Nonato Guedes
A Fundação Espaço Cultural José Lins do Rêgo, de João Pessoa, homenageia, hoje, às 20h, a memória do teatrólogo paraibano Vicente de Paula Holanda Pontes, o Paulo Pontes, que completaria 80 anos de idade nesta data. Em parceria com a Companhia Galharufas de Teatro, a Funesc apresentará leitura encenada do texto “Um Edifício Chamado 200”, numa adaptação feita especialmente para a ocasião. A direção é de Suzy Lopes, Tony Silva e Leo Palma. A exibição acontece às 20h no canal TV Funesc no Youtube.
Paulo Pontes era considerado um dos maiores nomes da dramaturgia brasileira. No elenco da encenação-homenagem de hoje estão Pedro Delgado, Fernanda Maranho, Erika Paz, Renã Herbert e Elias Matias. A gravação foi feita no Teatro Paulo Pontes, que leva este nome em homenagem ao autor de textos como “Gota D’Agua”, que ele assinou em parceria com Chico Buarque de Holanda. “Para o teatro e a cultura brasileira, a morte de Paulo Pontes, de câncer, no dia 27 de dezembro, fez do ano de 1976 uma espécie de peça truncada, censurada, de espetáculo interrompido”, afirmou o escritor e jornalista Antonio Callado em prefácio à “Coleção Testemunhos”, da editora Versus, que reverenciou a figura do dramaturgo nascido em Campina Grande.
A morte precoce de Paulo, aos 36 anos, chocou os meios intelectuais e sociais pelo reconhecimento ao imenso talento do teatrólogo paraibano. A peça “Um Edifício Chamado 200” foi o maior sucesso de Paulo Pontes e valeu-lhe, em São Paulo, o prêmio “Autor Revelação”, em 1972. Ainda em 1971, Paulo roteirizou o show Elizeth Cardoso, com direção de Bibi Ferreira, com quem foi casado, e deu início à adaptação do romance O Senhor Presidente, do guatemalteco Miguel Ángel Astúrias. Em 1972 escreveu para Ziembienski a comédia dramática “Check-up” baseada em sua experiência no hospital. Também escreveu em 1972 “Dr. Fausto da Silva”, que estreia no Rio de Janeiro sob a direção de Flávio Rangel, uma releitura da obra clássica de Goethe. Traduziu e produziu, em São Paulo, “O Homem de La Mancha”, com Bibi Ferreira e Paulo Autran, montada por Flávio Rangel.
Muitos dos conceitos emitidos sobre a necessidade de conectar o teatro ao povo foram defendidos por Paulo Pontes em inúmeras conferências, para as quais era invariavelmente convidado, dentro e fora do circuito universitário-cultural. Os princípios que norteavam o seu teatro eram resumidos por alguns críticos na valorização da comédia de costumes e nas reflexões sobre a realidade nacional, usando a linguagem popular. Em 16 de julho de 1974, Paulo perdeu “Vianinha”, seu melhor amigo, vitimado por câncer no pulmão, e com a morte dele foi convidado pela Rede Globo para substituir o amigo nos roteiros do seriado A Grande Família, em parceria com Armando Costa. Paulo padecia de um câncer no estômago e estava se tratando da doença, mas a partir de 1976 a doença tornou-se mais agressiva. Foram necessárias várias internações. Ainda permaneceu 15 dias no Hospital Samaritano, no Rio. Foi sepultado no cemitério do Caju, no Rio, ao lado do túmulo do amigo Vianinha. Deixou inacabadas duas peças: “Senhor Presidente” e “O Dia em que Frank Sinatra Veio ao Brasil”, ambas em parceria com Chico Buarque.
Em 1982, a Paraíba homenageou o dramaturgo dando seu nome ao Teatro do Espaço Cultural em João Pessoa e ao miniteatro do Teatro Severino Cabral, em Campina Grande. Bibi Ferreira lembrou que foi no rádio que Paulo iniciou sua carreira, na função de locutor, na Paraíba, onde escreveu o musical chamado “Paraí-bê-a-bá”, que alcançou um sucesso extraordinário no Teatro Santa Rosa. “A censura sempre foi seu grande freio. Talvez seja por isso que ele tenha lutado tanto contra ela. Ele queria fazer um jornal popular, mas de medo que ele não passasse na censura, se reprimia um pouco”, narrou Bibi, acrescentando que a denominação do Teatro Paulo Pontes, no Espaço Cultural, em João Pessoa, foi um dos maiores tributos merecidamente conferidos ao dramaturgo. Chico Buarque, por sua vez, assim definiu seu convívio com Paulo Pontes: “Com ele, aprendi a lutar”.