano ou no chamado entorno de Azevêdo, avalia-se que cada caso é um caso e que, sendo assim, as posturas de Lígia-Damião e de Efraim são distintas da atitude de Luiz Couto, que, inclusive, tirou “férias” do governo mediante pedindo de licença para poder se dedicar à campanha de Ricardo, o grande adversário político de Azevêdo na atual quadra política paraibana. Fonte do governo lembrava, nas últimas horas, que o gesto de Couto foi intempestivo e, em certa medida, constituiu provocação à autoridade do governador, talvez animado pelo fogo atiçado pelo ex-governador Ricardo Coutinho, o político que mais torce pelo fracasso da gestão de João e pela desagregação no esquema político deste
Além de debochar da autoridade de Azevêdo com seu comportamento prosaico, o ex-deputado Luiz Couto feriu, de raspão, a fidelidade partidária nas hostes do Partido dos Trabalhadores, destoando da deliberação da convenção municipal que homologou a candidatura própria do deputado estadual Anísio Maia a prefeito, em coligação com o PCdoB. Mas, nesse quiproquó, Luiz Couto safou-se porque a cúpula nacional petista, liderada pela presidente Gleisi Hoffmann, alter-ego do ex-presidente Lula, nunca reconheceu como legítima a candidatura de Anísio, inclusive acionando a Justiça, onde enfrentou o perde e ganha, para extirpá-la em definitivo e abrir caminho para o apoio ao ex-governador Ricardo Coutinho, do PSB. Anísio segue no páreo, ainda que empacado em 1%, conforme pesquisa do Ibope, e Ricardo, que queria ter um petista como seu subalterno na chapa, teve que voltar a se coser nas próprias linhas e indicar novamente Paula Frassinetti, candidata reserva das fileiras do PSB, para a vice. Quanto a Luiz Couto, a grande expectativa é constatar se sua pirueta política para chegar a Ricardo injetará à campanha do socialista o reforço de que carece para ir, pelo menos, a segundo turno, Couto é galo apanhado de outras eleições na Capital e, salvo fatores supervenientes, caminha para o ostracismo político, que é inexorável para todos.