Nonato Guedes
Faltando poucos dias para a realização do primeiro turno das eleições de prefeito, constata-se que não há sinais de interferência do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na disputa travada em João Pessoa. Há um candidato que se apresenta ostensivamente como bolsonarista – o deputado Wallber Virgolino, do Patriota, que exibe “flash” de imagem ao lado do presidente da República. Mas ele não é considerado oficialmente candidato de Bolsonaro, até porque há outros postulantes identificados com o capitão, num arco que vai de Raoni Mendes, do Democratas, ao radialista Nilvan Ferreira, do MDB. De sua parte, Bolsonaro tem feito declarações esparsas de apoio em algumas Capitais. De apoio, não de engajamento, uma vez que, segundo as versões, ele estaria se preservando para ser ativo no segundo turno em redutos avaliados como estratégicos para a medição de forças com adversários.
Aliás, de acordo com as últimas informações, baseadas em pesquisas realizadas pelo instituto Datafolha, candidatos supostamente apoiados pelo presidente, como Celso Russomano, em São Paulo, e Marcelo Crivella, no Rio de Janeiro, estão amargando derretimento de percentuais de intenção de voto ainda no primeiro turno. Em São Paulo, o atual prefeito Bruno Covas, do PSDB, aparece isolado na liderança, em meio a um cenário considerado embolado, enquanto no Rio projeta-se, sem maior dúvida, a vantagem de Eduardo Paes, do DEM. O presidente inventou de se envolver nessas disputas por teimosia, já que conselhos não faltaram para que ele mantivesse equidistância, poupando-se para futuras coalizões de que necessitará para forrar o esquema de sustentação da própria candidatura à reeleição em 2022.
Em relação a João Pessoa, o fato concreto é que a eleição de 2020 não está nacionalizada, o que explica a posição de Bolsonaro como não alvo do processo, ou seja, ileso a maiores discussões ou controvérsias sobre os passos da administração, especialmente no capítulo referente ao combate à pandemia do coronavírus, que desperta críticas acirradas de alguns setores. Por outro lado, quem poderia fazer contraponto a Bolsonaro em nível nacional – o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, envolveu-se numa saia justa na capital paraibana ao pedir votos, em vídeo, para o candidato do PSB, o ex-governador Ricardo Coutinho, desprestigiando o candidato próprio do PT, o deputado estadual Anísio Maia, que, inclusive, está ameaçado de expulsão por insistir na pretensão, não obstante tenha tido vitórias consecutivas na Justiça sobre a legitimidade da candidatura, em coligação com o PCdoB.
O quiproquó armado nas hostes petistas pessoenses, sem sombra de dúvidas, prejudicou um crescimento da candidatura de Anísio Maia, até em virtude do bombardeio sistemático a que ela é submetida pela cúpula nacional do partido, orientada por Lula e presidida pela deputada Gleisi Hoffmann, que chegou a insinuar ser o petista paraibano “laranja” do governador João Azevêdo, do Cidadania. Azevêdo declarou apoio e compromisso com a candidatura do ex-senador Cícero Lucena, do Progressistas, e o seu partido indicou Léo Bezerra como candidato a vice na chapa de Lucena. A intervenção do PT nacional na disputa em João Pessoa acabou mesmo confundindo o eleitorado e bloqueando receptividade maior à candidatura de Ricardo Coutinho, em si mesmo desgastada por processos judiciais em tramitação no âmbito da Operação Calvário, que trata do desvio de recursos da Saúde quando ele era governador do Estado.
Os postulantes identificados com o governo Bolsonaro, incluindo-se ainda o deputado federal Ruy Carneiro, do PSDB, e mais outros nomes, ficaram privados de tentar tirar proveito de uma provável relação de aproximação com o presidente da República, no sentido de insinuar canais privilegiados em Brasília para encaminhamento das demandas de interesse da população pessoense, o que poderia reverter votos num dos páreos mais concorridos de todos os tempos da história política da Capital paraibana. A discussão que tem avultado no Guia Eleitoral em João Pessoa é mesmo sobre os desafios da governança a partir de janeiro, plebiscitando-se diretamente a administração do prefeito Luciano Cartaxo (PV), há oito anos no poder, e que tem na candidata Edilma Freire a perspectiva de continuidade do legado administrativo de quase uma década.
Se tiver que dar as caras pela Paraíba num segundo turno, este ano, Bolsonaro talvez tenha que se desdobrar entre João Pessoa e Campina Grande. Na Rainha da Borborema, o principal aliado político do presidente na Paraíba, o atual prefeito Romero Rodrigues, do PSD, aposta todas as fichas na vitória do seu candidato, o ex-deputado estadual Bruno Cunha Lima. Que já foi afagado por Bolsonaro na passagem por Campina, este ano, a caminho do interior de Pernambuco. Romero cogita ser candidato a governador em 2022 e sonha com uma dobradinha com Bolsonaro em alto estilo. A conferir!