Nonato Guedes
Enquanto ainda se desenrola a campanha eleitoral para prefeitos em Capitais e cidades brasileiras, previstas em primeiro turno para o dia 15 próximo, as expectativas de políticos do nosso país se dividem, hoje, com as eleições presidenciais nos Estados Unidos, onde estará em jogo mais um mandato para o republicano Donald Trump, que enfrenta o democrata Joe Biden. Representantes da oposição brasileira dizem que uma possível derrota do presidente americano significaria o fim da “onda populista” que varreu o mundo nos últimos anos. E que isto forçaria o Brasil a rever seu comportamento no plano externo. Os aliados do presidente Jair Bolsonaro evitam polemizar sobre o tema. Quando mencionam o assunto em redes sociais, destacam acusações contra Biden.
Nos últimos dias, pesquisas de intenção de voto têm mostrado ampla vantagem de Biden sobre Trump, mas nas últimas horas ganharam corpo as versões de que o presidente Donald Trump tentará judicializar o resultado, apelando para a Suprema Corte, onde ampliou sua influência. Trump se prepara para alegar suspeitas de roubo em caso de derrota, mas é imprevisível a reação a uma orquestração desse tipo. Assim como o Brasil, os Estados Unidos são uma república presidencialista, mas, diferentemente daqui, lá o voto não é direto. O presidente é eleito por um colégio eleitoral formado por delegados eleitos em cada um dos Estados americanos. Bolsonaro nunca escondeu alinhamento com Trump, mas a relação esfriou depois de alguns atos de hostilidade tomados pelos EUA contra o Brasil na sua política externa.
O conflito de interesses entre os dois países não arranhou, porém, a afinidade ideológica dos bolsonaristas com Donald Trump, conhecido pelas posições extremadas de direita e pelo tom belicoso adotado com nações e segmentos sociais do seu país. O petista José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil de Lula e um dos principais formuladores do PT, declarou em entrevista a um canal no You Tube: “O que está acontecendo hoje é que nós (esquerda) sofremos realmente uma derrota estratégica. Mas revertemos na Argentina (com a eleição do peronista Alberto Fernández em 2019), no Uruguai, com a vitória no departamento de Montevidéu em setembro, no Chile, com a revogação da Constituição pinochetista, e com insurreições no Equador e na Bolívia. Então, se vê que a correlação de forças não é, assim, uma virada histórica conservadora”.
O atual líder da oposição na Câmara, deputado André Figueiredo (PDT-CE), vai mais além: “Nós temos um presidente que resolveu, logo após a posse, tentar transformar o Brasil numa neocolônia dos Estados Unidos, apoiando integralmente quaisquer decisões que viessem do presidente americano, acompanhando totalmente a política externa dele. Isto é muito ruim para o Brasil, que sempre teve uma imagem de país conciliador, de país que tinha um diálogo aberto com todos os governos do mundo, da esquerda à direita”. Figueiredo, que foi ministro das Comunicações no governo de Dilma Rousseff, relativiza, porém, a influência, no Brasil, do resultado da eleição presidencial americana, perguntando e respondendo: “Quais foram as vantagens que o Brasil teve nestes dois anos de convivência entre o presidente americano e o seu seguidor brasileiro? Nenhuma. Muito pelo contrário. O Brasil entregou para os americanos a base de Alcântara, no Maranhão, e até hoje não houve um investimento americano, um benefício qualquer para o Brasil”.
A líder da bancada do PSOL na Câmara, Sâmia Bomfim (SP), afirmou à BBC News: “Vai ser muito importante se as urnas confirmarem a derrota de Trump. Primeiro porque Bolsonaro e Trump têm um alinhamento ideológico muito afinado, representam o mesmo projeto de poder, um projeto autoritário e conservador. E depois, porque o Bolsonaro impõe ao Brasil uma política externa completamente subordinada aos desejos da Casa Branca comandada pelo Trump. A gente cria problemas diplomáticos e comerciais com outros países por causa do que o Trump indica para Bolsonaro e para seu ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo”. Joe Biden foi vice-presidente de Barack Obama por oito anos e é considerado um político experiente. Se for eleito, será o mais velho presidente da história americana (estará com 78 anos em 2021).
Manuais publicados por sites noticiosos de credibilidade orientam que a contagem de votos pode demorar vários dias, mas geralmente o resultado fica claro nas primeiras horas do dia seguinte à eleição. Em 2016, Donald Trump fez seu discurso de vitória por volta das três horas da manhã em Nova Iorque diante de uma plateia em êxtase. Mas autoridades estão alertando que o aumento no número de votos por correio pode significar que neste ano o resultado sairá dias ou semanas depois da eleição. A última vez que um resultado incerto durou dias foi em 2000, quando a decisão foi confirmada pela Suprema Corte um mês depois do pleito.