Nonato Guedes
Faltando praticamente 20 dias para a realização do primeiro turno das eleições municipais de prefeito e cerca de três meses para o fim do seu segundo mandato, completando um ciclo de oito anos de hegemonia na Capital, o gestor Luciano Cartaxo arregaçou as mangas e entrou em campo para tentar operar um milagre – o de impulsionar a candidatura da sua ex-secretária de Educação Edilma Freire (PV) à sua sucessão. Com a disputa polarizada, hoje, entre o ex-prefeito Cícero Lucena (PP) e o radialista Nilvan Ferreira (MDB) e o meio de campo embolado entre Ricardo Coutinho (PSB), Wallber Virgolino (Patriota) e Ruy Carneiro (PSDB), Cartaxo busca uma proeza em tempo recorde: colocar sua ungida no segundo turno.
A professora Edilma, que se orgulha de comandar chapa 100% feminina por ter como vice a arquiteta Mariana Feliciano, do PDT, filha da vice-governadora Lígia Feliciano, largou no páreo na ponta das últimas colocações num universo de 14 postulantes. Estreante em política, bafejada por laços de parentesco com o alcaide que pretende suceder, sua reação nas sondagens de intenção de votos foi lenta e o crescimento, por via de consequência, tem se dado de forma vegetativa. Na segunda pesquisa do Ibope-TV Cabo Branco, recentemente divulgada, ela despontou com 9%, o que foi saudado como resultado promissor no QG da campanha chapa-branca municipal. Todo o empenho está concentrado, agora, com vistas a turbiná-la, dotando-a de corpos de vantagem que lhe forneçam, pelo menos, um passaporte para o segundo turno, quando o cenário poderá ser outro e estará aberto o campo para outras composições.
Em paralelo à postura mais afirmativa da candidata, contrastando com a acanhada performance da largada, que lhe valeu do ex-prefeito Ricardo Coutinho o apelido de “insossa”, a máquina administrativa pilotada por Cartaxo dá sinais de ter sido azeitada com vistas a favorecer, colateralmente, o desempenho da postulante. Ainda ontem, o prefeito em fim de gestão contemplou outros setores econômicos no cronograma de flexibilização previsto para a retomada das atividades em plena pandemia do coronavírus, que oscila entre a estabilidade e a recaída de casos de contaminação. O alcaide chegou a ser criticado por ter promovido um evento político-eleitoreiro em prol da candidata, aparentemente desobedecendo recomendações de autoridades sanitárias quanto a aglomerações, mas o secretário Adalberto Fulgêncio minimizou as objurgatórias, assegurando que foram seguidos à risca os rígidos protocolos de segurança.
Há dúvidas sobre se a ofensiva lançada por Luciano Cartaxo e seus aliados surtirá efeito do ponto de vista de alavancar a candidatura da ex-secretária Edilma Freire ou se não estará sendo tardia e ineficaz para produzir resultados espetaculares em pouco tempo. O que se alega entre partidários do prefeito é que alguma coisa tinha que ser feita para compensar a inação e a aparente apatia que cercaram o lançamento da candidatura da concunhada de Luciano Cartaxo. O processo de sacramentação de candidatura nas hostes do esquema comandado pelo prefeito foi traumático e arrastado. Acabou preterindo ex-secretários que talvez tivessem mais densidade eleitoral para enfrentar a parada, mas Luciano decidiu pagar para ver com um nome que considera absolutamente confiável para dar continuidade ao projeto de poder empalmado desde janeiro de 2013 no Paço Municipal.
A falta de habilidade do gestor na condução do processo de escolha, cujo desfecho provocou deserções dentro do esquema, contrariando a expectativa de unidade monolítica, dificultou a definição da própria estratégia que havia sido concebida com vistas a massificar a ex-secretária como protagonista de uma “revolução” na área educacional que teria contribuído para João Pessoa avançar substancialmente nos indicadores de progresso, embora, na largada, ela tivesse sido apresentada por Cartaxo como mentora de uma “revolução silenciosa”, o que causou espécie entre analistas políticos. Por outro lado, Cartaxo está tendo que conviver com o bombardeio incessante dos adversários que miram, sobretudo, a administração municipal, dentro da concepção de plebiscito do período de oito anos por ele enfeixado. A campanha é um turbilhão para quem está no comando da prefeitura e a situação se complica por causa dos desafios diários que colheram este último ano de gestão no auge de uma calamidade pública que surpreendeu a todos.
Conhecido pela teimosia nos pontos de vista e na elaboração de estratégias políticas e de ações de governo, o prefeito Luciano Cartaxo parece ter-se dado conta de que a eleição de 2020 é decisiva para a sorte do próprio “clã” familiar que ele tanto prestigia – afinal, a partir do primeiro dia de janeiro de 2021 ele estará sem mandato e sem poder. Precisará ter, pelo menos, um provável porto seguro para pavimentar pretensões maiores e mais arriscadas no jogo político, fixadas no calendário que desabrochará em 2022. O grande desafio para Luciano, como já foi para outros administradores, é o de transferir votos, um mecanismo que requer muita empatia e carisma. Em 2014 e 2018, quando tentou eleger o irmão gêmeo Lucélio senador e governador, a tática não funcionou concretamente. Com Edilma, Luciano tentará quebrar um tabu e firmar-se como líder estadual. Se perder o poder, um recomeço ou ensaio de novos planos serão indiscutivelmente mais difíceis ou espinhosos para o “clã” que ele comanda.