Nonato Guedes
Ao contrário de outros líderes mundiais, o presidente brasileiro Jair Bolsonaro, apelidado de “Trump dos trópicos” no exterior, não divulgou nenhuma reação até ontem sobre a vitória do democrata Joe Biden nas eleições para presidente dos Estados Unidos, derrotando o presidente Donald Trump, que pleiteou a reeleição. O presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia (DEM) e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB) parabenizaram Joe Biden pelo resultado. Bolsonaro é tido como fã declarado de Donald Trump. Rodrigo Maia escreveu no Twitter: “A vitória de Joe Biden restaura os valores da democracia verdadeiramente liberal que preza pelos direitos humanos, individuais e das minorias”.
Ao longo da semana, Bolsonaro, que implementou uma política externa personalista e alinhou seu governo fortemente a Donald Trump, disse em diversas oportunidades que estava torcendo pela vitória republicana, um gesto que contrastou com seus antecessores, que evitaram se posicionar sobre assuntos internos dos Estados Unidos. “A gente tá aqui com o coração na mão com o que está acontecendo nos Estados Unidos”, disse Bolsonaro para apoiadores em frente ao Palácio Alvorada na quarta-feira, enquanto o cenário já começava a parecer desfavorável para seu aliado. “A esperança é a última que morre”. Mais cedo, no mesmo dia, ele também disse: “tenho uma boa política com o Trump, espero que ele seja reeleito”.
Seu ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, outro fã declarado de Trump, também não fez nenhum comentário sobre a derrota do republicano. Em 2017, Araújo escreveu um artigo intitulado “Trump e o Ocidente”, no qual teceu loas ao mandatário americano, apontando que o via como uma espécie de cruzado que poderia resgatar o Ocidente. Segundo a rede CNN Brasil e o jornal O Globo, o Planalto já vinha desenhando ao longo da semana cenários para uma eventual judicialização do resultado nos Estados Unidos, com o republicano contestando uma derrota nos tribunais. De acordo com a CNN, o governo brasileiro deve esperar a conclusão de uma provável judicialização da eleição americana para reconhecer o vitorioso.
Um dos filhos do presidente brasileiro, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) vinha se manifestando a favor de Trump, chegando a compartilhar publicações que tentam minar a confiança no processo eleitoral americano. Eduardo ainda declarou que a “esquerda é bem organizada em nível mundial, por isso é importante acompanhar as eleições dos Estados Unidos. O que acontece por lá pode se repetir aqui”. Em 2018, Eduardo chegou a aparecer publicamente com um boné “Trump 2020” durante uma visita a Washington, depois que seu pai já havia sido eleito. Durante a campanha, o governo Bolsonaro chegou a dar ajuda indireta para a campanha de Trump, como na visita do secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, ao estado de Roraima, próximo da fronteira da Venezuela, em setembro.
Horas após a projeção da vitória do democrata Joe Biden, o presidente Jair Bolsonaro fez uma live surpresa nas redes sociais e não fez qualquer menção à eleição norte-americana, Biden ou ao presidente Donald Trump. Ao lado da candidata ao Senado à eleição suplementar no Mato Grosso, capitã Fernanda, Bolsonaro falou por 30 minutos. Além de ignorar Biden, disse que ainda não decidiu se vai tentar a reeleição em 2020. O presidente, no entanto, fez um apelo a seus apoiadores para que não desperdicem o voto nas eleições para prefeito e vereador, marcadas para 15 de novembro, e lamentou que a América doi Sul esteja sendo “pintada de vermelho”. Os ex-presidentes Michel Temer, Dilma Rousseff, Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Collor de Melo congratularam Biden pela eleição. Eles comentaram o resultado das eleições americanas em suas contas no Twitter. Temer lembrou encontro que teve com o norte-americano e destacou reunião que teve com Biden logo após ter assumido a Presidência em setembro de 2016 na sede da ONU em Nova York nos Estados Unidos, a convite do governo americano. Dilma Rousseff comentou que a eleição de Biden é uma vitória do povo americano e apontou como fato relevante a eleição da primeira mulher negra, Kamala Harris, para a vice-presidência.