Nonato Guedes
O candidato a prefeito de João Pessoa Cícero Lucena (PP), que na última pesquisa Ibope-TV Cabo Branco liderou intenções de voto de parcelas do eleitorado na corrida para o pleito de 15 de novembro, passou a “explorar” no Guia Eleitoral e em outras intervenções inerentes ao processo de disputa suas alegadas vantagens para administrar a Capital paraibana no pós-pandemia do coronavírus. Cícero parte do pressuposto de que a calamidade sanitária ocasionará consequências econômicas e sociais que demandarão respostas eficientes e rápidas da futura gestão. E, desse ponto de vista, exibe o próprio currículo para reforçar o argumento de que é o mais preparado numa competição em que 14 pessoas cobiçam esse troféu.
Lucena foi prefeito de João Pessoa por duas vezes, inicialmente eleito em 1996 e reeleito em 2000. Foi vice-governador do Estado a partir de 1991 e governador do Estado por dez meses, sucedendo a Ronaldo Cunha Lima, quando este se afastou para concorrer ao Senado em 1994. Ocupou secretaria no governo de Cássio Cunha Lima e foi secretário de Políticas Regionais, com status de ministro, no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. Enfim, exerceu mandato de senador, ocupando posto relevante na hierarquia administrativa do Congresso. A atuação parlamentar favoreceu ações e iniciativas suas junto a ministérios e órgãos do governo federal para liberar pleitos de interesse da Paraíba e conseguir a liberação de recursos de urgência para o Estado.
O discurso de Cícero na atual disputa à prefeitura de João Pessoa é pautado na luta para conciliar experiências concretas que ele vivenciou na administração pública com a sensibilidade para gerir desafios, administrar contenciosos em conjunturas atípicas como a que se seguirá à passagem do coronavírus. Como prefeito, a sensibilidade social de Lucena foi evidenciada na extinção do chamado Lixão do Róger, que constituía nódoa na paisagem urbana de João Pessoa e um impasse permanente para administradores que passaram pelo Paço Municipal. Além de viabilizar o fim do Lixão, extirpando a chaga que envergonhava a Capital de todos os paraibanos, Cícero valeu-se da passagem pela construção civil para investir em projetos modernos de reciclagem e destino de resíduos sólidos espalhados pelo território pessoense. Se não viabilizou soluções definitivas, proporcionou soluções embrionárias para estágios avançados de tratamento dos detritos e outros elementos de poluição. Nem os adversários mais ferrenhos negam-lhe as intervenções que executou nesse terreno.
Em relação à passagem pelo governo do Estado, Cícero foi figura de destaque, ao lado do ex-governador Ronaldo Cunha Lima, na luta pela reabertura do Paraiban, o banco estatal de fomento ao crédito que havia sido alvo de liquidação extrajudicial no governo de Tarcísio Burity, num ato de força empreendido pelo Planalto, então ocupado pelo ex-caçador de marajás Fernando Collor de Mello. A Paraíba foi testemunha da luta árdua empreendida por Ronaldo e Cícero, com o respaldo da bancada na Câmara e no Senado, para redimir o Estado da pena que sofreu, com a volta de um patrimônio sagrado e indispensável para o desenvolvimento da economia paraibana e para a oferta de empregos a segmentos sociais.
A reabertura do Paraiban foi uma luta titânica porque havia notória má vontade da cúpula de poder encastelada em Brasília, a pretexto de que certos bancos estatais haviam se tornado inviáveis por terem se transformado em instrumentos de favorecimento político de grupos ligados ao poder, não cumprindo com finalidades sociais que beneficiassem a coletividade em si. Não era um diagnóstico totalmente errado porque havia, de fato, ingerência política, com desvio da função que bancos estatais deveriam cumprir. Mas havia margem de manobra e, portanto, espaço, para o diálogo sobre a reabertura em condições aceitáveis. A Paraíba, pela palavra do governador, do vice-governador, dos senadores e deputados, comprometia-se a “enxugar” custos e tomar outras medidas para tornar o Paraiban funcional, exequível. Esse compromisso acabou pesando proativamente para a reabertura do banco, festejada nas ruas da Paraíba em clima de “Copa do Mundo” pela relevância que tudo simbolizava para o roteiro de conquistas do seu povo. No meio do enredo avultava a figurava de Cícero como peça decisiva na concepção de um novo banco.
São fatos concretos, indesmentíveis, que já pertencem à História. E, na medida do possível, como candidato a prefeito, Cícero Lucena procura mostrar que quem contribuiu para iluminar caminhos que se confundiram com o breu numa fase decisiva da história da Paraíba está preparado para tomar a frente de outro desafio não menos grave: recolher os feridos da “guerra da pandemia”, mobilizar forças, canalizar recursos financeiros e viabilizar um pós-pandemia menos traumático na Capital de todos os paraibanos. Terá o apoio do governador, que o adotou como candidato, facilidade para empolgar representantes do povo do Estado no Congresso para lastrear seus movimentos e perspectiva de canal de interlocução com o próprio Planalto para mitigar a rotina do “pós-guerra” na Capital. É por essa senda, segundo foi dito, ontem, ao colunista, que Cícero vai enveredar no discurso da reta final do primeiro turno da atipícissima campanha eleitoral que está sendo travada na Paraíba, como, de resto, em todo o país.