Nonato Guedes
As projeções, análises e levantamentos de cientistas políticos e de institutos especializados em pesquisas eleitorais indicam que os prefeitos que disputam a reeleição em capitais brasileiras tendem a ser privilegiados quanto às intenções de voto por causa da visibilidade que estão tendo na fase de calamidade decorrente da pandemia do coronavírus. Eles estão na linha de frente das ações emergenciais de enfrentamento à Covid-19, constantemente evidenciados pelas decisões que tomam sobre flexibilização de funcionamento de atividades essenciais ou sobre recuos táticos em casos de descontrole da situação da doença. “Os candidatos que já têm domínio da máquina pública acabam tendo uma vantagem exacerbada devido ao estado de calamidade”, afirmou ao site “Congresso em Foco” o cientista político e diretor da Metapolítica Consultoria, Jorge R. Mizael, acrescentando: “As eleições de 2020 devem consolidar a tendência de continuidade”.
Esse prognóstico tem sido feito aleatoriamente pela Confederação Nacional dos Municípios, entidade que agrega Federações Municipalistas de Estados como a Paraíba, com a ressalva de que, independente da pandemia do coronavírus, a tendência pró-reeleição já era uma realidade em um número expressivo de localidades brasileiras, contemplando os mais diversos partidos, num espectro que vai da direita à esquerda e ao centro. A ação de prefeitos que estão nos cargos é fortalecida pela autonomia que passaram a dispor no tocante às medidas emergenciais de socorro à população durante a epidemia. Aliás, tem sido grande a polêmica gerada por essa autonomia, que é conferida, também, a governadores, sendo frequentes os choques entre estes e os gestores municipais não aliados. Ainda ontem, o prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues (PSD), que está concluindo o segundo mandato, criticou a ingerência do governador João Azevêdo (Cidadania) nas suas atribuições e disse, enfático, que não deve obediência ao chefe do Executivo paraibano.
Há exceções no cenário em andamento, conforme o panorama das pesquisas. Pelo menos dois prefeitos candidatos à reeleição estão mal colocados perante os respectivos eleitores em cidades importantes e estão distantes da liderança na corrida para as urnas: Marcelo Crivella, do Republicanos, no Rio de Janeiro, e Nelson Marchezan Júnior, do PSDB, em Porto Alegre. Marchezan tem 9% das intenções de voto na capital gaúcha, amargando uma quarta posição, enquanto a candidata Manuela D’Avila (PCdoB), de espectro ideológico oposto à atual gestão, lidera a disputa com 24% intenções de voto. No Rio, Marcelo Crivella passou a figurar em segundo lugar numa pesquisa Ibope realizada entre os dias 13 e 15 de outubro, mas a distância para o primeiro colocado – o ex-prefeito Eduardo Paes, do DEM, é de 18 pontos percentuais. Crivella ainda tenta manobra desesperada para contar com o apoio do presidente Jair Bolsonaro e, com isso, galvanizar votos, chegando ao segundo turno.
Em São Paulo, a disputa está acirrada e já alternou posições entre o atual prefeito Bruno Covas e Celso Russomano, o que cria uma zona de sombra para os cálculos de analistas políticos. Em termos concretos, de 13 prefeitos candidatos à reeleição em capitais, 11 lideram pesquisas, conforme o Ibope, o que reforça a prevalência do sentimento de continuidade. Com 59% das intenções de voto, o atual prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, do PSD, seria eleito ainda em primeiro turno se as eleições fossem realizadas hoje. A distância de Kalil para o segundo colocado, João Vítor Xavier (Cidadania) foi estimada em mais de 50 pontos percentuais – o segundo colocado tem apenas 7% das intenções de voto. Em Curitiba, Rafael Greca, do DEM, candidato a outro mandato, tem 46% das intenções de voto. Em Florianópolis (SC), Gean, do DEM, possui 44% das intenções. Em Campo Grande (MS), Marquinhos Trad, candidato do PSD, está isolado na liderança com 41%. A atual prefeita de Palmas (TO), Cintihia Ribeiro (PSDB) desponta com 36% das intenções de voto e estão em situação confortável o prefeito de Natal, Álvaro Dias (PSDB), com 33% das intenções e de Aracaju, Edvaldo (PDT), com 34%.
Mesmo com o pleito municipal adiado de outubro para novembro, a situação de pandemia no país impede aglomerações e a realização de eventos com grandes concentrações típicas do período eleitoral. Nas últimas semanas, à medida que se aproxima a reta final, regras sanitárias têm sido quebradas por candidatos e apoiadores, inclusive em João Pessoa, o que desencadeia polêmicas e eleva o tom de radicalização entre concorrentes, partidos e seguidores. O cientista político Jorge Mizael alerta que pode haver um componente de comodismo no voto do eleitor em 2020. “Não tem tanta aversão ao novo, mas há um certo comodismo”, previne ele. A hora da verdade está mais perto do que se imagina.