Linaldo Guedes
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Escritor premiado, Rinaldo de Fernandes vai do romance ao conto com a mesma capacidade narrativa. Quem duvida, basta conferir seu novo livro, intitulado “A Paixão Mortal de Paulo”, lançamento da editora 7Letras, do Rio de Janeiro. A obra já se encontra à venda no site da editora.
O livro é composto por 112 contos breves, com exceção de “Luana e Rosa”, que, a pedido da ensaísta gaúcha Regina Zilberman (a quem Rinaldo dedica o conto no livro), foi publicado anteriormente num site de uma universidade americana como amostra da prosa brasileira contemporânea. Não há no livro divisões em partes ou seções.
O título do livro foi escolhido através de enquete realizada por Rinaldo em sua rede social. Na verdade, ele enviou para a editora os originais com o título de um dos contos: “A mulher que sequestrou Chico Buarque”. Mas o editor, após consultar o jurídico, sugeriu que fosse alterado o título, para evitar problemas com a imagem de Chico Buarque. “Foi então que realizei uma enquete no Facebook para a escolha definitiva a partir de títulos de contos que integram o livro. Foi uma experiência positiva, porque chamei meus seguidores para se agregarem ao projeto, para definir uma coisa importante. O público escolheu ‘A Paixão Mortal de Paulo’, do qual eu também gosto muito”, explica.
Essa interatividade Rinaldo já havia experimentado com o projeto do “Livro dos 1001 microcontos”, que escreveu de 2013 a 2016 no Facebook, com três a quatro postagens semanais, e cuja página ainda segue disponível na rede social. “Este livro que estou publicando agora são os 112 contos mais significativos entre 500 do “Livro dos 1001 microcontos”. Dos 500 (e 1) restantes farei mais à frente uma seleção rigorosa para publicar um segundo livro”, acrescenta.
Segundo ele, o projeto do “Livro dos 1001 microcontos” tinha, desde o início, este propósito mesmo: de ser um laboratório de escrita de contos breves, de ter a recepção instantânea do publico, para, depois, decorrido certo tempo, ser feita uma seleção severa para a escolha dos melhores textos para um livro impresso. “O ‘Livro dos 1001 microcontos’, assim, não é literatura ainda, é projeto de literatura. É um esboço, um borrão, um primeiro movimento para o texto literário. Embora nele já apareçam uns tantos contos bem realizados”, comenta.
Interatividade, aliás, que lembra os velhos folhetins, publicados em jornais do século XIX. Mas até que ponto essa interatividade é fundamental ou prejudicial à literatura? Rinaldo responde: “A interatividade que tive, no projeto do “Livro dos 1001 microcontos”, foi extraordinária – basta ver o número de curtidas e de comentários acerca dos textos na página do livro. Mas, como sempre, quando se trata do rigor ou da tessitura do texto literário, essa interatividade tem os seus limites. Tem o seu lado bom e o seu lado negativo. O lado bom é o estímulo, a energia que vem dos leitores que acompanham as postagens, os recados que eles transmitem para o autor. Os elogios também. Mas é aqui que reside o perigo. Se sinta regozijado com os elogios, mas desconfie deles, porque são instantâneos, feitos no calor da hora, de caso pouco pensado”.
Os contos de Rinaldo transitam entre uma abordagem sociológico, de viés até mesmo neonaturalista, e uma psicológica, de teor intimista, introspectivo. O novo livro prossegue nessa linha. Os contos trazem temas como o da violência urbana, o preconceito de classe e de cor, degradação moral na vida brasileira, assim como temas de ordem existencial, tais como desarmonias familiares, desencontros amorosos, paixões, solidão.
Mestre nas narrativas longas, Rinaldo, que é maranhense radicado na Paraíba, sente-se desafiado escrevendo narrativas curtas. “O miniconto é um exercício muito difícil. Ele contém todos os elementos do conto, mas tudo de modo extremamente compactado. Prima pela sugestão, pelo não dito. No miniconto não raro o não dito, o subtexto, é muito mais importante do que o dito, o texto”, observa. O autor finalizou seu novo romance e devo lançá-lo ano que vem. A obra fecha uma Trilogia do Trágico Familiar, que começou com Rita no Pomar e seguiu com Romeu na Estrada.
Linaldo Guedes é poeta, jornalista e editor. Com 11 livros publicados e textos em mais de trinta obras nos mais diversos gêneros, é membro-fundador da Academia Cajazeirense de Artes e Letras (Acal), mestre em Ciências da Religião e editor na Arribaçã Editora. Reside em Cajazeiras, Alto Sertão da Paraíba, e nasceu em 1968.