Nonato Guedes
É fora de dúvidas que o desempenho do radialista Nilvan Ferreira do Nascimento, natural da cidade de Cajazeiras, nas pesquisas de intenção de voto para a prefeitura de João Pessoa, constituiu o grande fenômeno da disputa este ano na Capital, pontuada não apenas pela atipicidade do formato, devido ao coronavírus, mas pela inflação de postulantes (mais de uma dezena). De largada, Nilvan, um neófito que concorre pelo MDB, logrou polarizar a disputa com um político veterano, o ex-prefeito por duas vezes e ex-senador Cícero Lucena, que também foi governador do Estado. Estacionou em 15% – não avançou nem perdeu pontos. Mas, com isso, bloqueou a ascensão de pelo menos cinco candidatos que se engalfinham para conquistar pelo menos o segundo lugar, entre os quais um ex-prefeito eleito por duas vezes, Ricardo Coutinho (PSB) e um ex-candidato a prefeito, Ruy Carneiro (PSDB), que há 16 anos foi batido nas urnas por Coutinho.
A performance de Nilvan daqui para a frente é uma incógnita para analistas políticos. E a grande dúvida consiste em saber se ele tem bala na agulha para avançar e até ultrapassar o primeiro colocado até agora, Cícero Lucena, ou se já foi longe demais no seu limite e corre o risco de entrar naquela faixa em que os votos vão minguando. A indagação é pertinente devido ao próprio acirramento verificado na reta final da campanha. Ricardo Coutinho criou um fato novo ao atrair o apoio ostensivo do ex-presidente Lula, que renegou o candidato próprio do PT, Anísio Maia. A candidata do esquema do prefeito Luciano Cartaxo, Edilma Freire (PV) reagiu de forma vegetativa no espaço entre duas pesquisas do Ibope e postulantes como Ruy Carneiro, Raoni Mendes (DEM) e Wallber Virgolino (Patriota) radicalizaram no tom do discurso, como derradeira estratégia para sensibilizar indecisos porventura expressivos no universo do eleitorado pessoense.
De origens humildes e com um discurso centrado na denúncia das desigualdades sociais, em meio ao compromisso de reduzir abismos entre segmentos da população, Nilvan adiciona à pregação sugestões para uma gestão de resultados no pós-pandemia, a exemplo da criação do que ele tem denominado de “banco da retomada”, que financiaria pequenos empreendedores, com facilidades para o reinício de ações produtivas que tiveram que ser paralisadas devido às restrições impostas pela crise epidemiológica. No conjunto, as propostas ainda são vagas, por mais que o candidato alardeie estar montando uma equipe técnica de alto nível para assessorá-lo em tarefas sobre as quais não tem domínio. Mas a carta de intenções, de algum modo, surte efeito junto a fatias de segmentos mais desfavorecidos da população.
O grande trunfo de Nilvan para se impor no cenário político pessoense, onde até ex-governadores foram sacrificados em disputas memoráveis, reside, seguramente, na sua forma peculiar de comunicação com o eleitorado, técnica desenvolvida naturalmente no seu mister como radialista. A fama e visibilidade adquiridas por ele forjaram-se no papel de âncora de programas de debates, entrevistas e comentários sobre os problemas do cotidiano da antiga Felipéia de Nossa Senhora das Neves em emissoras como a Arapuan ou 98 FM, além de espaços na televisão, com viés populista. A abertura de espaço para denúncias corriqueiras de problemas foi enfronhando Nilvan no conhecimento das carências de João Pessoa não contempladas pelo Poder Público. E a identificação com questões inclusive complexas foi se firmando no aprofundamento das informações e nas discussões sobre alternativas às demandas.
A passagem pelos microfones de emissoras de rádio e televisão abriu espaço para captar as mensagens sobre o que é realmente urgente para o povo e o que é absolutamente secundário, descartável até. Para isso foi fundamental a sua sensibilidade alimentada por raízes humildes, bem como a sua obstinação de sertanejo em vencer obstáculos, superar adversidades. Tem resumido tudo numa expressão: “vou derrubar muros e construir pontes”, o que cria expectativas junto a parcelas da sociedade que têm esperado até demais a chance de se incorporar ao modelo de desenvolvimento da Capital de todos os paraibanos, enquanto são excluídas, concretamente, dos projetos que saem das pranchetas oficiais. Nilvan teve uma remota militância estudantil em Cajazeiras e chegou a dirigir o PCdoB municipal, tendo sido assediado para candidatar-se a vereador em duas eleições consecutivas na Capital. Resistiu às abordagens. Parecia estar sonhando longe – com a prefeitura, por exemplo.
Para o MDB do senador José Maranhão, a candidatura do comunicador foi um achado valioso. O partido vinha experimentando declínio inerente a agremiações que envelhecem no quadro político e se mostram incapazes de se reciclar ou de oxigenar quadros e ideias. Nilvan foi aceito como uma aposta que poderia prosperar pelo “recall” de sua atuação em programas de rádio e TV. O senador José Maranhão calculou que não teria nada a perder – pelo contrário, poderia sair ganhando. Cansara-se da posição coadjuvante do partido, que vinha sendo tratado como “fornecedor de nomes” para vice-prefeito. Fez-se a candidatura a prefeito, com Nilvan. E, independente do desfecho, o cenário político na Capital já não é mais o mesmo. Esta, a grande ilação que não passa desapercebida a gregos e troianos que avaliam com “lupa” as oscilações que demarcam a volubilidade de tendência do eleitorado pessoense. O radialista de Cajazeiras já embolou o meio de campo na Capital das Acácias.